Com formação em Comunicação Social, Desenho Industrial, Hotelaria e Música, além de MBA em Gestão empresarial, o peruano Alberto Moane veio para o Brasil por intermédio de seu pai, quando esse era diretor de vendas da unidade Sheraton do Rio de Janeiro. Fluente em espanhol, inglês e português, com conhecimentos em francês e italiano, o executivo, que possui duas filhas, uma de três e outra de sete anos, trabalha até 15 horas diárias no cargo de diretor de vendas da Accor Hotels para a América do Sul. Conheça a seguir um pouco mais sobre sua vida, seu trabalho, seus ideais e objetivos.

Por Christiane Kokubo com colaboração de Peter Kutuchian e Thais Medina


Alberto Moane, diretor de vendas da Accor Hotels para a América do Sul,
na sede da Accor Hotels em São Paulo
(fotos: Peter Kutuchian)

Hôtelier News – Quais são os seus hobbies?
Alberto Moane – Gosto muito de música. Fui músico profissional durante seis anos, tocando bateria e percussão. Inclusive tenho um sítio onde há um pequeno estúdio e às vezes vou lá arrebentar um pouco. Também gosto muito de cozinhar, aliás, esse é meu verdadeiro hobby e, nos finais de semana, sempre convido a família e os amigos mais próximos pra degustarem as minhas invenções.

HN – Quem você admira profissionalmente?
Moane – Uma pessoa que admiro muito é o Jack Welch, ex-CEO da GE. Certamente ele chegou onde chegou por causa de sua simplicidade e a GE é o que ela é graças a esse executivo. Aqui no Brasil eu admiro muito o Bonadona, que é o nosso diretor-presidente, pela visão que ele teve e tem e pelo que está fazendo pela hotelaria no Brasil. Não estou falando em termos de Accor, mas considerando o trabalho desenvolvido no Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb). Hoje você percebe que os hotéis se falam, que as pessoas falam, pensam em conjunto, estão empenhadas em encontrar soluções para os problemas que a gente vem arrastando nos últimos cinco anos. Especificamente posso falar da recuperação do preço, principalmente na praça de São Paulo, por todo esse fenômeno, essa realidade de oferta e demanda desequilibradas. Durante muito tempo a gente praticou tarifas extremamente baixas e hoje vejo que existe um movimento em preocupação de todos de conseguir recuperar esse gap dos anos anteriores. O Bonadona certamente exerce um papel muito importante de liderança dentro de todo esse processo.

HN – Em relação à sua carreira, como você ingressou na Accor? Foi sua primeira experiência na hotelaria?
Moane – Antes de ingressar na Accor eu trabalhei em outras grandes redes como a Sheraton, a Hyatt e a Meliá. Inclusive participei da abertura do Paraísos Puntacana, da Meliá, na República Dominicana, onde estive por quase dois anos. De lá voltei para o Brasil e recebi um convite para fazer parte do time da Accor como gerente comercial da equipe de vendas de São Paulo, isso foi há seis anos. De lá para cá tenho desenvolvido uma carreira ascendente com uma série de desafios ano após ano.

HN – E em quais funções você já trabalhou na rede?
Moane – Iniciei como gerente comercial de São Paulo, passei para gerente de vendas internacional, depois assumi a gerência de vendas da América do Sul da marca Sofitel, acumulando o departamento internacional. No ano seguinte fiquei com a parte de companhias aéreas, em seguida me tornei gerente geral de vendas corporativas e, agora, diretor de vendas.

  

HN – Em que a Accor mais contribuiu para sua carreira?
Moane – A Accor tem uma característica muito forte, que é deixar você fazer as coisas, deixar você trabalhar. E aqui eu tenho a oportunidade de fazer o que eu realmente acredito que pode ser feito. Normalmente, nas empresas você tem um direcionamento muito in the box, e dentro disso você tem que trazer o resultado. Aqui nós temos as linhas, as orientações, um direcionamento, mas como você chega lá é com você. Isso é uma coisa que desafia as pessoas, que faz com que elas cresçam. E eu vejo esse desejo de crescer e melhorar em todos os nossos colaboradores.

HN – E quantos colaboradores respondem a você?
Moane – Diretamente respondem a mim 40 colaboradores, mas se considerarmos o pessoal de vendas dos hotéis, esse número chega a 150 na América do Sul inteira.

