Tomás Ramos, diretor comercial da Othon Hotéis
(foto: Vinicius Medeiros)

Em entrevista exclusiva ao Hôtelier News, Ramos fala um pouco sobre o mercado de hotelaria carioca e brasileiro, bem como sobre os planos da rede para o Brasil. Em cinco anos, o grupo atingiu a marca de 51 hotéis em todo mundo. 
(Vinicius Medeiros)

Hotelier News: Recentemente o senhor voltou de Berlin, onde a Rede Othon participou da International Tourism Exchange (ITB), considerada uma das mais importantes feiras de turismo no mundo. Qual sua opinião sobre a importância de participar destes eventos internacionais e como foi a participação do grupo Othon na ITB?
Tomás Ramos: Todos os anos nossa rede participa das principais feiras internacionais do mundo, como a Bolsa de Turismo de Lisboa (Portugal), a FIT, em Buenos Aires (Argentina) e a FITUR (Espanha). Como possuímos hotéis tanto em Portugal quanto na Argentina, temos estande próprio nestes dois eventos, pois são mercados estratégicos e de muita importância para o grupo.
Precisamos de uma identidade própria para poder divulgar nossos produtos nestes países com mais eficiência.
Na ITB de Berlin, a Rede Othon participou junto ao estande da Embratur. Ainda assim, gostei muito, houve um grande volume de negócios. Agora uma coisa interessante eu pude observar: houve muita procura pelo Nordeste brasileiro. Antigamente você ia para as feiras e tinha 70% de negócios para o Rio e 30% para o Nordeste, mas agora isso se inverteu.

HN: O senhor crê que seja um novo caminho no turismo brasileiro? O que explica esta tendência? É possível inverter esta ordem?
Tomás Ramos: Como o Nordeste está aberto aos vôos charters, as operadoras estrangeiras procuram fazer todos seus direcionamentos de negócios via o negócio charteado. Então você tem uma procura grande por entradas via  Salvador, Natal, Recife e Fortaleza. Assim, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, por exemplo, acabam se tornando extensões destes pacotes.
Seria  interessante se o Rio também recebesse charters que permitisse a distribuição para os demais destinos. Mesmo com essa nova ordem, pode-se dizer que o Rio ainda é o destino mais conhecido no Brasil, mas uma coisa é certa: existem países que já procuram diretamente o Nordeste, como ocorre com o mercado português. 

HN: Sobre estas feiras internacionais, comenta-se que mais do que expor sua marca e estar junto das principais operadoras estrangeiras, faz-se muitos e bons negócios e que, infelizmente, o cenário nas feiras realizadas no Brasil é diferente. Não se faz bons negócios nos eventos brasileiros?
Tomás Ramos: Para a Rede Othon não há diferença. Agora, acho que este fenômeno acontece mais pela facilidade geográfica do que por qualquer outro motivo. Nas feiras nacionais, se deixamos de fazer um negócio, não há problema, pois temos representantes comerciais em praticamente todos os Estados brasileiros. Basta ao operador nos procurar. Já nas feiras internacionais, os operadores estrangeiros só têm aquela chance para negociar conosco, então o negócio tem que ser feito ali mesmo. A meu ver, a facilidade geográfica explica um pouco isso.

HN: O senhor recentemente passou a integrar a comissão organizadora do Fórum Comercial da Abih-RJ. Uma vez que até bem pouco tempo os executivos dos hotéis participantes eram considerados rivais e agora trabalham juntos pelo desenvolvimento da hotelaria carioca, qual a importância desta iniciativa?
Tomás Ramos: O fórum não é recente, mas o vejo como algo bastante interessante. É claro que o mercado é o mesmo para todo mundo, competimos, todos, pela mesma fatia, mas é claro que há pontos de interesses em comum para todos. A questão do café da manhã é um bom exemplo: inclui ou não inclui? Então, obviamente, se você toma uma decisão desta em grupo, ela tem um impacto. Quando você toma individualmente, tem outro impacto completamente diferente. Então, o que nós tentamos fazer é tomar decisões que beneficiem todo o setor. É bom deixar claro que não se trata de cartel, mas de troca de informações, o que é muito saudável em qualquer segmento. Vemos as últimas tendências do mercado e tomamos as decisões em comum.

HN: Durante sua ausência enquanto esteve na ITB, foi realizada uma nova reunião e nela o tema principal  foi como o dólar baixo vem enfraquecendo as receitas dos hotéis cariocas, apesar do bom início de ano para os hotéis da cidade. Como a Rede Othon enxerga este problema e na sua visão qual a melhor solução para este impasse?
Tomás Ramos: Tudo ainda está em fase de discussão. Umas quatro ou cinco alternativas estão sendo estudadas, como o congelamento do câmbio, o aumento das tarifas, entre outras, que estão sendo negociadas junto à Bito. Mas, sem dúvida, trata-se de uma questão complicada, uma vez que as tarifas lá fora estão publicadas, têm uma validade determinada.

