Jardim BotânicoJardim Botânico, o carro-chefe do turismo local
(fotos: Dênis Matos)

Se ocorresse a algum turista fazer um álbum ilustrativo contendo tema único dos principais registros fotográficos da capital paranaense, umas das maiores dificuldades seria chegar ao consenso de se criar este recorte. A cidade, por assim dizer, exala tom plural.

Não exatamente uma ou duas possibilidades compõem o município de quase 2 milhões de habitantes – a maior população entre o sul do Brasil -, mas um leque ruidoso com afazeres para todos os gostos.

Adeptos à música, à gastronomia, à vida noturna, às artes, às compras, aos parques, aos monumentos históricos, ao ócio e à natureza têm cadeira cativa quando se trata de Curitiba. Não à toa, em 2011 cerca de 3,7 milhões de pessoas visitaram a cidade, número 8% maior que o registrado em 2010, de acordo com dados do Instituto Municipal de Turismo.

A capital paranaense segue numa toada de melhora e crescimento inegável quanto à indústria turística. Também pudera. Há uma estrutura indiscutível para atender o visitante, com opções de lazer à granel e todo um aparato para que este indivíduo situe-se com facilidade pelos arredores do município.

A fama do curitibano de pouco hospitaleiro tem tom anedótico, ao menos a meu ver, já que eles são bem atenciosos – o que também favorece o mercado local. O estigma que permeia o morador da cidade tem mais a ver com o fato de ele pouco gostar de ver forasteiros depreciando seu patrimônio, por isso, a aura de serem chatos.

Se você abre uma bala em Curitiba, guarde o papel no bolso e espere até chegar a lixeira mais próxima. A cidade é, indiscutivelmente, limpa. Fila também é questão de honra. Tudo é fila por lá, por isso, não fure uma.

Para entender um pouco desta dinâmica e conhecer as ruas largas de Curitiba, a reportagem do Hôtelier News foi conferir in loco o que é esta província que remete aos anos de 1693. Na somatória, descobriu um destino bem estruturado, apesar de novo, muitos vinis para serem comprados nos tradicionais sebos, um sem número de parques para praticar o ócio e um desejo coletivo de ter novos voos e um centro de eventos de alto padrão para atender turistas.

Por Dênis Matos*

Rua 24 HorasA rua 24 Horas é um dos símbolos da nova Curitiba.
Inaugurada em 1991, tem cobertura transparente apoiada em
32 arcos de estrutura metálica e congrega alguns pontos comerciais

Nos anos de 2010 e 2011, o setor turístico da capital paranaense injetou na economia do Estado o equivalente a R$ 1,6 bilhão, segundo o Instituto Municipal de Turismo. O número, frente a outros setores, ainda é pequeno, já que falamos de pouco mais de 3% do PIB municipal.

A economia local, ainda que o segmento turístico tenha pujança notória, é formada principalmente pelas mais de 900 fábricas instaladas no bairro de Cidade Industrial, com algumas empresas automobilísticas de peso no entorno. O parque industrial de mais de 43 milhões de m² abriga nomes como ExxonMobil, Sadia, Siemens e Kraft Foods.

Some-se a isto uma região metropolitana, composta por 29 municípios, com mais de 3 milhões de habitantes – o que por si só faz a cidade ter em seu currículo a maior economia do sul do País e o 4º maior PIB do Brasil.

Teatro PaiolO Teatro Paiol, um depósito de pólvora que remete a 1906 e foi inaugurado,
como teatro, em 1971 com um show de Vinicius de Moraes

Na outra ponta, Curitiba aparece também como um dos melhores destinos para a realização de congressos e afins. De acordo com dados do CCVB (Curitiba, Região e Litoral Convention & Visitors Bureau), em 2012 foram realizados 332 eventos no município, 26% a mais em relação ao ano de 2011 – gerando receita de R$ 510 milhões.

O número de turistas chegou a 334 mil, com um gasto médio de R$ 320 ao dia – e três dias de permanência.

A expectativa para 2013, segundo o CCVB, é ainda melhor, com foco em grandes congressos da área de medicina já agendados, que devem render à cidade cerca de R$ 36 milhões e aproximadamente 33 mil turistas.

“Curitiba está entre as capitais que mais recebe eventos técnico-científicos. O número de eventos em nosso calendário anual cresce entre 22 e 26% de um ano para o outro e também estamos, a cada ano, superando o índice de captação de novos eventos”, diz Tatiana Turra, diretora executiva do CCVB.

Essa confluência de situações profícuas faz com que a cidade de ar provinciano e pouco mais de 434 milhões de m² de área funcione com mais tranquilidade para o turismo. É como se a estrutura montada e o reconhecimento como polo turístico e de economia consolidada facilitassem a realização da atividade por lá.

