Copiosamente, Cidade Maravilhosa atinge maior diária média do País
(foto: Dênis Matos) 

Parafraseando a filosofia, o infortúnio se confirma primeiro em tragédia e depois em farsa.

Tragédia é constatar que as tarifas hoteleiras no Rio de Janeiro seguem com preços elevados, sendo comparadas aos maiores destinos do mundo, o que pode desenhar uma imagem de destino caro e sem contrapartida de infraestrutura, farpa a essa altura já incrustada no imaginário internacional quando se pensa em turismo no Brasil.

Farsa é, frente à constatação, o setor seguir estático e comprando a inverossímil leitura de que isto não vai afetar a indústria turística brasileira a longo prazo. Ledo engano.

As últimas semanas deixaram este recorte palpável, quando a ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Rio de Janeiro) divulgou comunicando dizendo que a Feira das Américas – Abav, que não será mais realizada na capital fluminense, não havia mudado de destino por conta dos preços cobrados durante o evento. Sem especulação alguma, a impressão é que a carapuça serviu, com o perdão pelo senso comum.

A justificativa da entidade quanto ao causo – única e parca, por sinal – é de que a maior feira do turismo da América do Sul tem há dez anos o Rio de Janeiro como sede e, por isso, é hora de dar tchau. Completa o coro a estória de que nos idos de 2006, em função de questionamentos de expositores da feira sobre a inviabilidade de manter o evento itinerante, foi assinado um acordo regendo a realização da Feira das Américas por uma década num destino tido como grande potencial turístico do País. E é só, obrigado.

A ABIH-RJ não apresentou números concisos que revelassem as tarifas praticadas durante o evento, fazendo comparativos com períodos anteriores do ano para, então, provar de fato que os preços não estavam abusivos. Tal material, esperava-se, poderia ser utilizado até mesmo com baliza no ano de 2011, já que de lá para cá houve tempo de se levantar tais dados e compactá-los num estudo. Era, no mínimo, o esperado como defesa – em se tratando de uma associação que tem, ou diz ter, a análise do mercado hoteleiro como seu cerne ontológico.

Para tornar a vociferação tangível, basta lembrar que havia hotéis, que se diziam upscale mas que estavam à beira de um econômico, cobrando tarifas de balcão na casa dos R$ 1,5 mil.

Para o chiste ficar mais jocoso, o Fohb (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil), entidade privada que tem em sua criação um viés voltado à pesquisa e à produção de dados sobre a indústria da hospitalidade, divulgou durante a feira o InFohb – com análises do primeiro semestre deste ano, no comparativo com o ano anterior. O Rio figura como a capital com diária mais cara durante o período, obrigado.

É a mesma labuta vivenciada em julho com a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), que se repete como se um antolho fosse aplicado ao coletivo do mercado hoteleiro e, pior, ao consumidor. Nessa ocasião, o governo federal pressionou e o imbróglio teve que ser desfeito com uma redução que passou dos 30% devido à pressão do Estado.

O próprio presidente do Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), Flávio Dino, escreveu em artigo recente – falando sobre o ocorrido na Rio+20 – que não é sensato que alguns tenham uma visão “curta” e “gananciosa” quanto o assunto é exasperar os preços. “Precisamos ter claro que preços exorbitantes nos setores de comércio e serviços poderão matar a galinha dos ovos de ouro“, escreveu o mandatário do Embratur.

Flávio Dino não abre mão, inclusive, de dizer que, se necessário, a postura funesta da avareza desmedida tupiniquim pode ser combatida com respaldo no Código de Defesa do Consumidor e na Lei de Defesa da Concorrência.

Será necessário, pois, que algo assim seja feito, porque às claras – e a Abav é só um demonstrativo – a mesquinhez vai predominar nos próximos grandes eventos mundiais anunciados. Os problemas persistem e, quando não, se agravam.