Hotéis com tudo incluído ainda conseguem seduzir turistas com seus bufês intermináveis e oferta livre de bebidas, mas terminam aí as semelhanças com o modelo all inclusive tradicional. O sistema surgiu em meados de 1950 quando a noção de um pacote de férias abrangente com refeições, acomodação e entretenimento foi assimilado pelos viajantes da época. Ainda segue como um modelo popular, mas o seu conceito como negócio evoluiu drasticamente desde então.

Tomemos como exemplo, a comida nos bufês de muitos resorts all inclusive. Hoje, os ingredientes provavelmente são de origem local e sustentável, com os coquetéis sendo elaborados com licores de rótulos superiores. Adicione a isso os quartos com mobiliário moderno, o entretenimento sofisticado e as atividades para hóspedes de todas as idades e temos um modelo de experiência muito mais alinhado com os gostos dos consumidores modernos.

Por Laura Agadoni para o JLL Real Views

Estabelecendo novos padrões
Na extremidade superior do mercado, as marcas têm desenvolvido um novo formato de luxo all inclusive. A AM Resorts, por exemplo, oferece refeições gourmet, acomodações elegantes, bebidas premium, belas praias e um spa de classe mundial. A Beach Hotels & Resorts também aproveita o momento para um relançamento após a bem-sucedida parceria com a Hyatt (Hyatt e Hyatt Ziva Zilara) onde os hóspedes desfrutam de suítes "swim-up", jantares e entretenimento ao vivo. Wyndham, Marriott e Hilton também entraram na era do AI 2.0 ou All Inclusive 2.0.

Conforme aumentam o número de viagens multi-geracões (famílias inteiras compostas por avós, pais e filhos), mais se torna difícil a escolha por um empreendimento que atenda a todos os perfis de uma só vez. No conceito All Inclusive 2.0 já existe uma resposta: a criação de "propriedades irmãs" feitas por meio de parcerias para que os viajantes desfrutem o melhor de cada unidade. "Independente de saber se você está indo para algum resort, pode haver um ou dois dias do seu período de férias que você quer utilizar para experimentar o que outros resorts podem lhe oferecer. Talvez uma massagem, um bom jantar e, por um "upsell", os avós e as crianças podem se deslocar para um parque aquático localizado em uma propriedade irmã", diz Clay Dickinson, diretor da JLL´s Hotels & Hospitality Group.

Se antes os hóspedes passavam uma semana ou duas na beira da piscina, hoje estão mais interessados em experiências imersivas e passeios pela cidade que geralmente, embora não inclusos no pacote dos resorts, são oferecidos por meio de parcerias entre os empreendimentos e a comunidade local e suas fundações.

O apelo do All-Inclusive para os operadores
Ao longo das últimas décadas, um número crescente de hotéis – especialmente aqueles em destinos com belas praias e atrações naturais com acessibilidade conveniente e baixos custos trabalhistas – mudaram do plano europeu para o modelo all inclusive.

"Isso não aconteceu apenas com hotéis recém-construídos e sim com conversões. Hotéis que trabalham com o plano europeu estão tendo dificuldades para competir com o formato All Inclusive", afirma Dickinson.

No entanto, lidar com o controle de alimentos e bebidas é uma tarefa muito mais complexa do que se imagina. "Normalmente há custos mais antecipados devido ao número dos pontos de venda de alimentos e bebidas, a expansão das áreas comuns e a piscina", explica o diretor.

Os canais de distribuição também são diferentes quando se trata de um resort all inclusive. "Muitos empreendimentos ou são proprietários de parte deles ou mantém relacionamentos de longa data com todos os players", observa Dickinson.

A construção de relações fortes com os clientes também é fundamental para garantir o retorno dos visitantes. "Ao contrário do timesharing, onde você tem que reduzir o inventário dos quartos com base no número de timesharing que você vendeu, com os clubes de férias você está agregando valor, vendendo a experiência com descontos. Hotéis com clubes de férias criam clientes leais para os operadores", destaca.

Com o apetite para o modelo all inclusive não mostrando sinal algum de declínio, Dickinson acredita que a indústria crescerá ainda mais com o surgimento de mais pacotes de oferta com tudo incluído. "Os resorts deixarão o isolamento", finaliza.

* Crédito da foto: Pixabay/PublicDomainPictures