Juliana Vosnika, tem como desafio projetar
a cidade na rota turística internacional
(fotos: Juliana Albino)  
Juliana Vosnika, presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, comemorou semana passada mais um prêmio internacional para a cidade, que atraiu as atenções do público preocupado com a questão ambiental. Agora foi o Globe Award Sus­tainable City, que elege anualmente a cidade mais sustentável do mundo. Organizado pelo Globe Forum, da Suécia, o prêmio será entregue no dia 29 de abril, em cerimônia na cidade de Estocolmo.
 
Este é o segundo prêmio mundial recebido por Curitiba neste ano. Em janeiro, a capital ganhou o Sustainable Transport Award, em Washington, pela implantação da chamada Linha Verde, que integra os bairros sem passar pelo centro da cidade. Em meio às comemorações, Juliana tem pela frente o desafio de estabelecer os projetos e obter verbas para receber a Copa do Mundo de 2014.
 
A Ópera de Arame, um dos atrativos da cidade  
(foto: arquivo HN)
 
Ela falou ao Hôtelier News durante o 16º Salão Paranaense de Turismo, realizado em Curitiba, dias 9 e 10 de abril, que os prêmios são fruto de um trabalho contínuo com foco no bem-estar da população.
 
* Por Simone Meirelles, com colaboração de Juliana Albino 

 
Hôtelier News: Curitiba acaba de receber o prêmio internacional de sustentabilidade. Quais são os fatores que fizeram a cidade merecer essa premiação? 
Juliana Vosnika: Curitiba é uma cidade que no aspecto turístico não foi contemplada com uma beleza natural, como a exemplo de praias, mas soube ao longo dos anos construir seus atrativos turísticos. Esse prêmio de cidade mais sustentável do mundo vem ao encontro daquilo que a gente tem falado de Curitiba.
 
A cidade teve a sorte de ter gestores preocupados com o planejamento urbano, muitos deles, arquitetos, engenheiros (hoje é um médico), todos muito interessados com a população e também conscientes do papel da cidade como fator de desenvolvimento econômico e social. Essas conquistas e prêmios de Curitiba só vêm agregar as diversas ações que estamos realizando continuamente junto ao trade turístico. A maioria dos atrativos encontrados em nosso destino foram criados como o Jardim Botânico, Ópera de Arame, Universidade Livre do Meio Ambiente, bosques focados nas etnias. Temos também o turismo cultural, de eventos e negócios, por este motivo Curitiba se consolidou bastante como um destino diferenciado.
 
 
HN: Com a viabilidade desse destaque internacional, o que esse prêmio agrega para o turismo da cidade? 
Juliana Vosnika: Esse prêmio é mundial, o prefeito de Curitiba irá a Estocolmo para recebê-lo, e isso faz com que a cidade se torne mais falada no exterior. Ou seja, é uma forma de mídia espontânea que se tivessemos que investir em termos de promoção e divulgação, talvez não conseguiríamos com os nossos recursos.  Então, acho que gera uma curiosidade sobre a cidade, por conhecer um local que tem esse título, e é exatamente o que nós da área de turismo buscamos.
HN: E quais são os diferenciais que Curitiba oferece?
Juliana Vosnika: Tudo em Curitiba acontece para resolver os problemas, os parques foram criados para resolver a problemática das enchentes, temos uma pedreira que virou palco de shows, então sempre os espaços são aproveitados da melhor forma para que se tornem atrativos. Hoje temos a região central da cidade que está se transformando numa área de revitalização. Por exemplo, o entorno do Paço da Liberdade, que foi revitalizado, numa parceria da Prefeitura com a Fecomércio (Federação do Comércio). Hoje oferecemos incentivos fiscais para as pessoas que lá se instalarem, para morar ou para abrir uma empresa. 
 
Temos também o Projeto Cores da Cidade, em parceria com empresas de tintas, para revitalizar fachadas. Criamos novos atrativos, como o mercado de orgânicos, já que estamos falando muito da cidade mais sustentável do mundo, o primeiro mercado de orgânicos do país que está em Curitiba. Temos uma séria de ações que contribuem para que a cidade tenha efetivamente ganho esse título e que possa cada vez mais ter uma ligação maior com o verde.
 
