Visando atender projetos que foquem o turismo rural sustentável brasileiro, Daniel Brondi criou em 2003 a Ágere Hotelaria e Turismo, empresa que gerencia processos e consolida alianças para o desenvolvimento, a execução e o resultado de projetos de pequeno e médio porte.
 
Formado em Administração de empresas e especializado em Marketing de serviços e planejamento pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, Brondi acumula 12 anos na hotelaria e turismo. Atuou na Caesar Park Hotels & Resorts, Blue Tree Hotels, The Royal Palm Plaza, Salinas do Maragogi Resort e Refúgio Ecológico Caiman. Conheça um pouco mais sobre a Ágere na entrevista a seguir.
 
Por Chris Kokubo 
 

Hôtelier News:
De onde surgiu a idéia de fundar a Ágere?
Daniel Brondi: A idéia surgiu de um trabalho que eu desenvolvi no Mato Grosso do Sul na junção de três destinos: Pantanal, Bonito e a Serra da Bodoquena, em 2003. Nessa época eu era contratado pelo Refúgio Ecológico Caiman e na ocasião fui visitar os pólos regionais que compunham aquela região. Bonito era o principal concorrente regional do Pantanal. Quando cheguei por lá e conheci toda aquela maravilha, pensei: “Não, isso não é um concorrente, mas sim, um valor agregado”. A partir daí, começamos a buscar soluções para o desenvolvimento dessa parceria entre os três destinos.
 
Primeiro, conversamos com os empresários locais e criamos as parcerias. Isso tudo fazia parte da estratégia do planejamento do Refúgio Ecológico Caiman. A parceria resultou no roteiro turístico Pantanal-Bonito-Bodoquena, que hoje é bem consolidado no mercado nacional, mas principalmente no internacional. No Pantanal o roteiro é encabeçado pelo Refúgio Ecológico Caiman e em Bonito, pelo Hotel Wetiga (pronuncia-se Wetihá).
 
Entrada da Pousada Sede no Refúgio Ecológico Caiman
(foto: caiman.com.br)
 
Incluímos diversos passeios da região, como a flutuação no Rio Sucuri, a visita à Gruta do Lago Azul, que é o cartão postal de Bonito, e um trajeto na estrada off-road de aproximadamente 170 km, que liga Pantanal e Bodoquena. Estrategicamente posicionado no meio desta estrada, um atrativo que eu considero como um dos mais belos da região é a Fazenda Boca da Onça, em uma trilha de aproximadamente 4 km que passa por onze cachoeiras, chegando até a Cachoeira da Boca da Onça, a maior cachoeira do estado do Mato Grosso do Sul.
 
Nós tínhamos o grande desafio de encontrar uma empresa que pudesse fazer toda a operação e a logística desse roteiro, visto que ele é muito extenso, muito específico, que demandaria guias bilíngües, guias que soubessem outras línguas que não o inglês e o português. Foi aí que contamos com a parceria da Impacto, uma operadora pioneira no ecoturismo do Mato Grosso do Sul.
 
Todos os operadores com quem eu conversava mostravam interesse, mas eles sentiam dificuldade em operar o destino. É uma questão que precisamos resolver em praticamente todos os pequenos destinos do Brasil: mão-de-obra e experiência na operação turística de roteiros.
 
Devido a todos esses obstáculos, a Caiman montou a parceria e nós entregamos isso já pronto para o mercado dos operadores receptivos. De lá pra cá, esse roteiro tem crescido acima de 100% ao ano nos últimos três anos em relação ao número de passageiros estrangeiros.
 
 
Brondi em seu ambiente de trabalho
(fotos: Chris Kokubo)
 
HN: E a Ágere já existia nessa época?
Brondi: Em 2006, o meu contrato com a Caiman estava vencendo e o hotel ia passar por uma reestruturação e diminuir a oferta de apartamentos. Foi a partir daí então que eu decidi reposicionar a Ágere, que eu havia criado para prestar serviços exclusivamente ao Refúgio, focando no planejamento estratégico e desenvolvimento dos pequenos empreendimentos e pequenos destinos turísticos.
 
Foi partindo desse laboratório que eu percebi o quanto esses pequenos e médios destinos são carentes de planejamento, de visão mercadológica nacional e internacional e, acima de tudo, de pessoas que possam aglutinar a iniciativa pública, os empresários e a comunidade em prol desse desenvolvimento organizado e sustentável.
 
