Toda grande cidade do mundo possui um bairro oriental. Em Londres, São Francisco e Vancouver existem as chinatown, já que nestas localidades prevaleceu a imigração chinesa. No Brasil, mais especificamente em São Paulo, um dos municípios com mais japoneses no mundo depois de Tóquio, temos a Liberdade, com suas já conhecidas luminárias brancas em postes vermelhos estilizados.

 

A equipe do Hôtelier News deu uma volta pelo bairro e confirmou que a região tem deixado de ser japonesa para se tornar mais oriental no geral. Não é raro escutar, cada vez mais, chineses e coreanos conversando pelas ruas. Essa mudança reflete também na hotelaria: dos cinco hotéis que visitamos, três passaram de mãos japonesas para chinesas e taiwanesas.

 

No entanto, os japoneses ainda prevalecem, mesmo porque foram os primeiros a chegar, por volta de 1912. Eles se estabeleceram na rua Conde de Sarzedas, e o bairro atraía pelos baixos aluguéis e proximidade ao centro. A Liberdade é um dos pontos que mais atraem turistas na cidade, principalmente aos finais de semana. Confira a seguir um pouco mais deste reduto oriental que está no coração de São Paulo.
 

Os postes ganharam bandeiras dos dois países
para celebrar o centenário da imigração
(fotos: Chris Kokubo)

 

Por Chris Kokubo e Fernando Chirotto

 

Em uma caminhada de uma hora é possível visitar os principais hotéis da Liberdade – são esses que os sites listam quando realizamos uma busca. A rua Galvão Bueno é endereço de dois dos estabelecimentos: Ginza, atualmente do grupo Liau Hotels, e Nikkey Palace, o mais japonês de todos eles.

 
O São Paulo Nikkey Palace Hotel é referência em hospitalidade no bairro há aproximadamente 27 anos. Gerido pelo diretor presidente Ricardo Ueno, descendente de japoneses, possui 95 UHs, 70 colaboradores – 20 descendentes -, cinco salas de eventos, que na sua maioria abrigam grupos japoneses, e dois restaurantes, um deles especializado em gastronomia nipônica.

 
 
Nikkey Palace em quatro tempos: entrada, lobby, jornais japonês, coreano e brasileiro e os avisos nas línguas portuguesa e japonesa
 

Oferece também café da manhã com pratos japoneses, duas publicações no idioma do país oriental – Nikkei Shimbun e São Paulo Shimbun – e o canal NHK.

Segundo Masumi Maeda, subgerente operacional, o empreendimento foca o atendimento ao seu público de origem. “O hotel possui um perfil inteiramente japonês. Nossa área operacional é preparada para atender esses hóspedes. Para lidar com eles, todos os colaboradores conhecem pelo menos o nível básico do idioma. Com isso, atingimos um índice de 60% de orientais em nossa ocupação geral”, afirma a executiva.

Já seu vizinho, o Liau Hotels Ginza, do grupo fundado pelo chinês Ivan Liau, figura entre os empreendimentos do bairro há cerca de 17 anos. Possui 120 apartamentos – 80 comercializados e 40 privados, um deles para hóspedes especiais -, que contam com room service 24h e conexão à internet wireless. O hotel oferece piscina, sauna e fitness center, localizados na cobertura.

São 50 colaboradores no Ginza, entre eles oito orientais que falam japonês e chinês. Sala de eventos com capacidade para 50 pessoas e o restaurante especializado Golden China, freqüentado por hóspedes e passantes, são duas de suas facilidades.

 

 
O Ginza faz parte da rede chinesa Liau Hotels

De acordo com Paulo Rodrigo da Silva, chefe de Recepção, a localização e o histórico são fatores essenciais para alta ocupação  de orientais. “Atualmente registramos 50% de ocupação geral de hóspedes orientais, grande parte a lazer. Grupos corporativos são mais atuantes em eventos, a maioria agendada no Golden China, representando 40% da receita do restaurante. Em números gerais, podemos afirmar que os orientais geram 50% de nossa receita”, aponta.

Com a demanda proveniente da comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil, o hotel registra incremento de 40% na ocupação de 2008 em relação ao ano passado.