     
 
HN: É possível mensurar o fluxo de turistas que passa pela cidade anualmente e a receita que é gerada? 
Juliana Vosnika:  Nós temos uma pesquisa de 2008, mostrando que a cidade tem um fluxo de turistas em torno de 3 milhões de pessoas. A gente sabe que 2009 foi superior a isso. Nos últimos quatro anos tivemos um crescimento em torno de 36% no fluxo de turistas para o destino.
 
Desse número total calculamos que 40% são turistas de negócios e o restante vêm a lazer ou visitar parentes e amigos ou até para tratamento de saúde. O gasto médio do turista de eventos e negócios é de US$ 200 a US$ 300 dia, enquanto aquele turista que vem para lazer gasta em torno de US$ 80 ao dia. Dessa porcentagem já dá para ter uma ideia mais ou menos do fluxo. A permanência média de cada visitante é de 4,7 dias.
 
E questiono: qual é o nosso trabalho? Incrementar esse fluxo mas de forma sustentável e de maneira que cresça a quantidade  e permanência de turistas em nosso destino focando não só Curitiba, mas os seus arredores como a Região Metropolitana da cidade, que tem tanto a oferecer, o próprio litoral e eventualmente o interior do Estado.  
 
 
HN:  Poderia citar alguns desses atrativos?
Juliana Vosnika: A gente tem hoje a Feira do Largo da Ordem,   que é uma das principais feiras de artesanato do Brasil e mais 25 delas espalhadas em todos os bairros da cidade. Diversos shopping centers com uma ótima estrutura para compras. Curitiba hoje é uma referência não só para o Estado do Paraná como também para a região. De Santa Catarina e interior de São Paulo.
 
HN: É isso que vocês querem mostrar com o projeto Cine Curitiba, apresentado durante o 16º Salão Paranaense de Turismo?

Juliana Vosnika: O Cine Curitiba foi uma estratégia que nós utilizamos para a promoção desse ano, principalmente na participação em feiras e eventos, apresentado vídeos da cidade. O Cine Teatro aproveita um evento bastante conhecido – o Festival  de Teatro de Curitiba, para apresentar os nossos atrativos turísticos.
 
Aproveitando a temporada dos eventos, na Casa Cor Paraná, teremos um espaço que se chama mini cine, onde pretendemos divulgar um vídeo que foi produzido no final do ano passado e que conta um pouco a metamorfose que Curitiba sofreu nos últimos 40 anos no planejamento urbano, social e educacional. 
 
Neste primeiro semestre, ainda vamos divulgar um novo vídeo com locução do ator paranaense Luiz Mello, que traz um pouco a parte mais sentimental de Curitiba. Nesse material convidamos as pessoas para conhecerem a cidade, e essa será a nossa ferramenta primordial de divulgação. Nós também vamos participar de alguns eventos como o Festival de Turismo das Cataratas em junho, do Salão do Turismo em São Paulo e teremos esse mesmo estande na Abav, que acontece em outubro no Rio de Janeiro, e também em outros eventos do setor. Preferimos usar essa estratégia também para fazer uma ação de sensibilização do próprio curitibano, sobre a importância do turismo para a cidade. Nós devemos fazer algumas ações locais na região central para que o nosso munícipe reconheça os nossos atrativos e que se consolide como um grande promotor de Curitiba dentro e fora dela.
 
HN: Na abertura do Salão Paranaense de Turismo, a senhora mencionou que o plano de Curitiba para o Prodetur já está quase pronto. O que pode nos adiantar a respeito desse planejamento? 
Juliana Vosnika: Avaliamos e definimos entrar com uma carta consulta para solicitar uma verba desse programa junto à Cofiex(Comissão de Financiamentos Externos do Governo Federal), que é quem avalia a capacidade de endividamento e pagamentos dos municípios. Nós listamos uma série de ações e de obras que seriam interessantes para a área de turismo, que incluem as atividades de capacitação, sensibilização, plano de marketing, fortalecimento institucional e políticas públicas, todas as áreas que o Prodetur está apto a financiar.
 
