(foto: ideias.org.br)
 
A última quinzena teve grande representatividade em relação à educação no setor do turismo. Após investir R$ 7 milhões, a Estácio inaugurou um campus voltado à hotelaria e à gastronomia, com graduações sob chancela internacional da EHL (Ecole hôtelière de Lausanne) e da ADF (Alain Ducasse Formation), respectivamente. Outro benefício foi que o Senac da Aclimação inaugurou oficialmente sua nova unidade, também com mote em hospitalidade e cursos técnicos das mais diversas vertentes da atividade turística – partindo da montagem de um coffee break à gestão e supervisão de um hotel.
 
O ganho aparente para o setor, principalmente para o mercado paulistano, um dos com maior relevância no País, contrasta com o fomentador deste boom educacional para o turismo: leia-se, como especulação, Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016.
Não que a criação de instituições sérias e comprometidas com o amadurecimento da atividade turística seja negativa, mas deve-se, no mínimo, refletir que o setor necessita de um divã para visualizar as condições do profissional neste mercado – sem se embasar, notadamente, nos mundiais esportivos. Há vida pós-Copa.
 
É preciso rever a forma e motivo de formação deste profissional. A capacitação no mercado hoteleiro tende a ser voltada à área operacional, que há muito sofre com salários raquíticos, jornadas infindáveis e reconhecimento decrépito. Questões que, se não revistas, continuarão a fazer com que trabalhadores com expertise no bem-servir migrem para outros mercados em nome do reconhecimento.
 
Se se leva em conta o grande desenvolvimento experimentado nas diversas frentes que compõem a atividade turística, principalmente no cerne econômico da questão, fica clara a proporção de desafio educacional e de melhora das condições profissionais para realização da profissão.
 
Outro ponto estapafúrdio é a forma como este profissional vai ao mercado. Nesta nova era de capitalismo tecnológico, o conhecimento tornou-se mercadoria, e a educação instrumento de poder e controle, ambos exigindo uma nova pedagogia capaz de formar trabalhadores críticos – o que pouco ocorre. Passou-se a exigir mais do que conhecimentos relativos aos fazeres de operação, agenciamento, guiamentos e outras ações ligadas à hospitalidade. Uma visão sistêmica, capaz de julgar, mensurar, decidir, ousar e refletir faz-se necessária. Ninguém mais aperta parafusos.
 
E por isso, como muito bem pontuou a especialista Nely Wyse recentemente, é indispensável compreender a transdisciplinaridade do fazer turismo, com um profissional que mensure toda a ilogicidade do setor e, por conseguinte, seja valorizado como tal.
 
Novas instituições que aprimorem o setor e tragam meios positivos de se educar o trabalhador são necessárias e muito bem-vindas. No entanto, é chutar um cachorro morto dizer que não são nos mundiais esportivos que elas devem se pautar. O turismo é terreno fértil e em largo crescimento para novos conceitos e formas de agir – como ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável, consumo verde. Por isso, educar o profissional do turismo é, antes de mais nada, educá-lo para a vida e para um olhar que compreenda, mesmo que forçosamente, a alegoria de se desenvolver esta atividade em paralelo à sociedade e ao crescimento positivo desta.