A ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), entidade com 71 anos de atuação, presente em todos os Estados do nosso País e na maioria das cidades e municípios turísticos da Nação, vêm a público manifestar seu mais profundo pesar em razão do trágico acidente aéreo ocorrido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que vitimou de morte tantos irmãos brasileiros.

Se por um lado nosso País vive momentos de euforia, por outro temos tido de conviver com situações inusitadas de extrema gravidade. A questão da crise aérea, que já se prolonga desde o fatídico acidente com a aeronave da Gol, tem causado uma seqüência inaceitável de transtornos e desconforto ao viajantes e vem desmotivando os brasileiros a fazerem novas viagens com receio e temor das conseqüências que por ventura tenham de passar.

Temos assistido a um desencontro constante de informações e nenhum de nós vê-se capaz de poder oferecer explicações plausíveis a nossos clientes, colaboradores e amigos.

Não sabemos se o problema básico está na delicada questão dos controladores de fluxo aéreo, na falta de segurança, na falta de equipamentos avançados e confiáveis ou na falta de planejamento com crescimento desordenado?

Todos os itens apontados vêm sendo debatidos livremente pela imprensa e têm origem em declarações de técnicos renomados do setor de aviação e turismo de nosso país.

Muito se fala em turismo sustentável e pouco se pratica em prol da sustentabilidade.

A questão do tráfego aéreo brasileiro tem sido motivo das mais acalouradas discussões e não é assunto novo. Há muito que ouvimos falar sobre falhas de sistema, super lotação dos principais aeroportos, nos igualmente principais pólos emissores de turismo do Brasil. Como promover crescimento, motivar investimentos internos e externos diante de um quadro tão oscilante? Nos últimos anos assistimos a um acelerado crescimento do turismo brasileiro e muitos foram os novos empreendimentos inaugurados, em particular nas regiões Nordeste e Sudeste. Novas bandeiras internacionais de hotelaria se instalaram no nosso território, quer seja por vias de investidores nacionais como também de investidores internacionais.

Promoveu-se a geração de novos empregos, criou-se infra-estrutura nas cidades que receberam esses investimentos, todos crendo que os meios de transportes de nosso País eram confiáveis e não apresentariam os problemas atuais.

Temos sido fortemente dependentes da aviação nacional, em razão da precariedade de nossas estradas e ferrovias.

As noticias, não são nem de longe alvissareiras, ao contrario são preocupantes, pois nos deixam a mercê da convivência com o reverso da normalidade. A sensação que temos é a de que todos foram impactados e tomados de surpresa com a crise e este fato nos deixa fragilizados perante o Mundo civilizado.

À parte a gravíssima crise aérea, já vínhamos convivendo com outros reveses, antes e depois, assim rememoramos a proliferação de oferta de cruzeiros marítimos em razão de uma legislação permissiva sem a devida regulamentação do setor, a súbita queda na oferta de vôos da velha Varig e retirada do mercado, a queda do dólar e aceleração do interesse dos brasileiros em viajarem para o exterior. A excessiva carga tributaria para o nosso setor, reclamação esta que atinge de resto todo o empresariado, com a agravante que no turismo o retorno do capital investido não tem se mostrado tão motivador para que se continue aplicando recursos de toda ordem.

A hotelaria do Nordeste foi particularmente a mais atingida pelos problemas acima citados, e já começa a promover demissões de funcionários em razão das quedas de ocupação que chegam a índices de – 30%. O Nordeste evoluiu e com a força de trabalho de seus empreendedores mostrou que sabe exercer com competência a industria da hospitalidade, não podendo, portanto continuar a sofrer as conseqüências aqui relatadas. Os melhores períodos da hotelaria brasileira, férias, feriados prolongados, Carnaval, Semana Santa e Reveillon sentiram e vem sentindo quedas expressivas de movimentação todas com base em uma ou outra das questões apontadas acima.

Defendemos que precisamos de ações práticas mais rápidas e respostas objetivas à sociedade brasileira, tal qual o fazem paises evoluídos, com destaque natural para os Estados Unidos. Discutimos de forma excessiva e prolongada os nossos defeitos, no entanto as soluções são tardias, perdendo o efeito compensatório. No turismo se trabalha a médio e longo prazo. Começamos hoje a divulgar para colher os frutos daqui a dois ou três anos e competimos com países profissionalíssimos na oferta de bons produtos e confiáveis. Se não dermos os mesmos passos, arriscamos ficar para trás. O turismo tem crescido no Mundo inteiro e também no Brasil, mas os índices de crescimento da América do Sul têm sido menores do que os de outros continentes.

Este é o momento de praticarmos a reflexão e analisarmos se temos ou não condições de promover o crescimento, e se temos ou não infra-estrutura adequada para progredir. Qual a velocidade que temos de impor as nossas maquinas propulsoras?

Reconhecemos que muito se avançou e que o governo do presidente Lula vem priorizando o setor do turismo, em proporções nitidamente maiores do que as de outros governos, mas precisamos pisar no freio de arrumação a fim de não ter de acionar o reverso ou ate mesmo de forçar um cavalo de pau, que nos levaria inexoravelmente a perdas ainda maiores e incalculáveis.

Confiamos na força de trabalho do nosso povo e na confiança que temos em Deus acima de tudo, guardamos a certeza de que ele dará sabedoria a nossas autoridades constituídas para encontrarmos todos juntos uma solução imediata para a crise aérea e para todos os outros problemas apontados nessa manifestação.

Eraldo Alves da Cruz é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional)