Crise econômica mundial pode afetar turismo brasileiro
(foto: konkretaconstrutora.blogspot.com)
 
Ainda que algumas flores tenham germinado no cenário de crise que assola o Velho Mundo – com o anúncio na semana passada de que líderes europeus chegaram a um acordo para reforçar as regras fiscais e, espera-se, manter seus orçamentos em equilíbrio -, a oscilação na zona do euro pode ter sim efeitos perniciosos para a economia mundial – e, especula-se, o turismo não estará isento neste processo.
 
As incertezas geradas pelo descontrole das maiores economias do planeta tendem a minguar ainda mais o ingresso de turistas estrangeiros pelas terras tupiniquins. Na contramão disto, é mais provável que o capital internacional se distancie cada vez mais do País e, como é sabido, o brasileiro sinta-se copiosamente mais tentado a romper as fronteiras de sua terra para sacolejar a economia alheia.
 
Com o País em evidência e a moeda nacional robustecida, é mais do que esperado que as campanhas de Marketing se voltem cada vez mais para o cliente brasileiro – e, assim, o mercado nacional veja escorrer entre os dedos todas as possibilidades de fomentar a indústria turística que, mesmo com potencial, ainda vive na incipiência.
 
É notório que o turismo brasileiro passa por um tempo magnificente, estimulado cotidianamente pelo burburinho dos mundiais esportivos que o País vai sediar nos próximos anos – mesmo que esta anedota não tenha respaldo em dados concisos do que será o mercado pós tais eventos.
 
A primeira constatação, que soa enfadonha, é de que o alto valor do real tem escasseado turistas no País, tanto estrangeiros quanto domésticos – ou do nome que se queira dar. Uma diária num resort cinco estrelas no Nordeste brasileiro na alta temporada não sai por menos do que R$ 800 – quando num equivalente de outro destino, a exemplo do México, a mesma tarifa fica na casa dos US$ 150 (coisa de R$ 270).
 
No acumulado deste ano, mensurando até o mês de outubro pelo Banco Central, o déficit das viagens internacionais no País está na casa dos US$ 12 bilhões – com receita de US$ 5,16 bilhões e despesas de US$ 17,779 bilhões.
 
Some-se a isso a elevada carga tributária, a dificuldade do brasileiro de adquirir produtos importados por conta das taxas abusivas e o simples fato de o turista nacional querer conhecer outros destinos – que comumente são mais baratos do que sua própria nação. Não há, no plano dos fatos, como fazer desse limão uma limonada, e não é de se abismar que o setor grite por rearticulações para continuar corpulento.
 
Num esforço de leitura benigna, vale rememorar que o País vem ano a ano tendo o mercado corporativo como balaústre – e daí nascem os números que frequentemente são balbuciados com ligeira contração facial por instituições privadas e públicas do setor.
 
Neste cenário, é hora de mesclar as possíveis nuances que as crises nos países da zona do euro – e em terras norte-americanas também – podem deflagrar por essas paragens. A parceria recente da Delta Air Lines com a brasileira Gol Linhas Aéreas é prova de que o País é pretensamente uma fonte de renda no desenho das incertezas econômicas mundiais.
 
A hotelaria tem vivido cada vez mais a participação e a rijeza de redes estrangeiras – cujos negócios só fizeram crescer nos últimos anos. Isto, paradoxalmente, profissionalizou o mercado nacional e, em contrapartida, tem diminuído a participação das empresas nacionais do setor. Para se ter dimensão, a francesa Accor tem no Brasil seu segundo maior mercado – atrás apenas de seu país de origem.
 
Com a atual conjuntura, é de se esperar que o capital estrangeiro queira cada vez mais figurar no Brasil – mas não com tendências de gastos, e sim para ampliar os cofres – sejam públicos ou privados – de suas nações. Ainda que se gerem empregos, fomentem a economia do País e coloquem o mercado ainda mais nos holofotes internacionais, cabe ao Estado e até mesmo à iniciativa privada desacelerar ou não o carro – numa estrada que pode levar ao abismo a participação da economia brasileira em seu próprio setor turístico.