Marco Aurélio Palmerston, diretor comercial do Grupo PrivéMarco Aurélio Palmerston, diretor comercial do Grupo Privé
(fotos: Juliana Bellegard e divulgação)

Timeshare ou, em bom e velho português, tempo compartilhado, é um segmento do turismo que consiste na aquisição do direito de usufruto de um meio de hospedagem por um período determinado de tempo. Diz-se o setor que mais cresce dentro da indústria de viagens no País. E, pudera: ainda está em vias de difusão no mercado brasileiro. Isso deve-se, em parte, à confusão feita por alguns players do mercado, que insistem em vender a ideia de timeshare como um ótimo investimento, sem esclarecer ao consumidor exatamente no que ele está investindo. Para muitos clientes, o conceito parece, ainda, muito distante da sua realidade.

É como um empreendimento turístico normal – são apartamentos, chalés, bangalôs ou villas comumente instalados em resorts e que estão à venda. O turista interessado adquire o direito de usufruto do estabelecimento. Pode ser uma fração da propriedade do imóvel  – fractional – ou uma cota de tempo de hospedagem. Com isso, tem direito a utilizar determinadas semanas por ano. Os trâmites desta combinação, quais os direitos dos proprietários, quanto tempo ele pode desfrutar da unidade e como será feita a divisão deste tempo fica a critério de cada empresa desenvolvedora. Existe, ainda, a possibilidade de usar suas semanas como crédito em outros empreendimentos – o chamado intercâmbio de férias.

Privé Boulevard, um dos hotéis do grupoPrivé Boulevard, um dos hotéis do grupo

Este conceito surgiu na Europa e já foi associado exclusivamente a empreendimentos de alto luxo, propostas de negócios voltadas para a classe A e suas subdivisões. Não tarda, no entanto, em alcançar outras praças e chegar à festejada nova classe média brasileira, a famigerada classe C. Quem aposta nesse modelo de negócios para este nicho de clientes é o grupo Privé, rede hoteleira caldense que atua no Estado de Goiás há mais de 30 anos. “Outras empresas vendem imóveis de luxo. Nós pegamos um público diferente, ainda não atendido”, explica Marco Aurélio Palmerston, diretor comercial do grupo.

Por Juliana Bellegard

“Quando começamos, era difícil vender o produto, falar em fractional. Percebemos que, pensando no mercado local, não conseguiríamos vender apartamentos com parcelas altas”, diz Palmerston. Isso porque, segundo ele, cerca de 60% da demanda turística da cidade de Caldas Novas é proveniente do público de classe média e os dois maiores mercados emissores para os hotéis da rede são Goiânia e Brasília. Os destinos somam 65% da demanda do grupo, seguidos por Minas Gerais, com 10% dos clientes.

Por isso, a foco da rede foi apostar no chamado SIC – Sistema Inteligente de Cotas. O cliente paga apenas pelo tempo que ele utilizar, podendo comprar cotas de cinco e três semanas. Das 52 semanas do ano, 50 são divididas entre os dez proprietários e duas ficam para a administradora, para realizar serviços de manutenção necessários periodicamente. “Fomos pioneiros de fractional no Brasil quando se fala em oferta para as classes B e C”, aponta o executivo, ressaltando que a meta do grupo é alcançar o posto de maior vendedor de cotas no País.

O grupo, que já atuava no segmento imobiliário e turístico, optou por trabalhar com este nicho de clientes em 2009, e a iniciativa rendeu bons resultados. A estratégia, desde então, vem sendo aprimorada. Os dois primeiros empreendimentos venderam um total de 2 mil cotas. Foram 1,6 mil, ou 100% das unidades, do Marina Park, que conta com 160 apartamentos e deve ser inaugurado no fim do ano, e 400 cotas (representando cerca de 27% da unidade e uma receita de R$ 12 milhões) do Atrium Thermas Residence Service, com previsão de entrega para daqui três anos e meio.

Palmerston com a equipe do grupoPalmerston com a equipe do grupo: Marco Ribeiro, gerente
Comercial de Hotelaria, Marcos Freitas, gerente de Negócios, Ézio
Afonso, superintendente, e André Ladeira, gerente de Operações

A estimativa é de completar as vendas deste segundo empreendimento em julho próximo e, em agosto, lançar dois novos hotéis – o Ilha do Lago, em agosto, e outro, em setembro, ainda sem nome definido. Com isso, o Privé soma 6.410 cotas – e a expectativa é de que estes negócios somem, nos próximos dois anos, entre R$ 300 e R$ 350 milhões. Completando o portfólio da rede está o Riviera Park, unidade com 780 apartamentos que será inaugurada em 2013 e já tem todas as suas cotas vendidas.