HN: Como foi trabalhar no Refúgio?
Brondi: A Ágere foi criada para atender a Caiman. Embora fosse um projeto pequeno, era algo de extrema importância para o Pantanal e para o proprietário da Caiman, que é um empresário renomado, um ativista ambiental muito forte.
 
HN: Quem faz parte da equipe da Ágere?
Brondi: Em 2006, quando deixei de prestar serviços exclusivos para o Refúgio Ecológico Caiman, comecei a buscar algumas pessoas que pudessem me ajudar a desenvolver a empresa. Foi aí que veio a Paloma Cavalcanti, uma pessoa muito voltada para políticas públicas, que tem mestrado em Políticas Públicas pela FGV, e é quem faz a coordenação executiva dos projetos de destinos.
 
A Solange Silva, da área de finanças e controladoria, professora do Senac-SP, amiga da época de Caesar Park Hotels, também se tornou uma das consultoras. E trouxemos também a Roberta Molteni, especialista em marketing e criação e, acima de tudo, uma pessoa que se envolveu bastante com a questão do turismo rural no Brasil, um dos nichos de mercado em que a Ágere tem atuado e quer se desenvolver ainda mais. Eu acredito muito no potencial do turismo rural brasileiro e estou me esforçando para poder desenvolver esse nicho de mercado.
 
Roberta Molteni, uma das
consultoras da Ágere

(foto: divulgação)

 

HN: Como você a define?
Brondi: A Ágere é uma empresa de planejamento e gestão, uma das poucas empresas de planejamento hoje no país que faz o planejamento e o executa. Com isso a gente se compromete com o cliente. É uma forma de se diferenciar no mercado e de poder transferir a visão que temos para os pequenos e médios empreendimentos ou destinos turísticos.
 
HN: E como funciona a operação, o trabalho de vocês?
Brondi: Cada projeto demanda uma estrutura de equipe. Nós estamos procurando um local em que possamos realizar a gestão de marketing e vendas para os empreendimentos hoteleiros. Vamos contratar promotores de vendas e assistentes de marketing para poder dar esse suporte aos hotéis. Seremos o norteador da área comercial do hotel.
 
90% dos pequenos empreendimentos do país não conhecem planejamento, não sabem como lidar com planejamento. E ao mesmo tempo, têm essa carência de enxergar a médio e a longo prazos. A nossa consultoria vai nesse sentido, para que os hotéis possam prever novos investimentos, reestruturação, reposicionamento dos seus produtos e atuação em mercados nacionais e internacionais. Falo em coisas básicas, como desenvolver uma política comercial para os mercados nacionais e internacionais, políticas de cancelamento, políticas de pagamento, políticas de recebimento, tudo isso que ainda é novidade para muitos pequenos empreendimentos. Nós queremos profissionalizar esse setor.
 
Um exemplo prático: Se você pega quatro hotéis pequenos, com até 100 UHs, eles têm em suas estruturas comerciais algo em torno de quatro ou cinco profissionais: atendentes de reservas, promotores de vendas, um gerente. A nossa proposta é oferecer para essas estruturas um sistema de cooperação conjunta. Geralmente esses pequenos hotéis têm deficiência de mão-de-obra especializada, tem deficiência na questão na língua para atender os mercados internacionais, então ao invés desses três ou quatro hotéis terem essas estruturas de quatro ou cinco pessoas, a gente consolida uma estrutura única com essas 20 pessoas desses quatro hotéis.
 
 
Brondi apresenta o estudo que a Ágere realizou do Wetiga Hotel
 
Nós convertemos isso em uma estrutura onde temos quatro atendentes de reservas bilíngües, completamente treinados e capacitados para vender todos esses produtos, quatro ou cinco promotores de vendas atuando em cada região e em cada segmento de mercado, e uma estrutura de marketing e criação que a gente possa compartilhar. Com isso, diminuimos o custo dessas estruturas, o que é fundamental para os pequenos empreendimentos, e aumentamos um pouco a possibilidade em investimentos em marketing e vendas, ou seja, esses empreendimentos terão uma atuação mais agressiva no mercado, o que hoje só é possível para grandes redes hoteleiras.
 
Com o nosso trabalho, analisamos a empresa como um todo. Falamos com cada setor do hotel: restaurante, garçons, pessoal de lazer, diretoria, parte comercial, parte financeira. É necessário deixar claro que o hotel vai gastar mais, mas que está gastando para receber mais.
 
