Lançado pelo Ministério do Turismo (MTur) em fevereiro, o ProCopa Turismo, linha de financiamento exclusiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção, reforma e ampliação de hotéis, ainda não deu sua largada.
 
Encarado quase como uma tábua de salvação pela hotelaria, o programa ainda esbarra em questões burocráticas para realmente decolar. No mercado carioca, que vive uma espécie de corrida contra o tempo para adequar seus empreendimentos a tempo dos grandes eventos que receberá nos próximos anos, o clima é de insatisfação.
 
Por Vinicius Medeiros

 
O ProCopa destinará financiamentos de R$ 1 bilhão para reforma, ampliação e construção de novos hotéis em todo o Brasil. O programa disponibiliza três linhas, que trabalham os conceitos de Hotel Padrão, Hotel Eficiência Energética e Hotel Sustentável, com condições diferenciadas para cada padrão. As taxas de juros são de 6,9% para compra de máquinas e equipamentos nacionais.

 

Para outros itens, variam de 6,9% a 8,8%, dependendo da categoria. Os prazos de pagamento em operações destinadas a reforma variam entre oito e 12 anos; já para a construção de novos empreendimentos vão de 12 a 18 anos.
 
O estádio do Maracanã, que deve
receber alguns jogos da Copa de 2014
(foto: segredodogramado.files.wordpress.com)
 
Desenvolvido em parceria com as principais lideranças da hotelaria, as discussões para a criação do ProCopa ganharam corpo no ano passado, durante o auge da crise financeira internacional. Idealizado para ser um mecanismo de estímulo visando a Copa do Mundo, o programa ganhou ainda mais força no governo federal com a vitória da candidatura olímpica do Rio e a retomada da economia.
 
“O ProCopa é inegavelmente, um avanço, pois a exceção do Banco do Nordeste, que oferecia um financiamento com taxas vantajosas, mas prazos curtos, o mercado hoteleiro carecia de linhas de crédito atraentes”, diz Cristiano Vasquez, consultor da HVS International, multinacional especializada em gestão hoteleira.
 
Cristiano Vasquez, consultor da HVS
(foto: Peter Kutuchian)
 
“Ainda assim, o programa não faz milagres. Alguns entraves anteriores, como análise de crédito e apresentação de garantias bastante rigorosas, ainda se mantêm”, completa.
Burocracia
Vasquez revela que sua consultoria recebeu diversos questionamentos sobre o ProCopa. “Temos projetos que estão sendo reavaliados por conta do programa. A sensação de desconhecimento, no entanto, ainda impera entre os empresários do setor”, afirma. Alfredo Lopes, presidente da Associação da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), concorda com o executivo e ainda reclama da lentidão do governo em viabilizá-lo.
 
Alfredo Lopes destaca que existem alguns
entraves para as negociações
(fotos: arquivo HN) 
 
Segundo Lopes, a obtenção das certificações creditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) referentes à eficiência energética e sustentabilidade, que permitem aos investidores conseguir condições mais vantajosas, é o principal entrave.
 
“Há muita desinformação. Quando procuramos o Inmetro, o órgão nada sabia. Depois, disseram que empresas credenciadas fariam as certificações. O setor possui boa estrutura, mas tem data e hora para crescer. Dependemos do financiamento e está tudo atrasado. Hotéis com projetos aprovados na prefeitura não conseguem tocar as obras sem crédito. Outra demanda do setor, um pacote de incentivos fiscais municipais e estaduais, tampouco saiu do papel”, reclama.
 
Abel Castro, diretor de Desenvolvimento da francesa Accor Hospitality, um dos grupos que mais investe no Rio atualmente, é outro que reclama da morosidade do governo. “A Accor em particular não procurou as linhas de crédito. E nem vai, já que são os investidores parceiros de nossos projetos que o fazem. Mas, pelo que ouvi deles, nenhum obteve êxito. O mercado em geral está carente de informações”, avalia.
 
Abel Castro destaca que o mercado
está carente de informações

 
Ao consultar o BNDES, Cristiano Vasquez soube que a certificação de eficiência energética é a mais próxima de ser oficializada. “Por enquanto, os hoteleiros interessados apresentam seus projetos com equipamentos eficientes e sustentáveis, mas são obrigados a contratar a linha básica. Ele só receberá as certificações com o hotel em operação. Se o financiamento ainda estiver no período de carência, ele migra automaticamente para outra categoria. Do contrário, será obrigado a pagar a padrão até ser certificado”, enfatiza.
 
Para o consultor, com a formatação atual, o ProCopa seria mais indicado para reforma ou ampliações. “Os investidores precisam apresentar garantias de 130% do total contratado. No caso de reforma ou ampliações, por exemplo, o hoteleiro pode colocar o próprio hotel como garantia. Obviamente, o mesmo não acontece com novos empreendimentos. Além disso, com a explosão imobiliária atual, que encarece os terrenos, e as baixas diárias cobradas pelo setor alguns projetos não se viabilizam”, completa.
Investe Rio
Apesar das incertezas sobre o ProCopa, os governos municipal e estadual do Rio trabalham para disponibilizar mais recursos para o setor. Segundo Márcia Lins, secretária estadual de Turismo, Esporte e Lazer, os incentivos fiscais também devem sair em breve.
 
Márcia Lins, aponta que os governos municipal e estadual do Rio
de Janeiro querem disponibilizar mais recursos ao setor   
 
“Estudamos com o mercado hoteleiro alguns incentivos para impostos estaduais, bem como procedimentos de cobrança duplicados de algumas taxas. Do lado dela, a prefeitura já está encaminhando para a Câmara propostas de modificação de legislação. Em paralelo, estamos em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e com a Investe Rio para criar uma linha específica de financiamento”, revela.
 
Procurado, Maurício Chacur, presidente da Investe Rio, confirmou a informação, mas revelou que a linha ainda está sendo formatada. “Enquanto não sai, estamos habilitados para repassar o ProCopa. Ainda assim, apesar de algumas sondagens, não recebemos nada de concreto”, informa. 
 
Para Chacur, o novo produto será um bom complemento para o ProCopa. “Pelo que estamos vendo, o ProCopa focará grandes projetos nas capitais. Ainda não temos nada definido, mas a ideia é atender pequenos estabelecimentos, em especial do interior, onde o acesso ao crédito é ainda mais restrito”.
 
Apesar dos planos, o executivo também reclama da maneira burocrática como financiamentos públicos são obtidos no Brasil. “Infelizmente, vivemos em um país extremamente burocratizado. Para a maioria dos empresários, o crédito é restrito. A burocracia é excessiva. Precisamos rever isso”, finaliza Chacur.
 
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