O Hôtelier News entrevistou José Ramos, gerente Nacional de Operações da marca Parthenon, da Accor Hotels. Com 60 unidades em operação por todo o País, a Parthenon é uma das mais antigas redes de flats do Brasil.
Na entrevista, Ramos fala sobre os planos da Accor sobre a expansão da marca, a retomada das operações, após um período de entrega de unidades, a visão sobre o crescimento do turismo brasileiro, entre outros assuntos. Sugerimos a impressão da matéria para uma boa leitura. (Peter Kutuchian)

Hôtelier News: Fale um pouco da Rede Parthenon, como ela está atualmente, quais são as próximas aberturas e quais os planos de expansão da rede?
José Ramos: A rede está com 60 empreendimentos em operação no Brasil todo. As próximas abertura são em Muro Alto, que é o primeiro resort da marca Parthenon, e outra na cidade de Santos, em São Paulo. Oficialmente já temos 6 projetos assinados para os próximos meses.

HN: E são projetos novos ou empreendimentos já em operação?
Ramos: São os dois casos. Alguns são novos e alguns são até operações de outras marcas que estaremos assumindo. É interesaante, vamos entrar em um processo inverso do que nós fizemos. Saímos de vários empreendimentos no passado e temos duas situações em que fomos convidados a assumir a operação de outras bandeiras.

HN: Falando nisso a rede Parthenon, alguns anos atrás, deixou de administrar vários empreendimentos. Isso gerou uma expectativa no mercado de que a marca Parthenon estaria sendo substituída por outra marca da Accor. Vocês deram a volta por cima ou o mercado entendeu errado?
Ramos: Com certeza. Eu acho que tanto em termos internos da própria Accor, isso está muito claro. Hoje a Accor Hotels é uma marca bastante grande realmente. São 120 hotéis e metade são da marca Parthenon. Isso mostra que realmente é uma marca bastante forte e que tem um peso bastante grande pra companhia. No mercado acredito que isso ficou bastante claro. O que nós fizemos foi o que toda empresa tem que fazer quando chega num determinado patamar. Que foi uma fase de renovação. Estamos trabalhando para que todos os hotéis Parthenon tenham uma padronização. E isso fica difícil quando existem empreendimentos antigos na rede.

HN: Em relação ao empreendimento de Muro Alto, em Pernambuco, é um novo conceito para a Accor. Um Parthenon voltado exclusivamente para o lazer, um resort na verdade. Como é isso? Foi uma idéia que nasceu dentro da Accor?
Ramos: Eu posso dizer que ela nasceu de uma situação atípica realmente, a formatação do projeto já nasceu com a ideía de um mix de moradores e hóspedes. O conceito foi desenvolvido dessa maneira desde o princípio, ou seja, muitos tinham o interesse de comprar o apartamento, mas deixavam muito claro que iriam morar. E nessa situação a marca que se encaixa dentro desse foco é a nossa. A Accor hoje tem uma experiência muito boa com o segmento de lazer, veja o caso do Sofitel em Sauípe, é esse know-how que estamos levando para Muro Alto. Estamos apostando muito nesse segmento para essa unidade. Hoje, tudo que pensamos e executamos, há a certeza de que o sucesso vai ser grande. Eu acredito que esta é uma formatação que pode ser muito interessante. Temos algumas praças que podemos estar fazendo isso. E não só em cidades litorâneas, podemos aplicar este conceito nos centros das grandes cidades e fazer algo muito interessante para o lazer.

HN: Um dos grandes desafios da hotelaria paulista é ter uma boa ocupação nos finais de semana. Eu lembro que uns dois anos atrás vocês o Pacote Cultural. Como foi a aceitação do mercado?
Ramos: A diária cultural foi responsável por aumento de 5% em toda a hospedagem que gera pra rede no final de semana, isso no Brasil. No ano passado a gente lançou a Viva SP, em comemoração aos 450 anos da cidade, que também oferecemos aos turistas que vêm de fora, eles apresentam um ticket de pedágio, ônibus ou avião. Tivemos um crescimento no orçamento de 19%. Isso mostra que está dando certo.

HN: E quais são os índices de ocupação nos finais de semana em São Paulo?
Ramos: 35% em média. Que é um porcentual alto. Temos conseguido um grande grupo de pessoas que vêm para São Paulo para assistirem peças de teatro e que utilizam os nossos hotéis para se hospedar na cidade.


Fachada do Parthenon Itacorubi, em Florianópolis. O mais recente Parthenon inaugurado

HN: E a ocupação em 2004 da rede Parthenon foi de quanto?
Ramos: 60% em média no Brasil. Temos destinos com taxas muito boas, como Manaus, Porto Alegre. Comparando com alguns anos atrás, o crescimento está bem consistente.