HN – Com a ida de Paulo Salvador, que cuidava do marketing da rede, para a França, como ficou o departamento?
Moane – Após a viagem de Paulo Salvador, foram criadas duas diretorias: a de vendas, que está comigo, e a de distribuição, cujo responsável é o Emanuel Baudart. O marketing foi fracionado e eu fiquei com a parte de trade marketing, que inclui a participação em feiras e campanhas, enquanto ele cuida do marketing de relacionamentos. Mudou bastante a estrutura, seguindo uma tendência que é mundial na Accor hoje.

HN – Como diretor de vendas, quais são suas funções?
Moane – Sou responsável por toda a estratégia de vendas da Accor Hotels na América do Sul, o que inclui as linhas de direcionamento que a empresa vai tomar em termos de vendas, relacionamento com os clientes, compradores, grandes agências e empresas. Com base nisso, todas as orientações são passadas para as estruturas que estão abaixo de mim, no caso, as centrais de vendas, que cuidam de grandes contas, tanto no corporativo quanto no lazer, e as estruturas de vendas dos hotéis, que se preocupam com seus interesses mais próximos, dos interesses das unidades e da marca também, com uma visão mais ampla.

HN – Quais são as aberturas da Accor previstas para este ano no Brasil?
Moane – Ainda este ano teremos duas aberturas muito importantes da marca Sofitel no Brasil. O primeiro projeto é o Sofitel Jequitimar, com 344 apartamentos, spa, área para eventos e exposições, no Guarujá (SP), previsto para iniciar operações no começo de dezembro. É um destino que a gente está apostando muito, pois dentro de todo esse movimento de lazer no Brasil, com uma série de investimentos no Nordeste, que vão quase quadruplicar o número de apartamentos no local para lazer, o Guarujá, por ser um destino próximo a São Paulo permite você ir de carro até lá. Com isto, você não tem a limitação que hoje muitos destinos têm, e o custo, obviamente, do aéreo. Desta forma, estamos acreditando muito nessa funcionalidade, que permite você ir e voltar no mesmo dia se quiser. Isso vai fazer com que tenha um fluxo grande. Em termos empresariais, é muito fácil a logística para você movimentar grupos de pessoas. É só um ônibus e o custo cai de forma drástica. O outro empreendimento é o Sofitel Florianópolis, que vai contar com 120 UHs e deve começar a funcionar em 19 de dezembro.

   

HN – O que a Accor faz para sobressair nesse mercado tão competitivo?
Moane – Nos apoiamos muito forte em cinco valores que a empresa tem: confiança, inovação, profissionalismo, responsabilidade e transparência. Com base nestes itens temos desenvolvido nossa atuação, nossas crenças, absolutamente tudo. Somos muito transparentes com nossos clientes, com nossos investidores e com os nossos colaboradores. Então isso faz com que a gente realmente realize aquilo que promete, e, quando falo isso, me refiro ao serviço. Por outro lado, se nos apegamos ao pilar inovação, por exemplo, o fato de sermos líderes de mercado no Brasil nos obriga, de certa forma, a ter iniciativas e tomar decisões pioneiras. E isso é uma mola propulsora para todos os colaboradores da Accor, que sentem essa obrigação de estar na frente, de arriscar, de tomar realmente a dianteira, o que vem favorecendo bastante nosso desenvolvimento e trazendo resultados. Eu acredito que nossa força em relação à concorrência é essa.

HN – Qual o segmento de marcas da rede no Brasil com melhor desempenho?
Moane – O segmento econômico é o que mais faz sucesso e vai se desenvolver nos próximos anos, inclusive pelas marcas Ibis e Fórmula 1. Ele tem uma resposta extremamente rápida do mercado e as taxas de ocupação são mais altas que nos demais segmentos, ultrapassando os 55%. Não é à toa que todo o crescimento da Accor está baseado no crescimento de hotéis dessas duas marcas. No Rio de Janeiro temos sete unidades para abrir, e pretendemos chegar a um número de 200 empreendimentos na América do Sul no total. Atualmente contamos com 138 unidades no Brasil e podemos falar em termos de 145 até o final do ano.

HN – E em relação à América do Sul?
Moane – No continente sul-americano temos projetos na Argentina, no Chile e no Peru. A idéia é realmente termos uma rede Ibis local muito forte assim como desenvolver a marca Novotel, com recursos próprios da Accor e de investidores. A utilização de recursos próprios se deu também no Novotel Morumbi (SP) e com a entrada da marca Ibis no Brasil, já que os primeiros hotéis da categoria foram completamente bancados pelo grupo.

HN – Há algum projeto para a América Central?
Moane – A América Central também faz parte da nossa meta de trabalho, mas não temos ainda nenhuma unidade no local. Prevemos uma abertura na Guatemala até o final do ano, mas será nosso único hotel no momento. Também temos projetos na Costa Rica, mas nada concreto ainda.

