Segundo artigo de Aili McConnon para o New York Times, com o fim do embargo e reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, começam a surgir novos investimentos na hotelaria do destino, cujo turismo vivencia um bom momento, tendo inclusive os norte-americanos no topo do ranking de visitantes estrangeiros. O país está ganhando a predileção de viajantes de todo o mundo, fato que justifica a movimentação e renovação do parque hoteleiro, inclusive no segmento de luxo, analisado por McConnon no artigo.

Por Aili McConnon, para o New York Times

No parque central de Havana é cada vez mais comum encontrar em seus bancos de pedra, embaixo da sombra das árvores, turistas de diferentes nacionalidades, que relaxam e observam o movimento enquanto degustam um mojito e aproveitam o clima de sol e brisa.

Este ponto de encontro está sempre rodeado de largas filas de automóveis típicos da década de 1950 e, desde o fim do embargo, de caminhões e vans de equipes de construção que estão transformando os antigos edifícios em hotéis de luxo.

A medida que a relação entre Estados Unidos e Cuba se estreita, o desenvolvimento econômico e das indústrias – incluindo a hoteleira – se beneficia. "Muitos edifícios que durante anos estiveram abandonados foram convertidos em hotéis", comenta Belmont Freeman, arquiteto, nascido em Cuba e de cidadania norte-americana, radicado em Nova York (EUA). "Agora é possível ver gruas enormes em espaços de construção. A burocracia cubana está facilitando a entrada de desenvolvedores estrangeiros de hotéis, que finalmente podem tirar do papel os seus projetos", completa.

A flexibilização das restrições para empresas privadas por parte do presidente Raul Castro, a melhora das relações com os Estados Unidos e a necessidade de investimento – o produto interno bruto de Cuba teve queda em 2016, a primeira em mais de 20 anos, segundo o levantamento oficial – motivou o rápido desenvolvimento de diversos setores.

No entorno do parque central, se encontra o hotel que encabeça o movimento da hotelaria de luxo no destino: o Gran Hotel Manzana Kempinski, cuja abertura está programada para junho deste ano, com 246 apartamentos e localizado em uma galeria comercial de estilo europeu, restaurada recentemente e que se estende por todo um quarteirão. No lado oposto, está o Hotel Inglaterra, aberto em 1875. Uma gama de outros hotéis estão a uma curta distância dali, todos operados pelo grupo francês AccorHotels e pelo espanhol Iberostar.

O Hotel Inglaterra por sua vez, abrirá suas portas em dezembro de 2019, tendo sua gestão assinada pela Starwood, subsidiária da Marriott International e primeira empresa hoteleira norte-americana a operar na ilha em quase 60 anos.

No entanto, a indústria hoteleira – sobretudo o segmento de luxo – deve enfrentar alguns obstáculos, como a escassez de produtos. Atualmente, Cuba importa entre 70% e 80% de seus alimentos, segundo o Programa Mundial de Alimentos. Somado a isso, os frequentes apagões de energia e internet e o sistema deficiente de drenagem de água, devem gerar boas dores de cabeça para os hoteleiros do destino. Além disso, a área do parque central se encontra em uma situação de pobreza que vem desde a Revolução Cubana no final dos anos 1950, criando uma díficil convivência entre os lugares que lutam para sobreviver e os visitantes "abonados".

Em 2016, o governo estipulou uma meta de dez milhões de visitantes até o ano de 2030. O turismo é a aposta do governo para a resolução dos problemas econômicos da ilha. Objetivando esse percentual, as autoridades trabalham em busca de novas formas de crescimento, já que o decréscimo de 0,9% em 2016, devido a crise petroleira da Venezuela, um importante parceiro econômico da ilha, potencializou a preocupação acerca dos próximos anos.

Para Miguel Coyula, arquiteto e planejador urbano, o crescimento é positivo se feito de forma que evite a "cancunização" de Cuba, em referência direta à Cancun, no México, destino muito procurado por estudantes norte-americanos pela atmosfera festiva e "baladeira". "Com sua cultura, história e arquitetura, Cuba é muito mais do que um destino de sol. A infraestrutura de Havana encontra-se submetida a uma grande pressão. Milhões de turistas ávidos por rumba e mojitos não trarão a solução", opina.

* Crédito da imagem: Pixabay/hoeldino