Um dos motivos para o índice é a renovação do grupo, promovida por Helen Liau, filha do fundador e atual diretora presidente. “Meus pais chegaram há 35 anos da China no Rio de Janeiro, onde abriram uma agência de turismo. Depois mudaram para São Paulo e fundaram outra agência, a Satélite Turismo. Poucos anos mais tarde entraram para a hotelaria, ramo pelo qual atuaram até pouco tempo, quando me passaram a admistração da rede. As primeiras ações foram realizadas para renovar, dar uma nova cara aos empreendimentos, um ambiente mais profissional e menos familiar. Nesta nova fase houve uma reestruturação de pessoas para firmar um novo conceito nas unidades”, conta a executiva.

Para atender os orientais, o empreendimento oferece jornais chineses, japoneses – como o Nikkei Shimbun -, e também um coreano, intitulado de Bom Dia News. Transmite também três canais asiáticos: o NHK, japonês, o CCTV, chinês, e o YTN, coreano.

 
 
 
Acima, fachada e entrada do Akasaka, próximo à estação Liberdade do metrô. Abaixo, o Oriental Plaza Hotel e o jardim japonês do
Largo da Pólvora, em frente o qual ele se localiza
O Oriental Plaza Hotel está localizado no Largo da Pólvora e o Akasaka, na Praça da Liberdade. O primeiro é administrado pelo descendente de taiwaneses Sr. Yang, como é chamado pelos colaboradores do meio de hospedagem. O Oriental é assim conhecido há nove anos. No passado o edifício foi gerido por japoneses e recebeu os nomes de Fuji Palace Hotel e Príncipe Palace Hotel.

Osmanir Batista Rocha, gerente responsável que atuou na unidade nas três diferentes marcas do edifício, traça um perfil geral sobre a casa na qual trabalha há tantos anos. “Estima-se que 50% de nossos hóspedes sejam orientais, descendentes de japoneses, chineses e coreanos. Deste índice, 40% são do segmento corporativo, composto por empresários e representantes. Contamos com dez colaboradores, entre eles uma com descendência japonesa, que fala a língua para melhor atender este público”, revela.

O empreendimento possui 50 apartamentos – no momento dez estão fechados para reforma -, divididos em individuais, duplos e triplos, com diária média equivalente a R$ 60. Ainda oferece café da manhã oriental e uma publicação chinesa.

“A Liberdade é um dos bairros da regional central da ABIH, onde é muito forte o turismo de compras. Eventualmente executivos de empresas e órgãos do centro da cidade ou turistas em busca de atividades culturais também se hospedam na região. O Nikkey Palace é, inclusive, um dos nossos associados”, afirma Bruno Omori, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP).

O quinto hotel que tínhamos na lista, o Barão Lu, fica na rua Barão de Iguape, também foi comprado por um taiwanês e está atualmente fechado, aguardando uma reforma que deve começar em breve, segundo vizinhos.

 
Prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, o Bunkyo, um oásis para quem quer mais informações sobre o Japão. Na loja de
pedras brasileiras, um cartaz tem vagas para balconistas da segunda geração de descendentes, os nisseis
 
 
 
Na floricultura, não podia faltar bonsai, a árvore-miniatura. Nas vitrines, muitas cores com os amuletos de boa sorte – o vermelho é o darumá, e o gatinho, o maneki nekô – e os doces à base de feijão
 
 
 
Dentro das lojas, parece que estamos no Japão: o temperinho furikake é comercializado pronto para comer, basta jogar em
cima do arroz branco. Práticos, os bentôs são a marmita
japonesa. O bairro tem também lojas de oratórios
do país asiático, para culto dos mortos
 
Liberdade, para muitos, é sinônimo de bugigangas japonesas, feirinha com comes e bebes no domingo – em que barraquinhas de sukiyaki convivem harmoniosamente com as que vendem tapioca e cocada -, lojas que oferecem garrafas de sake pela metade do preço dos supermercados em outros bairros, livrarias especializadas em publicações orientais, cosplays, como é conhecida a gente fantasiada de mangá – os quadrinhos japoneses – caminhando despretensiosamente, festivais japoneses e chineses, o coreano sorvete quadrado de melão e outras tantas coisas, que encontramos por ali.


Cosplays dos personagens Mário e Luigi, da Nintendo
(foto: oitobits.nets)
 
Para outros, é apenas um bairro central de São Paulo, vizinho ao marco zero, à Praça da Sé. De um jeito ou de outro, não dá para negar que a região é uma das que têm mais forte caracterização entre as paulistanas. Lojas chiques da Oscar Freire, bares da Vila Madalena, cantinas do Bexiga e as atividades culturais da Paulista que nos desculpem, mas a Liberdade é unanimidade na lista das “coisas a conhecer” de São Paulo.
 
Serviço