HN: Onde ficaria essa estrutura?
Brondi: A base principal do projeto ficará em São Paulo, atendendo mercado nacional e internacional. Serão hotéis independentes que não têm nada a ver um com o outro, que não concorrem entre si, que têm o mesmo perfil de categoria, em destinos diferentes. Por exemplo, a Fazenda Capoava em Itu, da Associação dos Roteiros de Charme, cliente nosso há pouco mais de um ano, que vem se desenvolvendo de forma muito positiva, e o Wetiga hotel em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Temos produtos no Rio Grande do Norte, na Bahia, no Rio Grande do Sul, todos sendo prospectados para esse ano ainda comporem essa primeira etapa do projeto.
 
HN: E quando esse projeto começa a ser concretizado?
Brondi: Depois que o Plano de Negócios da Ágere estiver pronto, que deve ser finalizado em maio. Ele depende do Plano de Negócios, que vai captar parceiros e investidores e possibilitar a implementação de todas as questões tecnológicas e de infra-estrutura para o departamento.
 
HN: O know-how que você tem vem do seu trabalho na hotelaria?
Brondi: Sim. Sou formado em Administração pela Fecap, fiz uma especialização em Planejamento pela ESPM, e desde que comecei no mercado da Hotelaria, me interessei muito por planejamento dentro da hotelaria. O turismo como um todo no Brasil ainda é tratado como uma indústria amadora. Nós temos visto o desenvolvimento e profissionalização dessa indústria, mas ainda temos um bom caminho a percorrer até nos considerarmos profissionais a ponto de superarmos outros países muito menores mas que desenvolvem o turismo de forma muito mais potencializada e mais séria.
 
O trabalho da Ágere nisso tudo é poder ajudar os pequenos e médios tanto na captação de recursos públicos, de recursos privados, na aglutinação das suas comunidades e na roteirização dos seus parceiros.
 
Serra da Bodoquena
(foto: riosvivos.org.br)
 
HN: Quem seria um mercado a ser seguido pelo Brasil, nessa questão de profissionalização do turismo?
Brondi: Um mercado pequeno e próximo que se desenvolveu de uma forma muito mais inteligente e rápida é a Costa Rica. Grande parte dos pequenos empreendimentos ou destinos tem um apelo ecológico.
 
Normalmente, nós vemos uma expansão hoteleira de forma desorganizada, então o que a gente pretende é atuar em pequenos pólos, fortalecendo esses destinos e trabalhando com os empresários locais. Vemos muitos estrangeiros comprando áreas no Brasil e construindo, construindo, construindo. Nós estamos um pouco na contra-mão disso, queremos entrar em uma parceria com os empresários locais, com o brasileiro, aquele que era dono de uma fazenda que hoje já não tem como se desenvolver na parte do agronegócio, mas que tem um potencial absurdo para se desenvolver no âmbito do turismo. Nós vamos mostrar para ele como e o quanto ele pode se beneficiar com esse desenvolvimento próprio. É nessa linha que a gente quer trabalhar.
 
Planície do Pantanal
(foto: baixaqui.ig.com.br)
 
HN: Voltando ao Refúgio Caiman, vocês conseguiram integrar os  três destinos?
Brondi: Conseguimos integrá-los e os levamos para mercados externos. Pantanal e Bonito são dois ecossistemas completamente diferentes. O Pantanal é a maior planície alagada do planeta, um ecossistema riquíssimo e um ecossistema voltado para áreas alagadas, e o ecossistema da Serra da Bodoquena, onde está Bonito, é um município dentro da Serra, um bioma de cerrado, de de cachoeiras, coisas que você não encontra no Pantanal. Os dois destinos se complementam e estão muito próximos, e é isso que faz toda a diferença. Com um bilhete aéreo o turista consegue visitar dois ecossistemas completamente diferentes, lindos, e três destinos: Pantanal, Bonito e Bodoquena.
 
Gruta do Lago Azul, em Bonito (MS)
(foto: scfo.com.br)
 
HN: Como está o mercado hoteleiro nessa região?
Brondi: O grande desafio de consolidar uma parceria é mostrar que, atuando juntas, as pessoas desenvolvem melhor o destino. Muitos hoteleiros investem apenas no seu próprio produto e não vêem isso. Não é fácil lidar com empresários e não é fácil lidar o poder público.
 
É importante deixar claro que, uma vez o destino sendo desenvolvido, nós vamos ter público para cada perfil de empreendimento. Aos poucos mostramos que a participação conjunta faz a diferença no desenvolvimento turístico de um destino.
 
Serviço