A lei que diz que hotéis podem ter de distribuir preservativos aos hóspedes, aprovada pelo Senado nesta semana e que aguarda sanção federal, transparece a precariedade da gestão que o Estado realiza no setor. Um projeto sem consulta alguma ao empresariado envolvido foi facilmente ratificado sem se observar a fundo qual o sinônimo disso para a hotelaria.
 
A priori é necessário rememorar o projeto que tornava obrigatória a disponibilização de 10% dos apartamentos com acessibilidade para portadores de deficiência. É de clareza solar que nenhuma instituição que se preze – seja esta privada ou pública – se colocou contra a medida. No entanto, em que se baseou esse número? Foi possível concluir que 10% das pessoas que viajam e fazem uso de meios de hospedagem são deficientes físicos? Houve coleta de dados estatísticos, ou o número representa um recorde infundado desenhado por Celso Russomano, autor do projeto? Perguntas que deveriam nortear o debate estão, até o momento, sem respostas.
 
No que tange à distribuição de camisinhas em hotéis a interrogação se repete. O senador Lindbergh Farias, que com uma emenda incluiu no texto do projeto hotéis e estabelecimentos similares, não respaldou sua proposta em dados concisos sobre o perfil do hóspede. Pouco se questionou qual é a porcentagem de clientes corporativos que os meios de hospedagem recebem, ou quantas crianças ou até mesmo famílias completas – que viveriam um constrangimento ao ter de tratar os pormenores do uso de preservativo com os filhos, quem sabe. Na carona dos preservativos há também um livro informativo, no qual o hoteleiro deverá elucidar as formas de prevenção das DST’s (Doenças sexualmente transmissíveis).
 
Básico ressaltar que o hotel não tem como direito nem responsabilidade a gestão da vida sexual de seu hóspede. Antes de mais nada, a criação de uma consciência – ou a falta dela – em relação ao uso de preservativos nas relações sexuais não é um fardo que deva ser atribuído à iniciativa privada. O custo da distribuição seria irrisório para os hotéis, é fato, e, realmente, é até nobre que o empresariado se posicione a favor do uso da camisinha. Contudo, o Estado não pode se eximir da pendência com projetos descabidos.
 
A insensatez fica mais visível quando os holofotes se voltam ao turismo sexual. A cada semana, operadores de turismo despejam nas cidades brasileiras milhares de homens europeus, que chegam em voos fretados especialmente às regiões Norte e Nordeste, em busca de sexo a preço módico, incentivando assim a prostituição – inclusive infantil. Distribuir camisinha para esses turistas como parte do “pacote de hospedagem tupiniquim” nada mais é do que corroborar com a imagem de um Brasil que lucra com a indústria do sexo mesclada à do turismo.
 
Se se pensar um pouco, fica tangível que esta penosa imagem seria fomentada, numa representação trágica e carnavalesca do turismo brasileiro – desencadeada por um germe que remete à festa, muita festa, com pierrôs embevecidos frente às promessas sedutoras de odaliscas virgens, num escandalizado desfile que disfarça de luxo a indigência de um povo.
 
Em tempos de divulgação de estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – afirmando que os aeroportos do Brasil não ficarão prontos para a Copa do Mundo de 2014 – e Virada Cultural Paulistana – na qual a população paulistana e os visitantes sofreram enormemente com a falta de estrutura das estações do metrô e da CPTM -, fica difícil acreditar que a pauta do turismo no Senado esteja voltada a camisinhas. Não há preservativo que evite tal retrocesso para o setor.