Restaurante MadalossoEleito pelo Guinness Book como o maior da América Latina e o segundo
maior do mundo, o Restaurante Madalosso é parada obrigatória em visitas
a Curitiba. Para se ter ideia, em dias de grande movimentação mais de 5 mil
pessoas são atendidas somente no almoço. Os números impressionam;
mas é pela comida que vale a pena visitar o local

Falta de estrutura para congressos
No entanto, há algumas labutas. Paulo Colnaghi, diretor do Instituto Municipal de Turismo, explica que hoje há necessidade latente para a construção de um novo centro de eventos, o que elevaria a possibilidade de capitar um maior número de grandes congressos – principalmente internacionais.

De acordo com o executivo, este é um projeto em fase embrionária – mas que deve sair nos próximos quatro anos. Ele relembra que o Espaço Convention Center, cuja estrutura foi reduzida nos últimos anos para a realização de eventos, fazia este papel – e por isso o gap. Tal medida veio na contramão da expectativa de crescimento do turismo, uma vez que a BR Malls, que administra o Estação Convention, tem investido na criação de salas comerciais no local – e não mais no mercado de eventos.

Ônibus de CuritibaO transporte público da cidade também é bastante funcional

Benesses
Todavia, a capital carrega outras benesses para o visitante. Passear na capital paranaense, por exemplo, não demanda grandes conhecimentos – e o cubo mágico de como andar por lá ganha coesão com naturalidade. Isto se deve, inegavelmente, à Linha Turismo. Trata-se de um projeto, criado nos idos de 1994, com ônibus de dois andares que circulam, de terça a domingo, por um trajeto de 44 quilômetros – passando por 25 importantes pontos da cidade.

Já daí, o visitante tem garantia de que vai compreender a cidade. Com um ticket que custa em média R$ 25, o passageiro tem direito a quatro paradas nos locais escolhidos. Há ônibus de meia em meia hora, circulando das 9h às 17h30, obrigado.

“A Linha Turismo virou referência, há prefeituras que nos procuram para utilizar o projeto como exemplo. Ela tomou outro ritmo para nós”, comemora Colnaghi. “Antes tínhamos uma jardineira, que era um ônibus bem interessante também, com um estilo mais vintage, mas precisamos modernizar o projeto em busca de um olhar futuro”, completa.

Pesquisa do Instituto Municipal de Turismo aponta que mais de 300 milhões de pessoas utilizam anualmente a Linha Turismo. Em 1994, quando o projeto ganhou forma, o número registrado já foi alto, beirando 50 milhões.

Linha TurismoA Linha Turismo é protagonista do bom momento turístico
vivido na capital paranaense

Meios de hospedagem em números
Mais do que circular pela cidade, o turista precisa se hospedar. E a rede hoteleira local também aparece estruturada e com capacidade para atender tal demanda existente. A Pesquisa de Serviços de Hospedagem 2011, encomendada pelo Ministério do Turismo ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dá conta de que há 358 meios de hospedagem na região metropolitana de Curitiba. Na capital, em específico, o número chega a 139, segundo o Instituto Municipal de Turismo, com 9.713 UHs. A ocupação média de 2011, diz o órgão, ficou na média de 53%.

Os números, no entanto, não correspondem ao Panorama da Hotelaria Brasileira 2011-2012, estudo produzido pela consultoria Hotel Invest que dá conta de uma ocupação média na casa dos 70%. Independente disso, o que deve se considerar é que a demanda vem aumentando gradativamente na cidade e de mãos-dadas à oferta.

O Panorama da Hotelaria assinala que esta ocupação é modesta para o ano de 2011, com um crescimento medido em apenas  2,4% na comparação no ano anterior. Todavia, a demanda se ampliou em 6,5% – o que reverberou positivamente nas diárias médias, fechadas em R$ 133 para o segmento midscale (com aumento de 11,4%) e em R$ 104 para o segmento econômico (com crescimento de 17,8%). Os índices melhoraram também o RevPar (receita por apartamento disponível) em 15,8%.

Tal cenário, assegura a consultoria, deixa a cidade mais atrativa para a viabilização de novos empreendimentos e mais dinâmica quanto à indústria hoteleira – minguando assim preocupação de superoferta após os mundiais esportivos e tornando o mercado saudável, espécie de carma recente do setor.

Ônibus para leitura, no calçadão da cidadeÔnibus para leitura, no calçadão da cidade,
disponibiliza livros para cidadãos e visitantes

Opções para hospedagem não faltam, neste sentido, porém há pouco espaço para meios de hospedagem upscale. Isto se dá, de acordo com o diretor do Instituto Municipal de Turismo, porque boa parte da demanda é formada por executivos que buscam hotéis de quatro ou três estrelas para hospedagens rápidas e sem grandes necessidades de mimos. O mesmo cenário é visto quando se pensa no turista de lazer, já que boa parte dos visitantes busca entretenimento na estrutura da cidade – e não nos hotéis.