Diferenciais
As duas unidades a serem lançadas pelo grupo serão comercializadas de uma maneira diferente, com um sistema flexível dos períodos a serem utilizados pelos clientes. No modelo anterior, o proprietário tinha semanas fixas de uso do empreendimento – todos os anos, por exemplo, hospedar-se-ia ali durante o feriado do Carnaval. A nova proposta, apresentada por Palmerston por meio de um gráfico redondo, é fazer um rodízio completo de feriados, semanas de média e baixa temporadas. Assim, num período de dez anos, os clientes conseguiriam aproveitar todas as datas comemorativas e períodos de menos movimento.

Mas não é somente pela forma de vendas que o Privé busca destacar-se. O grupo trabalha também para dar aos clientes de classe média algo que eles prezam muito: facilidade para o bolso. De acordo com o gerente Comercial, o Atrium, por exemplo, pode ser comprado com uma entrada de R$ 2,5 mil, dividida em duas vezes, e um parcelamento do restante do valor em até 72 vezes. Já o Ilha do Lago terá um valor fixo pela cota de cinco semanas (R$ 45 mil), mas o grupo venderá também algumas semanas avulsas – Palmerston estima vender “lotes” de duas ou três semanas.

Mercado de timeshare
O investimento do grupo Privé não vem sem embasamento factual. Em artigo publicado no Hôtelier News , Alessandro Gueiros, da TimeShare Brasil Consultoria, explica que embora as primeiras tentativas de trabalho com o sistema no Brasil tenham sido feitas nos anos 1980, foi nos anos 2000 que este modelo de negócios se fortaleceu. Dados apresentados no último ano por Ricardo Montaudon, presidente da RCI para a América Latina, apontam crescimento de 402% nas vendas de propriedades compartilhadas no Brasil.

A entrada do Hotel Privé, uma das unidades do grupoA entrada do Hotel Privé, uma das unidades do grupo

Por outro lado, a celebrada classe C também prospera. Embora ainda não faça parte do grupo de viajantes frequentes, a expectativa do Data Popular, instituto especializado em pesquisas para este segmento, é que os chamados emergentes movimentem, este ano, em R$ 11 bilhões a economia do turismo no País.

A abrangência do sistema de timeshare no Brasil, assim como a popularização deste segmento do turismo, aos poucos se revela. Existem alguns empreendimentos que já trabalham com isto há algum tempo e obtiveram resultados positivos. Este os que se destacam estão o Beach Park e o Rio Quente Resorts.

O primeiro, de acordo com Murilo Paschoal, seu gerente geral, conseguiu organizar seus períodos de demanda com o sistema, em vigor desde 2006. Já o Rio Quente tem uma estratégia bastante efetiva em relação ao timeshare – o segmento já soma 50% de suas vendas, e o complexo destinará seu novo hotel, o Cristal, somente a este público. O grupo Privé estabelece-se, neste mercado, como outro destes destaques.

O grupo Privé
A presença da empresa no mercado de Caldas Novas não é por acaso. Waldo Machado Xavier e Terezinha Palmerston eram, em 1964, sócios do grupo Eldorado, que fundou a Estância Thermas pousada do Rio Quente – hoje o Rio Quente Resorts. Desligaram-se, em 1979, da sociedade e iniciaram o trabalho com o Privé, com o objetivo de explorar as indústrias do turismo e da hotelaria na cidade. Atualmente, a companhia atua também nos segmentos imobiliário e de lazer e entretenimento.

O Water Park foi inaugurado neste anoO Water Park foi inaugurado neste ano

Recentemente, em paralelo ao desenvolvimento de novos meios de hospedagem, o grupo inaugurou seu parque aquático: o Water Park. Está situado também em Caldas Novas, como os outros projetos do Privé, próximo a alguns empreendimentos da rede. A estrutura é complementar ao Clube Privé, espaço de lazer que conta com piscinas, ofurô, equipe de recreação, lanchonete, pizzaria e sorveteria. Os clientes dos hotéis da rede têm acesso a, pelo menos, um dos parques, dependendo da unidade onde estão hospedados. Também é possível tornar-se sócio do clube – o que faz com que o grupo consiga atingir diferentes nichos de visitantes e público da própria cidade.

O grupo possui licenças para exploração das águas termais de 18 poços da região, o que permite a manutenção das piscinas dos hotéis e dos parques aquáticos, além de haver reservas para os próximos projetos. Existe, no entanto, uma preocupação em relação à sustentabilidade deste uso: o Privé é signatário do termo de ajustamento de conduta para a preservação do lençol freático destas águas. Além disso, há programas de conscientização, coleta de lixo seletiva, coleta de óleo de cozinha e uma lavanderia com sua própria estação de tratamento de esgoto industrial.

Serviço
www.rededehoteisprive.com.br