Francisco Ritta Bernardino, diretor, e José Carlos Bezerra
de Lima, gerente geral do Ariaú Towers
(fotos: Peter Kutuchian)

O Hôtelier News esteve na Amazônia e parou para conversar com José Carlos Bezerra de Lima, gerente geral do Ariaú Amazon Towers, em Manaus. Ele estudou Aministração e trabalhava como office boy quando, por manobra do destino, foi começar em hotelaria exatamente neste hotel, 20 anos atrás. Depois do bate-papo com ele, você continua com a gente, na conversa que tivemos com Francisco Ritta Bernadino, diretor do empreendimento.

Por Peter Kutuchian

HN: Como é sua vida pessoal?
Lima: Sou amazonense nascido em Manaus, tenho 43 anos, sou casado e pai de três filhos. Gosto de pescar nas horas vagas e minha esposa é uma índia da tribo Macuxi, de Roraima.

HN: Como teve início o hotel?
Lima: O oceanógrafo Jacques Cousteau esteve no Brasil e falou para o Ritta que dentro de 20 anos o mundo estaria mais preocupado com a situação ambiental do planeta. A partir daí, nasceu o Ariaú. Começamos com oito apartamentos, hoje já são 326.

HN: Qual foi a maior dificuldade do começo?
Lima: Encontrar colaboradores realmente aptos. Normalmente, não tinham estudo, informação, não sabiam lidar com os clientes. Recrutamos estas pessoas e passamos a instruí-las com cursos. Exemplos são os guias Paulo, Levi e César, que antes eram agressores da selva, promovendo o desmatamento e a pescaria de bomba e hoje não fazem mais isso e nos ajudam a instruir os hóspedes.


Garça voa no rio Ariaú

HN: Dentro de um hotel como este, longe de tudo, o que você diria que é mais complicado na operação?
Lima: Certamente a parte de alimentos & bebidas. Minha maior dificuldade é trazer mercadoria, especialmente entre outubro e janeiro, que é quando o rio Negro está mais seco.

HN: Como o Ariaú obtém energia? Já pensaram em utilizar energia solar?
Lima: Obtemos por meio de geradores. Temos seis grupos deles. Quanto à energia solar,
custa muito caro, cerca de US$ 170 mil. Se eu quisesse colocar em todas as torres, teria que vender este hotel.

HN: Os aparelhos celulares funcionam no meio da selva?
Lima: Sim. Aqui funcionam normalmente.

HN: Como você vê a concorrência?
Lima: Não existe hotel do mesmo nível que este aqui. Somos o maior hotel de selva da Amazônia.


Vista do complexo Ariaú durante a época da vazão.
Durante a cheia a água pode subir até 18 metros

HN: Qual é seu principal público no hotel?
Lima: Recebemos 60% de estrangeiros, especialmente americanos, e 40% de brasileiros.

HN: Quais são atividades promovidas pelo hotel que mais se destacam entre os hóspedes?
Lima: As principais atividades são a visita a comunidades ribeirinhas, focagem de jacaré, a possibilidade de ficar no rio perto do boto rosa, trilhas na selva. Alguns passeios estão inclusos nos pacotes, outros são opcionais.

HN: Qual é o melhor ponto positivo que você enxerga em trabalhar neste hotel?
Lima: Trabalho de 14 a 16 horas diariamente e o que mais me felicita é a satisfação do cliente. Também podemos servir a comunidade. Tenho lancha à disposição de nossos colaboradores ribeirinhos durante as 24 horas do dia. Se alguém das comunidades do entorno passar mal, podem nos ligar que levamos a pessoa no médico. Já chegamos a ajudar esfaqueados.

HN: O que mais te incomoda em Manaus?
Lima: Estamos perto da cidade e não tenho como negar que é um absurdo jogarem no lixo cerca de 10 toneladas de peixes por dia. Tem tanta gente passando necessidade, sabe? Isso acontece na cidade e não tem um governo que seja capaz de distribuir isso para os povos de baixa renda.

HN: Como o Ariaú trata o esgoto?
Lima: Temos uma fossa séptica de 16 metros de comprimento por 3 de largura. Grande parte de nossos resíduos viram adubo. O que sobra é vendido aos colaboradores para reciclagem.


Ritta conduzindo sua lancha em direção a Manaus

Continuamos o bate-papo com Ritta, diretor do hotel, para obter mais informações:

HN: Como é a arquitetura do hotel?
Ritta: A construção é cabocla e é ideal para acompanhar o desnível da água que pode variar entre 18 a 22 metros de altura. Todo o povo da região está habituado a este tipo de arquitetura, que utiliza uma madeira denominada aquariquara, extremamente resistente.

HN:  Por isso, notamos um certo movimento nele. Balança, mas não cai?
Ritta: Não cai, de jeito nenhum. Cuidamos muito bem destas pilastras, fazemos manutenção. O hóspede pode ficar sossegado.

HN: A expansão do hotel para 1.220 apartamentos não pode prejudicar o meio ambiente?
Ritta: Não. Você anda o hotel todo e não pisa no chão. Já notou isso? Claro que aqui teríamos os tratamentos necessários senão não nos autorizariam a operar.

 

HN: Você pode nos falar mais um pouco sobre sua conversa com o oceanógrafo Jacques Cousteau?
Ritta: Ele me disse que se em 20 anos o mundo não mudasse, sobrariam apenas 50 para a sobrevivência da espécie humana. Afirmou que, a partir de 2000, a preocupação com o meio ambiente aumentaria significativamente. Falou: “Estão destruindo a Amazônia, que desperta uma curiosidade enorme. É a maior floresta do planeta, a mais rica em biodiversidade. Se o senhor construir um hotel na selva, certamente vai ficar muito conhecido”. E assim fiz.


Uma das torres de apartamentos do Ariaú (à esquerda) com o rio Negro ao fundo

HN: O que mudou aqui depois do 11 de setembro?
Ritta: De 1,6 mil norte-americanos por mês, passamos a receber 200. O mesmo aconteceu com pessoas de outros países. Aí, passados alguns anos, o governo resolve pedir foto e impressão digital para os americanos e nosso número voltou a cair. Já falei três vezes com o presidente sobre isso e ele afirma que se exigem isso da gente, devemos fazer o mesmo.

HN: E ainda há esperança de melhorar novamente aos níveis de antes de 2001?
Ritta: Ué, a gente vive de quê? Esperança!

Serviço
www.ariau.tur.br