Hernán Saucedo no âmbito de trabalho. A piscina do Pérola Búzios é convidativa, mas o executivo prefere a água do mar, principalmente em cima de uma prancha de surfe
(fotos: Peter Kutuchian, Vinicius Medeiros e divulgação)

Argentino de nascimento, brasileiro de coração. Mas, mais do que isso, um executivo de hotelaria preparado e competente, com passagens por grandes redes brasileiras e internacionais. Este é Hérnan Saucedo, de 38 anos, que há dois anos assumiu a gerência geral do Pérola Búzios Design Hotel, no Rio de Janeiro, com um desafio: reestruturar o empreendimento e trazê-lo novamente aos lucros – trabalho assumido e plenamente alcançado, vale ressaltar. Conheça agora um pouco da vida e das opiniões de Saucedo, que entre o escritório e os desafios do trabalho, ainda encontra tempo para curtir os bons restaurantes e pricipalmente o mar da cidade.

Por Vinicius Medeiros

Hôtelier News: Quase ninguém se envolve com hotelaria por acaso. Com você, como surgiu o interesse pelo setor? Como a hotelaria surgiu em sua vida?

Hérnan Saucedo: Quando tinha oito anos, minha família foi morar em Caracas, na Venezuela e, durante todo o primeiro ano, vivemos no Anauco Hilton. Este foi meu primeiro grande contato com a hotelaria. Nos anos seguintes viajamos muito, sempre ficando em diferentes categorias de hotéis. Em 1988 tive oportunidade de estudar na Boston University, em Boston (EUA), onde conheci José Ignácio Perez Garcia, que era filho do diretor geral do Melia Castilla, de Madri.

À época, ainda não tinha muito claro em minha mente o que queria estudar e só tinha trabalhado de salva-vidas na praia. O José me incentivou a trabalhar com hotelaria, convidando-me para trabalhar como trainee no Melia Castilla, na Espanha. Aceitei e lá passei por diferentes áreas. Mais do que um grande aprendizado, aquela experiência foi um grande estímulo e a descoberta de uma vocação. Retornando para Caracas, em 1989, comecei a trabalhar na equipe de recreação do hotel Eurobuilding Caracas. Hoje, o que posso te garantir é que já se passaram 18 anos e a minha paixão pela hotelaria só aumenta. É um negócio fascinante.


Hernán com sua esposa Carla, que também trabalha no Pérola Búzios. É ela quem gerencia o departamento de eventos

HN: Você é argentino de nascimento, mas já trabalhou no Brasil, Venezuela, Espanha, Estados Unidos e, claro, em sua terra natal. Quais as principais diferenças e semelhanças destes mercados? E o que você aprendeu de importante em todas estas passagens? Entre elas, qual foi a mais marcante?

Saucedo
: Os mercados hoteleiros são muito semelhantes em qualquer lugar do mundo. O que os diferencia são os códigos de comunicação e costumes que cada país possui. A essência da hotelaria é universal, mas descobrir o que realmente faz a diferença para cada cultura e para cada perfil de hóspede que o empreendimento esteja focado, sem dúvidas, é o grande desafio. Acompanhar as tendências do mercado, a evolução dos produtos e serviços é nossa obrigação, independente do país ou cidade que estamos trabalhando. O grande aprendizado é o quanto todas estas experiências te preparam para se relacionar com diversas culturas, seja para comandar uma equipe, bem como para se relacionar com o cliente. Isto é essencial para nossa profissão. Em Búzios, estou tendo uma experiência muito gratificante neste sentido, já que no dia a dia lido com hóspedes de pelo menos oito nacionalidades diferentes.

Em relação à minha carreira, o que posso dizer é que cada experiência deixou sua marca, uma vez que sempre procurei aliar a parte profissional à minha vida pessoal. Então, de cada uma delas procurei tirar proveito para me preparar melhor e, com certeza, desde então todas têm me agregado muito. Ainda assim, posso destacar minha passagem pelo Quality Suítes Hotel, em San Diego (EUA), onde, aos 24 anos, tive minha primeira oportunidade de assumir um cargo de gerência. Por outro lado, o Brasil me acolheu de uma maneira muito especial e aqui tive a oportunidade de trabalhar ao lado de grandes empresários, como o Douglas Borcath, do Hotel Rayon de Curitiba, Fernando Marcondes, do Costão do Santinho, em Florianópolis, Alceu Vezzozo Filho, da Rede Bourbon, e Christer Holtze e Paul Sistare, da Atlantica Hotel International, que certamente contribuíram muito na minha formação profissional.


