Pensado e desenvolvido desde 2008, SBClass
ainda patina nos pormenores do projeto
(imagem: divulgação / MTur)
 
Seria risível, se o tom não pendesse muito mais para o trágico. O fato é que a essa altura da vida, o MTur (Ministério do Turismo) apresentou uma postura que pode soar como reflexão quando divulgou, há coisa de dez dias, a possibilidade de dar mais elasticidade ao SBClass (Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem) e incluir à métrica os hotéis boutique.
 
Ora, a afirmação soa por si só com tom dúbio, uma vez que o pedido é oriundo de um empreendimento hoteleiro – notadamente com estrutura figurante na categoria -, o Boutique Hotel Casa Teatro, de Manaus (AM).
 
O que se vê com o caso, antes de qualquer coisa, é que um projeto que pretensamente, sublinhe-se, vem sendo pensado desde meados de 2008 – após a promulgação da Lei do Turismo, quando se determinou a adoção de medidas para qualificar e padronizar os serviços prestados ao turista – foi desenhado com nuances de despreparo. O calendário bate o ano de 2012, ou seja, foram quase quatro anos para a produção de um material que, com as últimas notícias, não engloba todas as especificidades de um meio de hospedagem.
 
Para fomentar o ar de gaiatice e paradoxo – com ênfase para o último item -, o próprio Ministério, quando da divulgação do material, estimou que existam 35 empreendimentos enquadrados em tais preceitos no País – leia-se hotéis com “identidade e luxo”, que enfatizam elementos de arte, possuem poucos apartamentos e completa estrutura, com latência para o setor de Alimentos & Bebidas. O discurso foi respaldado ainda num estudo realizado pela MCF Consultoria & Conhecimento, no qual o faturamento da indústria de luxo brasileira angariou a cifra de R$ 20 bilhões, em 2011, quanto à receita – número 33% superior ao mensurado em 2010.
 
E aí, para relembrar o risível, a insígnia da incoerência revela-se: uma vertente hoteleira que, mesmo com poucas unidades representa grande poderio quanto aos dividendos, não deveria ter sido tratada no SBClass, um projeto que vem sendo arquitetado há anos?
 
A fisionomia de interrogação cresce quando se rememora que o cerne da nova baliza para os meios hoteleiros advém da constatação de que o modelo anterior, implementado pelo Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) em convênio com a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), já não possuía número suficiente de hotéis classificados e carecia de atualização.
 
Para completar o desarranjo, é preciso dizer que a elaboração da matriz do SBClass foi, nas palavras de representantes do MTur, produzida com embasamento em estudos realizados por profissionais do setor, figuras do governo e da academia – num discurso de que a “contemporaneidade do turismo” exige alteração de conceitos e requisitos para a satisfação do viajante moderno.
 
Sem se alongar, o clichê dos mundiais esportivos também é um dos pontos para articulação do projeto – no tocante a criar meios para que o turista estrangeiro possa selecionar onde se hospedar. Porém, às vésperas dos eventos e após mais de seis meses da instituição da portaria do SBClass, apenas um hotel anunciou ter passado pela avaliação e recebeu chancela do Ipem-SP (Instituto de Peso e Medidas do Estado de São Paulo), responsável pela auditoria da classificação.
 
Diante desse quadro e das dificuldades tangíveis para que o freio de mão pare de ser disfarçado e, com muita sorte, seja esquecido, a efetivação do SBClass em fato para o mercado hoteleiro vai tão retrógrada quanto morosa. Equívoco grosseiro e incongruente.