Esse é um programa de médio a longo prazo. Essa carta consulta deve ir para ao Cofiex para ser aprovada. O projeto foi estudado dentro do nosso limite de endividamento e nós definimos algumas ações. Por exemplo, a revitalização do Bonde Turístico de Curitiba e da Rodoferroviária, uma reivindicação antiga dos curitibanos.
 
Aqui o Jardim Botânico, que é circundado por bela vegetação
(foto: arquivo HN)
 
Estas são algumas ações que estão em estudo entre nós e o IPPUC (Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba) e estamos conversando com o prefeito para definir especificamente quais são aquelas ações que vão entrar dentro dessa carta consulta. Claro que isso vai ser dialogado com toda a comunidade e trade turístico, pois não é uma decisão exclusiva do poder público e sim uma decisão dialogada com toda a sociedade organizada e população.
 
A vantagem do Prodetur é que o Ministério do Turismo está assegurando que fará a contrapartida. Isso quer dizer que se o município se inscreve para tomar um empréstimo externo, mas a contrapartida não precisa ser exclusiva da cidade, pode ser fornecida pelo Ministério. Essa é a promessa e é o que interessa para nós, senão fica muito dificultoso para participar. 
 
HN: Quanto o Ministério do Turismo investe em Curitiba anualmente?

Juliana Vosnika: Não temos um número exato, mas esperamos que com o Prodetur isso aumente significativamente. Hoje recebemos valores do Ministério do Turismo, mas através de emendas de deputados federais.
 
 
HN: E quanto Curitiba pretende pedir ao Prodetur?
Juliana Vosnika: O Prodetur não tem um limite máximo, tem o mínimo, que é de US$ 30 milhões. A nossa ideia é solicitar U$ 50 milhões.
 
HN: Mudando um pouco de assunto, quais são os planos para a Copa do Mundo e o que esse evento vai deixar de legado no destino?
Juliana Vosnika: A Copa do Mundo é para as cidades-sede, e também para o país, uma excelente ferramenta de marketing.
 
É uma projeção não só nacional como internacional que nós não teríamos condições de fazer com investimentos orçamentários próprios. Esta é uma ótima oportunidade para mostrarmos ao  mundo todo nosso potencial e condições de receber um evento de porte como é uma Copa do Mundo. Curitiba hoje tem 18 mil leitos e isso vai aumentar um pouco até a Copa, para até 21 mil; temos uma ótima rede gastronômica, mas precisamos rever nossa  infraestrutura aeroportuária.
 
O aeroporto, que está localizado em São José dos Pinhais, precisa de uma série de reformas e nós estamos pleiteando junto a Infraero para que isso aconteça, porque as exigências da Fifa são grandes. Espero que com Copa possamos efetivamente melhorar os serviços de turismo oferecidos em Curitiba. Por isso uma série de projetos de capacitação e de sensibilização vão começar a acontecer e o importante é fazer com que a população sinta de perto um grande evento. Nós tivemos em 2006, o COP 8 e MOP 3,  eventos internacionais das Nações Unidas nas áreas de biodiversidade e biosegurança, e que demonstraram um pouco que Curitiba tem condições de sediar grandes eventos.
 
Claro que a Copa do Mundo tem outro perfil, mas prioritariamente pensamos no legado que vai ser deixado. Já estamos elaborando uma série de obras, principalmente em acessos. Por exemplo, a Avenida da Torres, acesso ao aeroporto, tem previsão de melhorias; o acesso aos estádios e entorno, construção de ciclovias, revitalização urbana e do centro da cidade, sinalização turística para pedestres.
 
Vamos fazer uma central de guias de turismo no Jardim Botânico, uma grande central de atendimento ao turista na Rua 24 Horas, são diversas obras quer estão previstas e vão ser viabilizadas, apressadas ou melhoradas por conta da Copa. O legado é importante, em especial na área de turismo, onde nada fica ocioso. As melhorias aliadas à projeção internacional demonstram quanto um evento desse porte é importante para o destino como um todo. 
 
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