Hernán (ao centro) recebendo prêmio
da Atlantica Hotels International

HN: Muito se fala no bom momento vivido pela hotelaria de Buenos Aires atualmente, com altas ocupações e diárias médias. A que você atribui este bom momento?

Saucedo
: O turismo tem apresentado incremento no mundo inteiro e na Argentina, que tem crescimento econômico significativo desde 2002, não é diferente. Além disso, Buenos Aires é sem dúvidas um destino que agrada a todas as nacionalidades. É uma cidade que não pára, com uma diversidade de hotéis, espetáculos, restaurantes e patrimônios culturais enorme. Além disso, hoje o câmbio favorece muito e deixa o destino ainda mais atraente. Minha mulher Karla e minha filha Tabatha, por exemplo, são duas amantes de Buenos Aires, assim como muitos outros brasileiros. O mundo está de olho na América do Sul, seja para investimentos, seja para lazer.

HN: Sua passagem pela rede Bourbon foi marcada pelo fato de ter trabalhado na reestruturação de alguns empreendimentos do grupo. Como foi essa experiência e o que tirou de positivo disso tudo?

Saucedo
: A rede Bourbon é uma empresa que me deu a oportunidade de demonstrar a minha capacidade de reverter situações. Desde o primeiro dia, me senti muito à vontade e surgiu um relacionamento de respeito mútuo muito interessante. O Alceu Vezozzo Filho confiou em mim e, em nove meses, viramos a situação da unidade em São Paulo. Sem dúvida, para fazer isto é importante criar um relacionamento de confiança e respeito mútuo, além de saber valorizar as nossas características. Há ainda uma história interessante: sendo um amante de motos, devo ter sido o primeiro gerente geral da rede a chegar de moto ao trabalho. A Bourbon soube respeitar as minhas características e gostos pessoais valorizando-me como executivo.

O que tirei de positivo dessa experiência é que não tem lugar ruim ou bom para trabalhar. Somos nós quem devemos criar nossa própria experiência. Basta saber interpretar as necessidades de quem te contrata.


Na mesa em sua sala no Pérola Búzios

HN: Em sua passagem pelo Brasil, você esteve muito ligado ao Sul do país, trabalhando em diversas cidades da região, como Curitiba, Joinville e Florianópolis. Como está sendo viver no Rio de Janeiro, especialmente em Búzios?

Saucedo
: Todos os que me conhecem sabem que sou um amante de praia e esportes náuticos. Búzios me oferece a oportunidade de exercer a minha profissão e estar mais em contato com o mar. O simples fato de ir ao trabalho e obrigatoriamente ver o mar é uma recompensa muito agradável. O Rio de Janeiro é uma das cidades mais conhecidas e famosas do Brasil e ter esta Cidade Maravilhosa a duas horas de carro é um privilégio. Ao mesmo tempo, nós, hoteleiros, temos que ter a facilidade de nos acostumar ao lugar, independente de onde seja. E, para isto, sempre conto com a minha esposa e minha filha.

HN: Como está sendo essa experiência de, pela primeira vez, gerir um hotel design? Mais ainda, um hotel menor e independente, depois de trabalhar em grandes redes e empreendimentos maiores?

Saucedo
: Está sendo muito especial, uma vez que ao longo da minha carreira nunca havia gerido um hotel design. Aqui, temos a obrigação de estar sempre criando coisas novas, já que quase tudo deve fugir um pouco do padrão. Temos que estar inovando constantemente para nos diferenciarmos no mercado e tudo com os próprios recursos gerados pela operação. 

O mais especial, no entanto, é que aqui o proprietário deixou toda a responsabilidade de gestão do empreendimento para mim. Desta forma, disponho de total liberdade para agir e aplicar toda a experiência que adquiri. Coloquei em prática os relatórios e padrões organizacionais das redes e, ao mesmo tempo, minha própria maneira de gestão, assumindo 100% dos riscos. O Pérola Búzios é maravilhoso, um produto pelo qual me identifiquei de imediato e assumi como se fosse meu. Sei da situação privilegiada em que me encontro e estou dando tudo de mim para melhorar o hotel.