HN: Vocês investiram também em empreendimentos comerciais. Quantos Parthenons Offices a Accor tem hoje?
Ramos: Hoje nós temos 5 empreendimentos. Mas isto está mudando. Estamos saindo desse segmento e passando para uma empresa que é do ramo. A marca Parthenon ainda é utlizada por essa empresa, mas o nosso intuito não é de ter mais empreendimentos comerciais com a nossa marca. A experiência mostrou que precisa ter alguém muito especialista nessa área. Os nossos produtos foram muito interessantes, deram muito resultado. O que fizemos foi transferir esses cinco empreendimentos para outra marca, na realidade para um colaborador nosso que foi o grande pensador dessa história.

HN: Vocês não pensam em desenvolver empreendimentos mistos, com andares de escritórios e de UHs?
Ramos: Nós já fomos consultados sobre isso, mas não temos nada fechado ainda. O detalhe é que esse empreendimentos tem que sair do papel com esse conceito. Mas ainda temos nada oficial não.


José Ramos, gerente Nacional de Operações da Parthenon
(foto: Peter Kutuchian)

HN: Você diz que tem 5 projetos já assinados com a marca Parthenon. Perante as outras marcas da Accor não é um pouco? A tendência é que a Accor invista mais nas marcas Ibis e Formula 1?
Ramos: No segmento econômico, sim. Esse é o segmento que a Accor está focado agora. O mercado está pedindo isso. A rede Parthenon está presente em grandes praças, ou seja, como extensão. Hoje existe uma carência em cidades pequenas e a formatação do Parthenon em cidades pequenas não é o nosso foco. O certo mesmo é a marca Ibis, que é econômica. Não estamos fechados para outras praças onde não estamos presentes ainda, onde temos interesse. Palmas, por exemplo, é uma cidade que a Parthenon está presente, é uma cidade interessante, estamos negociando em Salvador. São alguns destinos que não estamos presentes, mas temos interesse sim. Quero deixar bem claro que iremos fechar contratos com empreendimentos que deêm resultado. O nosso crescimento hoje não é quantitativo, mas qualitativo.

HN: Em relação aos investidores o que você vê como maior empecilho para o desenvolvimento do empreendimento. Você ainda tem esse tipo de problema hoje nos 60 empreendimentos?
Ramos: Olha, eu classificaria os investidores em dois tipos. Os investidores antigos estão atravessando uma fase muito difícil. Eles entraram no negócio numa fase excelente que deu muito resultado. Eles tiveram uma queda bastante grande e ainda se queixam de uma retomada, aliás, ele têm uma grande expectativa de qual será esse momento. Temos afirmado que vai haver uma retomada, mas não naqueles patamares. É muito importante que isso fique claro. E o investidor tem muita pressa, não há paciência, inclusive coloca os imóveis para venda. Isso é ruim porque se há muita oferta para a venda o preço do investimento também cai. Tanto o preço do imóvel quanto a oportunidade. Nós percebemos que os investidores que entraram nesta fase, são muito mais conscientes. Onde ele percebe que o seu investimento é seguro. O retorno é a médio e longo prazo. Ele não pode ter mais expectativa de curto prazo. Houve uma época em que se abria um empreendimento e quatro dias depois já havia rentabilidade. Temos portanto, duas classes de investidores. O mercado está mais lento. A nossa instrução hoje para nossos investidores é que o patrimônio dele tem que ser conservado. Nas nossas assembléias e reuniões dizemos que se o empreendimento está dando algum resultado, uma parte deve ser investida no patrimônio. Quando o mercado retomar o investimento estará atualizado. Este é o trabalho que estamos fazendo com os nossos investidores.

HN: E está dando um resultado positivo?
Ramos: Eu diria que hoje sim. Nós estamos numa fase de muita resistência, como é que eu vou investir em algo que não está me dando resultado? Temos tido muito sucesso. Um dado interessante é que de 60 empreendimentos, 10 estão em plena reforma. Tanto na parte das áreas públicas como nos apartamentos. É um bom número.

HN: O Brasil é um país com grande potencial turístico. Existe uma grande oferta para a criação de novos destinos. Geralmente os hotéis chegam sempre onde o destino já está consolidado. E se fosse ao contrário? As redes hoteleiras criassem primeiro os destinos, como foi o caso da Costa do Sauípe. O que você acha disso? Por que isso não acontece no Brasil com maior freqüência?
Ramos: Eu concordo com você. Hoje, se você analisar é um ato de comodismo. Você só vai entrar onde já o destino já está consolidado. Para que isso se inverta, é necessário que exista um trabalho em conjunto com os municípios, governos estaduais, investidores privados, associações, etc. Se qualquer um desses órgãos fica isolado não vai haver sucesso. Eu acredito que isto está mudando. As instituições estão se organizando, conversando mais. Se pensarmos conjuntamente antes, podemos sim, ter esse estilo no Brasil. Existem muitos destinos maravilhosos. A hotelaria sozinha não vai fazer isso. Vai ser necessário investir, e não é pouco, é muito caro.


