Frente à frente com a CEO da Preferred Hotels & Resorts, na luxuosa suíte presidecial do Hotel Unique, em São Paulo, o repórter não perdeu tempo. Ao mencionar o contexto global de novos projetos hoteleiros, que está em compasso de espera em função da taxa de juros elevada, a reportagem questinou Lindsey Ueberroth se um M&A (Fusão & Aquisição, na tradução livre) com uma grande rede internacional seria uma possibilidade para a empresa. Ela disse que não, mas complementou com a frase do título da matéria.

Se você não pescou a relação entre os juros altos e a pergunta à Lindsey, vamos à contextulização. Desde que a inflação subiu nas principais economias desenvolvidas, no início da retomada pós-pandemia, os bancos centrais dessas nações responderam a isso com elevação dos juros. Se um ciclo de queda parecia se avizinhar, a geopólítica global – com conflitos na Europa e Oriente Médio – tratou de frear esse movimento, o que torna o investimento em novos projetos hoteleiros menos atrativos para investidores.

Preferred - Simone-Mariote - entrevista Lindsey Ueberroth

Simone: vendas na região subiram em 2023

Diante disso, as grandes redes internacionais vêm apostando nas conversões como principal motor de expansão, cenário que deve se manter nos próximos anos. Dessa forma, talvez mais do que nunca neste milênio, as cadeias hoteleiras globais vêm se tornando uma concorrência direta de empresas como a Preferred na disputa para crescer o portfólio. Prova disso é a proliferação das chamadas collection brands no mercado, que miram o mercado independente e que permite a manutenção da operação e identidade, ganhando em troca uma “push” comercial e de distribuição. Um modelo, por sinal, que guarda semelhanças com o que a faz a organização liderada por Lindsey.

“As grandes redes sempre foram uma ameaça, mas, ao mesmo tempo, também nos ajuda. Isso porque, de certa forma, a criação das collection brands valida o que estamos fazendo há muitos e muitos anos no mercado”, observa a executiva americana, que, além de São Paulo, visitou outras cidades brasileira recentemente. “Agora, os desenvolvedores imobiliários gostam da flexibilidade que o mercado independente oferece, sem ter um contrato de administração de 25 anos que o amarra às grandes redes”, completa.

Outro pano de fundo para a pergunta feita para Lindsay foi a aliança estratégica firmada entre Hilton e Small Luxury Hotels of the World, ocorrida em fevereiro deste ano. “Ao longo desses anos, fomos abordados muitas vezes pelas grandes redes. No entanto, gostamos de ter nossa independência. Além disso, nosso programa de fidelidade segue crescendo, é maior do nosso segmento… Agora, nunca diga nunca”, continua Lindsey.

Vale destacar que, em março, Preferred e Choice Hotels firmaram parceria que permitirá aos usuários do programa de fidelidade da cadeia hoteleira norte-americana usar seus pontos nas propriedades da empresa liderada por Lindsey.

Bom momento

Se o “nunca diga nunca” virá um dia ou não para a Preferred, é certo que Lindsey sentará na mesa de negociações em uma boa posição. Com as viagens no centro das prioridades dos consumidores de luxo, a empresa encerrou o ano passado gerando cerca de US$ 3,5 bilhões em vendas para seus hotéis parceiros.

“Em 2023, registramos crescimento global de 13,5% no números de reservas quando comparado ao ano anterior”, revela Simone Mariote, vice-presidente executiva da Preferred para a América do Sul, em contato com a reportagem do Hotelier News. “Na nossa região, essa expansão foi um pouquinho menor, de 9,24%”, completa.

“O consumidor de luxo está priorizando os gastos com viagens, em detrimento de comprar um relógio ou outro tipo de produto, e isso vale para todas as faixas geracionais”, observa Lindsey.

A executiva da Preferred, contudo, faz uma ponderação. “Acredito que eles estão mais exigentes do que nunca, pois têm consciência de que as tarifas estão em patamar alto. Por isso, querem um atendimento que faça jus a esse valor.”

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(**) Crédito da foto: Arquivo HN