Até o momento, a fórmula está funcionando, já que em um ano revertemos a situação. Em 2005, fechamos com um prejuízo de quase R$ 1,2 milhão e, depois de 12 meses de trabalho, fechamos 2006 com R$ 151 mil de lucro. Nosso objetivo para esta segunda etapa é atingir um lucro de R$ 850 mil em 2007.


E na crista da onda, um dos locais que também adora estar

HN: Depois de trabalhar no reposicionamento do Pérola Búzios e trazê-lo de volta à lucratividade, qual o próximo passo para o hotel?

Saucedo
: A palavra-chave deste ano é requintar e sofisticar ainda mais o produto e seus profissionais. Em 2006, alcançamos a estabilidade financeira, a partir de agora começam as mudanças para nos diferenciarmos ainda mais no mercado. Este ano, o Pérola Búzios deu um grande passo nesse sentido com a inclusão no reconhecido guia de hotéis de luxo Conde Nast Johanssen.

HN: Este ano o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Pan-Americanos e Búzios, como uma das cidades mais conhecidas e visitadas por turistas no estado, deve receber uma grande quantidade de visitantes. Qual a expectativa para o evento e como o Pérola Búzios está se preparando para esta grande demanda?

Saucedo
: Nós estamos falando e trabalhando sobre este assunto desde agosto de 2006. Búzios sofre um período de baixa ocupação que é justamente neste período dos Jogos Pan-Americanos. O nosso representante do Rio e nós, aqui em Búzios, já estamos contatando as agências que poderão contribuir a gerar esta demanda para a cidade e para o nosso empreendimento em particular. Na hotelaria é muito importante efetuar um trabalho de vendas e marketing com antecipação para não ficar fora destes grandes eventos. Posso te afirmar que estamos preparados e bastante confiantes.

HN: Fale um pouco sobre a iniciativa da criação da associação Búzios Collection? Como surgiu a idéia? Quais os benefícios que seu empreendimento teve desde então? Quais os próximos passos da associação?

Saucedo
: A Búzios Collection surgiu de uma iniciativa do secretário de turismo, Armando Ehrenfreund, e um grupo de hotéis e pousadas independentes que tinham uma visão e estratégia de marketing e vendas similar. Todos estávamos de acordo que para gerar demanda, antes de tudo, tínhamos que nos preocupar em vender o destino. Isto certamente requer grande participação da secretaria, mas também de um grupo de empresários dispostos a investir na participação de feiras no exterior, o que fatalmente se traduz na ampliação da carteira de clientes. Com isso, estamos ingressando forte nos principais mercados europeus e, depois de um ano, já estamos recolhendo frutos. A presença de turistas estrangeiros no Pérola quase duplicou até o momento.

HN: Avaliando toda a sua vida profissional, notamos que tem uma vida de cigano, passando por diversas empresas, cidades e países. É claro que isto tudo é normal na vida de um bom hoteleiro, mas qual o seu próximo passo? O que você pretende fazer no futuro? O Brasil faz parte dele?

Saucedo
: Sempre conservo um grande relacionamento com as principais redes hoteleiras e o ingresso de novos investimentos no Brasil abre um horizonte muito promissor a todos os hoteleiros – e, claro, para mim não é diferente. Tenho vários planos e objetivos, mas, hoje, tenho que concluir uma etapa. Estou vivendo um grande momento, tanto pessoal como profissional, e oportunidades sempre surgem.

O Brasil é parte de mim e realmente não tenho intenções de abandonar o país. Na vida de hoteleiros, no entanto, é difícil traçar um futuro muito certo, já que a evolução do setor e a proximidade dos continentes fazem com que você fique preparado para mudanças. Tenho que aproveitar que sou jovem e tenho muitos anos de vida profissional ainda pela frente. Além disso, alimento o sonho de ter meu próprio empreendimento, mas tenho muito claro na minha mente uma coisa sobre o futuro: sempre estarei ligado a este fascinante mundo hoteleiro.

Serviço
www.perolabuzios.com