No entanto, a projeção é que este cenário mude. Mais do que o centro de convenções, citado acima, a cidade clama por voos internacionais, principalmente que façam trechos para a Europa e para os Estados Unidos.

“Nosso aeroporto não tem a terceira pista e, por isso, não podemos ter grandes aeronaves pousando ou decolando, mas precisamos ampliar a gama de turistas estrangeiros”, assume Paulo Colnaghi.

“Para a demanda que temos com o cliente doméstico, os hotéis neste formato são suficientes. Mas nós queremos levar a cidade para o exterior, ampliar o número de estrangeiros que recebemos e, com isso, construir meios de hospedagem de categoria superior. A médio prazo serão construídos hotéis com melhor estrutura”, assegura.

CuritibaMesmo com a insígnia turística, a cidade tem ar de
metrópole; apesar do estilo de vida mais ameno da população

Entretenimento
A constatação de Colnaghi, quanto à ausência de hotéis com megaestrutura – como resorts -, tem base também no fato de que poucos turistas querem ficar nos empreendimentos – já que há muitos atrativos no destino.

Na lista dos pontos turístico, o mais popular da Linha Turismo é o bucólico Jardim Botânico. Não é para menos: dá para perder (ou melhor, ganhar) horas por lá – vendo os muitos bosques, flores e arbustos inspirados na geometria dos jardins franceses.

Na sequência, como segunda opção, aparecem o Ópera de Arame e a Pedreira Paulo Leminski. O Ópera é um espaço bem diferente, inaugurado em 1992 para a primeira edição do Festival de Teatro de Curitiba. Construído em ferro tubular e vidro, foi criada para se integrar à mata e à água que compõem a paisagem. Ambos, sublinhe-se, estão no mesmo terreno.

Já a Pedreira Paulo Leminski fazia a vez dos shows na cidade. Com o nome de um dos principais multiartistas do País, abrigou nomes da música como Paul MacCartney, Björk e Roberto Carlos. Isto, infelizmente, foi minguado nos últimos anos – por conta de pressão dos próprios moradores do entorno, que sofriam com o barulho.

Clique na primeira imagem da galeria para ver alguns cliques curitibanos

Para sanar o problema, Colnaghi diz que uma empresa privada foi licitada e está tocando a adequação da pedreira – para que os eventos musicais, principalmente os de outros países, possam voltar à região.

Os parque Barigui e Tanguá ocupam 3º e 4º lugares, respectivamente, nos pontos mais visitados. Com localização próxima, ambos permanecem lotados não só por turistas, mas pela população local. Capivaras dividem espaços com aves, bicicletas, atletas e famílias fazendo piqueniques ou churrascos – este outra predileção curitibana.

Em quinto lugar, injustamente na opinião deste que você agora lê, está o MOM (Museu Oscar Niemeyer). As muitas memórias e abstrações que permeiam o espaço denotam mais do que a vida do maior arquiteto da história do País, com formas que emudecem qualquer visitante. É impossível sair ileso de lá: você pega as muitas imagens subjetivas que vê, mistura com o que já viu e o que já foi e passa tudo pelo filtro do que você se tornou.

Fora isso, a área externa do museu é espécie de parada obrigatória para os adeptos à cultura pop e à música, e não faltam por lá garotos e garotas com óculos de acetato discutindo cinema, cultura, arte e existência.

Jardim BotânicoDo Jardim Botânico é possível observar a arquitetura vertical do município

Sem por a mão no bolso
O rol do lazer é grande em se tratando de Curitiba. Melhor que isso, necessário citar que grande parte das atividades é gratuita ou tem preços bem justos. Tanto que o próprio paranaense é o que mais visita a cidade.

Segundo o Instituto Municipal de Turismo, 36,8% dos turistas são do próprio estado. Em segundo lugar aparecem os paulistas, com 26,1%, seguidos por catarinenses (14,1%); gaúchos 4,5% e demais estados (14,4%). Os estrangeiros, apesar das fortes influências europeias, árabes e chinesas existentes na capital, respondem por apenas 4,1% dos turistas.

O gasto médio de um visitante na cidade também não é exorbitante. De acordo com o órgão de turismo, a média diária chega a R$ 180 – incluindo hospedagem, alimentação e outros itens. Não à toa, saracotear por Curitiba é tão interessante.

Serviço
www.turismo.curitiba.pr.gov.br
www.curitibacvb.com.br

* O jornalista do Hôtelier News viajou à capital paranaense a convite da rede Blue Tree de Hotéis.