  

HN – Falando agora sobre a mudança da marca Parthenon para a Mercure. Houve algum tipo de aporte por parte dos investidores para a transição?
Moane – Houve sim. Obviamente que o grande aporte foi da Accor, que investiu de R$ 2 milhões para fazer todas as alterações. Os hotéis dormiram Parthenon e acordaram Mercure. Nos organizamos muito para conseguir fazer dessa maneira. Houve gastos muito altos em marketing, mas obviamente houve um aporte dos investidores no que diz respeito a algumas coisas que mudaram.

Temos uma expectativa muito grande, pois a Parthenon é uma marca forte no Brasil, mas desconhecida fora do nosso território. Então a marca Mercure vem agregar muito valor por ter reconhecimento internacional. A expectativa que temos é de que haja um aumento realmente forte em relação à produção vinda de fora.

HN – Como está a média de ocupação deste ano em relação a 2005?
Moane – Considerando todo o Brasil, a média de ocupação no primeiro semestre foi de cerca de 65%, mas varia de marca para marca. É uma média boa para o país e apresenta crescimento em relação ao ano passado. Esse incremento não é apenas na Accor, mas para o mercado em geral. A curva começou a se mostrar ascendente no ano passado e o aclive continua, acreditamos, que até o ano que vem.

HN – As diárias também estão crescendo. Pela cidade vemos tarifas de unidades Ibis, por exemplo, a R$ 129. Como isso repercute no mercado?
Moane – R$ 69, R$ 89 era o valor da diária dos primeiros hotéis Ibis aqui em São Paulo. A gente percebe que o mercado começa a aceitar o aumento e o mercado continua comprando. Com esse preço não tem sentido recessão de mercado, muito pelo contrário, a ocupação continua crescendo. Há um problema. A gente vê que o gargalo está no mid scale. Os cinco estrelas nem se fala! De qualquer maneira, quem mais sofre são as unidades de mid scale, devido à quantidade de oferta que a gente tem. O que acontece é que existe um cliente Ibis muito claro, mas quando você fala do cliente mid scale é difícil dizer quem ele é. É difícil dizer se ele era Parthenon, Novotel, Mercure, Holiday Inn, Atlantica ou Meliá. Dependendo, em São Paulo você pode se hospedar em um Meliá, mas quando você vai para outro estado você se hospeda em um Mercure. Não existe uma definição muito forte e perceptível nessa área. Já no econômico ela é fortíssima.

    

HN – Como você avalia o trabalho do Ministério do Turismo e da Embratur?
Moane – O trabalho que o ministro Walfrido dos Mares Guia tem desenvolvido é espetacular no meu ponto de vista. Claro que há muito a caminhar, afinal não são em quatro anos que as coisas vão mudar drasticamente. A gente vem de um processo de recuperação e tem muito a seguir, mas o direcionamento nos deixa muita esperança pela frente. Acredito que os caminhos que colocamos, as bases de trabalho e as diretrizes estão certas. O que eu sinto, e isso é uma coisa no geral, é o timing, a velocidade, o ritmo. A gente realmente precisa trabalhar de forma rápida, pois perdemos muito tempo.

HN – Você acha que está chegando o momento do Brasil em relação ao turismo?
Moane – Esse momento está cada vez mais perto. Tem gente que fala que já é, mas eu acho que ainda não. Temos muitas coisas para melhorar e nosso grande problema certamente é acesso. Por mais que o setor possa de desenvolver, minha preocupação é como vamos trazer as pessoas para cá.

HN – Em suas aulas no Senac, o que você freqüentemente recomenda para os seus alunos? Como chegar a uma posição de destaque como a sua?
Moane – O que eu recomendo é diferencial competitivo. É preciso descobrir em que você é bom, o que você faz de melhor, o que vai fazer você se destacar durante uma entrevista, em uma seleção. Não há segredos para se ter sucesso na profissão. É preciso muito trabalho e dedicação, além de credibilidade em você mesmo e na empresa para a qual trabalha. Vejo que os alunos têm muita pressa. Eles querem chegar e já ser gerentes gerais. Outras coisas que fazem a diferença nos colaboradores são a honestidade e a disciplina. Você ter um colaborador que realmente é aquilo que ele diz ser, que é honesto com aquilo que ele se propõe é fundamental. Você não vira gerente ou diretor da noite para o dia. Precisa ter uma disciplina de trabalho, precisa passar por todo um processo de aprendizado, de estudo e de experiência.