Luis Fernandes
(foto: Peter Kutuchian)

Luis Fernandes está na hotelaria há 25 anos, e já trabalhou em diversos países, como África do Sul, Moçambique, Indonésia, Brasil, e agora, no México, onde é o diretor geral do super famoso Las Ventanas, em Los Cabos. O resort integra a rede Rosewood, um dos mais luxuosos grupos hoteleiros do mundo. Confira abaixo o que Fernandes fala sobre a hotelaria de luxo, sobre o sucesso do Las Ventanas, entre outros assuntos. Boa leitura!
(Peter Kutuchian)

Hôtelier News: Como você começou sua carreira na hotelaria?
Luis Fernandes: Comecei minha carreira em 1980 trabalhando na África do Sul para uma empresa chamada Southern Sun Hotels, que também é proprietária do famoso hotel Atlantis, nas Bahamas. Depois fui para a rede Orient-Express, para trabalhar no Mount Nelson Hotel, na Cidade do Cabo, em seguida fui para o Hotel Polana, em Moçambique. Depois fui para o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e posteriormente para a Arábia Saudita, em Riad, já com o Rosewood. Fiquei três anos e meio e fui abrir um hotel super-luxuoso, o The Dharmawangsa, em Jacarta, que é um dois hotéis mais bonitos e bem decorados do mundo. Fiquei lá seis anos. E, finalmente, vim para o Las Ventanas em Los Cabos, em 2003.
Até então, tenho uma carreira fabulosa na hotelaria e uma sensibilidade de várias culturas. Hoje em dia é importante lidar com várias culturas, entendê-las, conhecer a gastronomia. São tantos restaurantes que estão utilizando o conceito fusion, misturando a culinária asiática com a da América Latina, ou um pouco da culinária francesa e todos esses sabores são fantásticos. É bom também conhecer hotéis interessantes, hoje em dia as pessoas vão comer e para serem inspirados pelo chef. Um bom hotel vai inspirar pela boa decoração, pelos tipos de serviços, pelos pequenos detalhes.

HN: São as experiências…
Fernandes: Exatamente. E isso é muito bom, o hoteleiro ter uma experiência global para saber introduzir esses detalhes em várias operações que estão dentro do hotel. Tem sido uma experiência e tanto. Sou bastante jovem e ao mesmo tempo experiente. Na verdade sou um português dirigindo um dos cinco melhores resorts do mundo. (risos)


Vista parcial do Las Ventanas Resort – Al Paraiso, em Los Cabos, no México
(foto divulgação)

HN: Qual a sua formação universitária? Quantos idiomas fala?
Fernandes: Sou formado em hotelaria pela Escola de Hotelaria de Johannesburgo, na África do Sul. Falo fluentemente o português, inglês, espanhol, zulu e holandês.

HN: E como você analisa a expansão da hotelaria de luxo? 
Fernandes: Acredito que os hotéis vão ter seu sucesso como o W tem, o Fasano, o Bulgari, e também com o novo grupo que está sendo criado pelo Giorgio Armani. Eu acredito que há um crescimento para todos, mesmo fora desse segmento. Eventualmente, nós queremos algo que represente o país, a cultura, a gastronomia. O que representa o local que estamos? Eu acredito que existem certos momentos na nossa vida que queremos esse tipo de apelo, mas do fundo do meu coração, acredito que buscamos experiências mais reais, mais naturais, principalmente, que representem o país onde estamos, em termos da madeira que é utilizada, do azulejo que é utilizado. O Bulgari Milano e o Bulgari que vai abrir em Bali possuem conceitos muito parecidos, em países que têm culturas tão diferentes. No segmento luxo, as pessoas estão mais interessadas em serem inspiradas por algo diferente.


Uma das suítes do Las Ventanas
(foto divulgação)

HN: Você acredita então que é um certo modismo? Que o hóspede vai para um Bulgari, em Milão, e retorna? Ou ele vai lá só pra conhecer e acaba indo para outros hotéis?
Fernandes: Eu acredito que acabam indo para outros hotéis. Hoje em dia as pessoas querem ver e se inspirar por certos detalhes do Bulgari, mas não são hotéis aconchegantes. Acho que todos nós queremos ser acariciados pelo serviço. E não só pela produção bem bonita. No dia-a-dia tem que ser bem personalizado.

HN: Qual a percentagem do público brasileiro no Las Ventanas?
Fernandes: A porcentagem é quase 2%. E ver mais brasileiros me dá muito orgulho, pois posso falar em português com eles. E são clientes que apreciam hotéis como o Las Ventanas, e também, a qualidade do serviço.

