Anavilhanas Lodge: hospedagem ecológica na Amazônia
10 de dezembro de 2008
Por Karina Miotto
(fotos: Karina Miotto)
ser feitos: Praia do Tirica
Voadeiras, barcos e afins: meio de transporte oficial
em qualquer mata, lembre-se:
a beleza também mora nos detalhes
Arara, ave tão comum na imensidão amazônica
gerações merecem ver o que vemos agora. Praia do Tiririca
O melhor de viajar a Amazônia é a própria Amazônia. Dizem que ela não é mágica, mas a magia…
Boaretto, mais conhecidos como Guto e Fabi
internet wireless
Durante a conversa no bar em São Paulo, a viagem voltou à memória e, como Guto mesmo diz, fez questão de “vender a idéia direitinho”. A amiga não virou sócia, mas o padrasto dele sim – ele é o único que mora em São Paulo.
Não foi fácil começar. O casal enfrentou dificuldades desde as obras, que duraram nove meses ininterruptos para folgas a ambos. Os primeiros 60 dias de operação exigiram muita atenção, chegaram a passar por situações constrangedoras com hóspedes (“recebemos muitas críticas”). Isso sem contar a adaptação a um novo clima e à nova cultura.
Apesar de tropeços que todo bom caminho tem, dois anos e meio depois de um papo informal regado a cerveja, o Anavilhanas Lodge saiu do papel há um ano e meio para cair nas páginas dos principais jornais internacionais e no gosto de turistas.
“Não somos fugitivos de São Paulo, gostamos da cidade. Eu queria ter essa proximidade com a Amazônia e ver de perto a relação entre o homem e a natureza. A Fabi veio comigo e hoje nós dois estamos felizes com a escolha que fizemos”, diz Guto.
“É uma experiência muito realizadora, me sinto completando mais um desafio da vida. Não uso mais terninho e nem sapato social, tive a chance de ter meu próprio negócio, de conhecer outras pessoas, me reaproximei da natureza. Antes, tinha medo de barata. Hoje, poderia ter uma cobra. Cresci em todos os aspectos”, complementa Fabiana.
Com a recente contratação de um gerente geral, eles conseguiram mais tempo para o descanso e, como bons e jovens empreendedores (têm apenas 27 anos), já começaram a se perguntar qual será o próximo passo. Talvez a resposta apareça em uma nova conversa informal regada a cerveja, desta vez tendo como cenário uma noite estrelada em frente ao Arquipélago de Anavilhanas.
No caminho da sustentabilidade
A decisão de se tornar um hotel de selva diferenciado, cuja administração faz o que pode para ter opções e ações sustentáveis, foi uma das razões que levou o Anavilhanas Lodge às páginas do The New York Times em setembro do ano passado. De acordo com Samuel, faz parte da filosofia do empreendimento seguir a trilha da sustentabilidade o máximo possível. O terreno de 49 hectares tem apenas 0,3% de área construída.
encontramos livros sobre a Amazônia
vinda de áreas de manejo
onde toma-se banho
Vale lembrar que, em se tratando de hotéis de selva ou localizados em locais mais preservados que afirmam ser ecologicamente corretos, o termômetro mais rápido para saber se isso não passa de greenwashing é perguntar o número de quartos. Quanto menos, melhor. Aliás, conheci pessoas aqui que afirmaram ter escolhido o Anavilhanas Lodge justamente por esta razão. “Pude observar que o que eles falam, fazem. Como falamos em inglês, they walk their talk“, diz Joaquin Santos, um americano que veio de Los Angeles, Califórnia.
Aqui, vemos um indígena
O hotel trata o esgoto e possui fossas sépticas. Guto explica que a madeira utilizada para a construção do empreendimento veio de áreas de manejo para driblar o comércio ilegal, uma das causas do desmatamento da Amazônia. Há, também, separação de lixo orgânico e de materiais recicláveis. O empreendimento não recicla, mas doa restos de alimentos a um criador de porcos e os recicláveis a uma senhora, que revende o material. Ambos são de Novo Airão.
O Anavilhanas Lodge tem 20 funcionários fixos (18 nativos) e cerca de 10 esporádicos (todos amazônidas), cuja prestação de serviços varia de acordo com a ocupação – julho, agosto, dezembro, janeiro e fevereiro são os melhores meses, quando o fluxo de hóspedes gira em torno de 80%.
O valor da diária média é de aproximadamente R$ 400 para brasileiros e estrangeiros. A grande maioria do público é estrangeiro. Inglaterra lidera o ranking de visitas ao lodge. “Como o preço das passagens para a Amazônia é muito caro, temos a impressão de que os brasileiros não têm muito interesse em conhecer a região. Se houver uma promoção de viagem para Miami e outra para Amazônia, com certeza irão para o exterior. Talvez com a alta do dólar isso dê uma mudada, mas o destino Brasil, especificamente Amazônia, infelizmente não é muito valorizado pelos brasileiros” afirma o gerente geral Samuel Kruchin.
Em três noites e quatro dias, participei de muitas atividades. Pude nadar com botos cor-de-rosa, conhecer a loja de artesanatos dos indígenas Waimiri Atroari, passear brevemente pela mata, percorrer de barco o arquipélago, fazer focagem de jacarés durante a noite, ir à praia Tiririca, fazer canoagem em igarapés do Rio Negro e visitar a comunidade Tiririca. Só não assisti ao nascer do sol às cinco da manhã do último dia por causa de uma inesperada tempestade gostosa e tipicamente amazônica.
de como as pessoas vivem
caminhava entre o rio e a praia
meu prato: alfaces, baião de dois, lasanha de legumes,
empadão de ervilha e batata, cenoura e beterraba
própria escuridão às margens dos rios na floresta
(obrigada!)
para agradecer, refletir, pensar em Deus
– Quanto menos pessoas por perto na hora de nadar com os botos no pequeno píer do restaurante flutuante, melhor. Não precisa ter medo dos botos, eles são muito dóceis.
– Vale a pena conhecer as lojas de artesanatos locais. Os preços são acessíveis, o turista pode voltar para casa com peças amazônidas e ainda ajudar moradores locais.
– Passeio pela mata só vale se o caminhante reparar nos detalhes. A Amazônia aparecerá de verdade aos olhos do bom observador.
– Passear de barco pelo arquipélago é muito melhor quando a mente se cala e o olhar e a alma se voltam completamente à beleza misteriosa da floresta.
– Focagem de jacarés à noite é interessante, mas gostoso mesmo é quando o barqueiro desliga o motor da rabeta. Bem-vindo à noite com céu estrelado, à sinfonia de insetos e ao perfume das flores.
– Dê-se um tempo para conversar com os moradores e nunca se esqueça de que é respeitoso pedir licença antes de fotografá-los. Afinal, você está na casa deles. Outra dica: se quiser ajudar a comunidade, o turista pode comprar artesanatos vendidos lá mesmo.
– Não há nada melhor do que nadar no Rio Negro. Aproveite a chance. Claro, olho aberto para não pisar em arraias.
– Vale à pena madrugar para assistir o sol nascer. Em passeios pela floresta, ouve mais quem fala menos. O silêncio é o melhor companheiro.
Serviço
Anavilhanas Lodge
Escritório em Manaus:
Edifício Manaus Shopping Center
Av. Eduardo Ribeiro, 520 – sala 304
CEP 69058-400
Tel.: 92 3622-8996
Fax: 92 3234-7679
[email protected]
www.anavilhanaslodge.com