HN: A Bito, através do seu presidente, Roberto Dultra, alegou que um eventual aumento poderia afugentar os turistas. O senhor crê nesta possibilidade?
Tomás Ramos: Veja bem, imagine que US$ 100 é o preço de um hotel 5 estrelas. Se eu aumentar esta tarifa em 40%, ela vai para US$ 140, o que pode tornar o Rio um destino menos competitivo que Buenos Aires e Santiago, por exemplo. A questão cambial só tem a ver conosco aqui no Brasil. Já para o cliente US$ 140 é US$ 140 em qualquer lugar, o que pode tornar o Rio um destino menos competitivo que o Caribe também, que historicamente é mais barato.
Você não deve esquecer também que um aumento de 40% pode encarecer muito o pacote para uma família de quatro pessoas. Isso sem falar na questão do visto, que aumentaria mais ainda o custo da viagem. Um eventual aumento poderia afastar turistas como os norte-americanos, que são um dos mercados mais importantes para o Brasil.

HN: Falando nisso, o senhor é a favor da liberação dos vistos aos norte-americanos?
Tomás Ramos: Sim. O Brasil quer ter portas abertas, o turismo nacional precisa do turista norte-americano e por isso devemos facilitar a entrada. A meu ver não há benefício com a exigência do visto, pelo contrário, quero mais que eles venham cada vez mais gastar seus dólares aqui. Assim, se o Brasil quer mesmo ser um país aberto ao turismo, deve ter leis que facilitem a entrada de turistas.
 
HN: Nos últimos tempos, a Rede Othon tem pautado sua expansão no Brasil pela associação da marca, em vez de construir seus próprios empreendimentos. Por que esta estratégia?
Tomás Ramos: É uma estratégia mundial. Talvez seja algo novo no Brasil, mas é uma prática comum em todo o mundo. A Marriott tem 4 mil hotéis no mundo, mas só é dona de seis. É sempre administração ou franquia, que é o nosso caminho, até porque para Rede Othon faz mais sentido, uma vez o grupo já possui onze hotéis.

HN: Não é de hoje que as grandes bandeiras hoteleiras investem no Brasil, mas nos últimos anos este processo tem se intensificado. Como a Rede Othon vê essa entrada maciça de novos grupos estrangeiros, especialmente espanhóis e portugueses?
Tomás Ramos: Não há problema nenhum e, pelo contrário, vemos com bons olhos. Quando uma rede espanhola investe no Brasil, o país automaticamente vai ter mais exposição no mercado espanhol. E, neste processo, a Rede Othon acaba pegando carona. Aqui no Brasil tem espaço para todo mundo, mas é aquilo, você tem que ter consciência de sua capacidade, de sua competência.
A concorrência te exige a ter o melhor serviço, o melhor produto. Acho que nós temos que sempre almejar aumentar o turismo aqui e trazer o interesse de grupos estrangeiros para o país é sempre positivo.                

HN: Recentemente, a Rede Othon aderiu ao grupo dois resorts no interior de São Paulo. Há interesse em investir neste segmento no Brasil e, mais, especialmente no Nordeste, região brasileira de grande destaque no mercado internacional?
Tomás Ramos: Sim, há interesse neste mercado de resorts. Temos uma linha estratégica bem definida e é até uma grata surpresa que está caminhando bem até aqui, pois tudo é muito recente – em cinco anos chegamos a 51 hotéis.
A gente tinha um foco na expansão da rede nas grandes capitais do exterior e cumprimos bem esta parte, pois hoje estamos com um hotel em San Francisco, Paris, Lima, Lisboa e Buenos Aires.
Sempre tivemos o objetivo de se desenvolver em São Paulo e também nos saímos bem, já que há cinco anos atrás tínhamos apenas um produto no estado e hoje temos nove.
Temos foco no Centro-Oeste e agora estamos com um empreendimento em Goiânia e, claro, no Nordeste, onde queremos compor um novo cenário com nossos hotéis em Salvador, João Pessoa e Fortaleza. Queremos, inclusive, um hotel em Macaé, cidade que vem crescendo muito. Em junho abriremos um empreendimento por lá.
Então, é claro que o segmento resort nos interessa, mas primeiro temos que continuar seguindo nossa linha estratégica. E esta estratégia será mantida nos moldes dos últimos anos, ou seja, através da associação da marca Othon aos empreendimentos e às franquias.

HN: Então, em curto prazo, a Rede Othon não planeja construir seus próprios hotéis?
Tomás Ramos: Exato, não vamos fugir da nossa estratégia. O que pode vir a acontecer é fazermos uma expansão do nosso produto em Salvador. Há a possibilidade de se construir uma nova torre dentro do espaço do Bahia Othon Palace.