HN: São quantas suítes?
Fernandes: 61 suítes.

HN: Qual a ocupação média ao ano?
Fernandes: 93%

HN: E a tarifa média?
Fernandes: Acima de US$ 1.100.

HN: No sistema all-inclusive?
Fernandes: Não.

HN: O que está incluso nessa tarifa?
Fernandes:  Nada. Um serviço super-luxuoso. E super-personalizado.


Luis Fernandes ladeado por Tati Simões, da Leading Hotels of the World (esq),
Marisa Viana, da X-Mart, representante do Las Ventanas no Brasil, Cristina Romero-Peri,
diretora de Marketing do Las Ventanas e Lucita Marques, da X-Mart SP, durante
almoço oferecido pelo Resort no Le Tambouille, em setembro, na capital paulista.
(foto Peter Kutuchian)

HN: O Brasil é um país 100% turístico, com cenários fabulosos. Qual sua opinião para atrair mais turistas internacionais para cá?
Fernandes: Eu acredito que o Brasil precisa atrair mais companhias internacionais para virem comprar hotéis aqui, e também, fazer melhor publicidade do que o País possui. O Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu e Amazonas são os lugares mais bonitos do mundo. Existem todos os componentes para fazer algo fantástico no País.

HN: Seu grupo investiria no Brasil?
Fernandes: Nós já tivemos um projeto aqui, que é o Palácio Tangará – em São Paulo no parque Burle Marx, no Morumbi – que parou. Foi triste para nós. Só teríamos outro projeto, se for algo muito interessante e que se encaixe com a filosofia da Rosewood. Nós temos os melhores resorts e hotéis do mundo e somos uma das melhores operadoras de hotelaria de luxo. Só se aparecer um projeto bem interessante no Brasil, pode ser no Rio ou em São Paulo.

HN: E esse projeto depende de um investidor ou vocês assumem todo o projeto?
Fernandes: Não. Não investimos mais em patrimônio, somos realmente uma empresa de administração hoteleira.

HN: E na tua opinião, qual é a região brasileira que você acredita que vai ter um crescimento maior: a Amazônia ou o Nordeste?
Fernandes: Atualmente, há bastante publicidade para o Nordeste, além de vários investidores da Europa, principalmente de Portugal. Eu acredito que a região da Amazônia tem que em primeiro lugar ser protegida, mas também tem que ser mostrada. Realmente, o lugar é que gera o oxigênio para o mundo. E isso tem que ser respeitado, mas, há espaço para o turismo, e alguém tem que começar a investir e obter resultados para que outros começarem a entrar. Tem que haver um movimento, um processo natural e organizado. O meio-ambiente precisa ser protegido.

HN: Estão dizendo que o Brasil é o próximo destino internacional. Você concorda?
Fernandes:
Acho que isso é possível. Há uns seis anos, os hotéis mais badalados eram na Ásia. Hoje em dia, o Las Ventanas é um dos mais procurados, mais fotografados, o mais romântico e tem ganhado quase todos os prêmios. A América Latina tem grandes possibilidades em termos de produtos e de serviços para fazer algo que represente mais o destino. O Las Ventanas representa o México, e acho que o Brasil pode fazer hotéis assim, mas é preciso encontrar investidores que tenham paixão.


Spa do Las Ventanas: preocupação com a prevenção
de doenças dos hóspedes
(foto divulgação)

HN: O Las Ventanas está investindo na saúde do hóspede. Como é isso?
Fernandes: Nós vamos criar um lugar onde existam dermatologistas, nutricionistas, personal trainers, todo o aparato necessário para criarmos um lugar que ofereça um equilíbrio na vida da pessoas. E é muito bom criar um equilíbrio em nossa vida, com todo esse estresse. Não só massagens, mas ter um terapeuta personalizado, cuidar da pele, da alimentação. Hoje, o spa está evoluindo. Eu vejo que a atuação do spa vai ser mais de prevenção, para ver o que está acontecendo no seu corpo. Por exemplo, temos um aparelho que é uma espécie de botas para serem colocadas nos pés, quando ligamos o aparelho ele absorve todo o ar e mostra várias cores, azul, vermelho ou rosa. O cor-de-rosa é onde não tem muito problema, o vermelho já indica sinais de cuidado, e onde está azul, há um problema. Então, o terapeuta poderá lhe dizer se tem algum problema no estômago, por exemplo. Nós queremos oferecer isso para aconselhar às pessoas para que não tenham problemas no futuro.