Lobby do Parthenon Blumenau, em Santa Catarina 

HN: A Accor, por exemplo, sendo a maior rede hoteleira do País e a quarta maior do mundo, pode ter um departamento para cuidar disso, de executar esse trabalho, para que o mercado não dependa de instituições governamentais, mas, que seja mais direto junto a esses órgãos.
Ramos: Já estamos fazendo isso. Os principais executivos da Accor estão em entidades que lutam pelo turismo. Temos tudo isso estruturado para batalhar. O grande papel dos nossos executivos hoje, paralelo aos interesses da empresa é exatamente isso. Veja o caso de Bonadona ? Roland de Bonadona, diretor executivo da Accor Hotels ? que preside o Fohb (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil) e do Orlando de Souza ? diretor operacional da Accor Hotels para as marcas Novotel, Mercure e Parthenon ? que é o presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau. Através do engajamento desses e de outros executivos que temos conseguido o crescimento do setor. Em todos os destinos em que estamos presentes, temos executivos que estão em algum órgão. A Accor é muito sutil nesse sentido, se não fica a impressão que é algo em busca própria. Estamos lutando para aumentar a demanda de eventos e do turismo.

HN: Como vocês investem no profissional. Existe algum programa?
Ramos: A Accor tem uma oficina hoteleira em parceria com a Ibis, que prepara o profissional tanto para a Accor quanto para o mercado. Hoje, o projeto é um sucesso, já está no quarto ano, tivemos quatro turmas formadas. Essa é mais uma maneira que estamos buscando o crescimento do setor.

HN: E o novo empreendimento em Florianópolis, o Parthenon Itacorubi, fale um pouco sobre ele.
Ramos: Ele está localizado, pela primeira vez, fora do centro da cidade, onde já temos um outro empreendimento. Próximo ao empreendimento, existem várias universidades, vários orgãos comerciais. Um dado interessante: no primeiro dia de operação, sem nenhuma divulgação, pois estamos em soft opening, tivemos 15 estadas. Como estamos localizados no caminho para algumas praias e como é inverno, os turistas procuram pousadas e hotéis um pouco mais afastadas, que possuem preços mais atrativos. Mas passando por lá, eles viram que é existe um Parthenon da Accor, e queira ou não, é uma referência. Acreditamos que vai dar muito resultado com esse segmento. Aliás, ele foi projetado para isso. De atender muito bem os segmentos de lazer e negócios. 

HN: Este é o segundo empreendimento em Florianópolis?
Ramos: Da marca Parthenon, sim. Já existe um Ibis e no começo de 2006 deve abrir um Sofitel.

HN: Fale um pouco mais dessas novas unidades, sobre os novos standards da marca Parthenon.
Ramos: Os novos Parthenons que estamos abrindo têm a cara mais de um hotel. Muitas pessoas pensam que por ser um flat, o empreendimento tem carência de serviços. Ao contrário, nós oferecemos todo o serviço que qualquer hotel oferece, com uma vantagem de ter um espaço muito maior. E aquela situação de liberdade que você tem, mesmo com o restaurante, do serviço de apartamento a noite toda, a possibilidade de pedir uma pizza, um delivery, pedir um macarrão ou mesmo prepará-lo por conta própria. Mantemos a estrutura de cozinha com microondas, cafeteira e lavadora de louça. A conexão com internet é primordial. O cabo já está plugado, é só conectar ao laptop.

HN: E na linha de amenities o que oferecem?
Ramos: O básico. Sabonete, touca de banho, temos também uma linha especial para núpcias.

HN: Em relação aos fornecedores vocês têm alguma dificuldade ou carência de algum equipamento aqui no Brasil? Sentem falta de algum equipamento? 
Ramos: Nós demos um passo há uns dois anos, nós tínhamos uma dificuldade de contas, os flats tinham um fornecedor, os hotéis e os business tinham outros, o corporativo da Accor tinha outro. Criamos um departamento que busca os fornecedores, que são catalogados num banco de dados. É muito fácil verificar quais têm um preço melhor. Cada unidade não tem mais o trabalho de fazer a cotação. Ganhamos na qualidade, no cumprimento de prazo do fornecedor, e, principalmente o ganho na escala foi incrível. Hoje não temos mais problemas com fornecedores e são empresas que sempre estão atentas para as possibilidades do exterior. Hoje se você falar que você deixa de oferecer algo porque o nosso mercado não oferece, fica inviável.