Murilo Pascoal está há seis anos
no megacomplexo Beach Park
(fotos: Dênis Matos)
 
Numa sexta-feira de abril, coisa de onze horas da manhã, Murilo Pascoal vestia calça jeans, tênis e camisa polo azul clara. Quem o vê passar, cabelos emaranhados, óculos de grau de armação transparente e fala amena, não imagina estar diante de um dos executivos mais importantes do Beach Park, megacomplexo localizado na região metropolitana de Fortaleza (CE). É notório que ele destoa do enxame de visitantes com roupas de banho, que por ali se extasiam com as águas desconexas do parque e com os mais de 30 graus de um Sol ardido da capital cearense. O estereótipo vai na contramão, inclusive, dos muitos engravatados que comandam grandes hotéis pelos País.
 
A especulação é de que ele e os muitos funcionários do complexo sofram de um ímpeto constante de suprimir às vestimentas e fazer uso dos mais de 7 mil m² de espelhos de água disponíveis no entorno. É meio impossível manter a compostura em meio a piscinas, toboáguas e brinquedos alucinados que por ali figuram. Mais tarde, já ao final da conversa, o diretor dá indícios: “De uma maneira geral é muito bom, eu trabalho na praia. Apareço por aqui aos domingos e, mesmo nesses dias, acabo nem percebendo qual é o dia da semana”.
 
Após agradecer a presença da dezena de jornalistas que o ouviam, Pascoal explica a razão de ser da conversa: “Quando fiquei sabendo que apresentaríamos a vocês nossa nova atração, tive que intervir: ‘Eu preciso falar do meu filho'”, brinca. O infante mais recente que ele se refere é o Acqua Circo, espaço inaugurado em março último para turistas um tanto quanto jovens, que ainda usam fraldas e caminham em meio a tropicões desconexos. Na ocasião, a equipe Hôtelier News conversou com o diretor sobre a gestão dos 215 mil m² da espécie de cidade que é Beach Park. 
 
Por Dênis Matos*
 
O executivo em frente à entrada de
seu ‘filho mais novo’, o Acqua Circo
 
Quando o assunto é o Acqua Circo, Murilo Pascoal passa recibo: “Conseguimos fazer o maior e melhor playground aquático do mundo”. São 131 brinquedos espalhados numa piscina rasa e de proporção colossal. Nele, gangorras, bicicletas que cospem água, chafarizes, jatos, cata-ventos, bonecos sorridentes, casinhas sem teto e túneis se confundem – da mesma forma que adultos e crianças se perdem num folguedo aquático.
 
O piso dos 1,3 mil m² do brinquedo é especial, antiderrapante e composto por duas camadas: uma de borracha de pneu reciclado e outra de pebble-flex, revestimento pioneiro em parques do segmento – que ameniza quedas e arranhões tanto nos pequenos quanto nos adultos. O espaço pode ser ocupado por até 430 pessoas simultaneamente.
 
Há seis anos no Beach Park e tendo trabalhado em outro aquático, o Wet´n Wild, antes de figurar na direção do complexo, ele aponta que o número de visitantes de lazer mais que dobrou nos últimos anos, batendo 740.000 pessoas em 2010.
 
“Conseguimos fazer o maior e melhor
playground aquático do mundo”
 
 
Auto-alimentação
Com um novo brinquedo inaugurado, automaticamente é necessário investir também em hotelaria para suprir esta nova demanda? “Nós estamos inclusive em obras. Temos um novo empreendimento de 360 unidades que ficará pronto ainda este ano. Um alimenta o outro: é mais legal vir para cá por conta dos brinquedos, mas para isso precisamos de mais apartamentos e de mais colaboradores. Essa auto-alimentação tem ajudado muito no crescimento do complexo e da região”, garante.
 
O novo hotel levará o nome de Wellness Resort e será gerido num sistema de condo-hotel – apartamentos vendidos para um proprietário único que pode colocar o espaço no pool de locação quando não estiver em uso.
 
Outros dois resorts completam o Beach Park. Era 1998 quando o primeiro deles foi inaugurado, o Beach Park Suites Resort, localizado ao lado do parque aquático e composto por 182 suítes. O número oito parece ser significativo quando o assunto é inauguração: o Beach Park Acqua Resort, mais novo empreendimento do entorno, também data de um ano com o mesmo final: 2008. Neste, são 225 quartos.
 
Acesso sem esforço
“A vantagem hoteleira aqui é que tudo é muito perto. Você não precisa pegar um trem, um ônibus, um barco ou coisa assim. Tudo é próximo. Você sai do hotel, brinca e, se estiver cansado, pode voltar para descansar. Essa proximidade traz um diferencial muito grande em relação aos nossos concorrentes”, assegura o diretor.
 
A facilidade de locomoção, de fato, é perceptível. Há um rio artificial, o Acqualink, que liga o resort ao Aqua Park. O Aqua, inclusive, é uma espécie de Maracanã, está para os parques aquáticos assim como os Beatles estão para o rock. Instalado numa área de 55 mil m², o parque é considerado maior e mais bem equipado da América Latina.
 
“É mais legal vir para cá por conta dos
brinquedos, mas para isso precisamos de
mais apartamentos e de mais colaboradores”
 
“Eu sou parqueiro”, brinca Murilo Pascoal, afirmando que, apesar de ter estudado Administração de Empresas e se especializado na área de Lazer, sua expertise volta-se ao entretenimento – em especial na versão liquefeita da H2O. Aliás, papo de água é uma aridez só quando se movimenta 9 milhões de m³ em tempos de aquecimento global. O mandatário do Beach Park se defende, esclarecendo que a água é constantemente renovada por um processo de filtragem e que não há desperdício. De acordo com ele, um sensor coleta amostras e testa a qualidade da água, que após aprovação tecnológica retorna aos toboáguas e piscinas do parque, sem que haja necessidade de troca.
 
“É fundamental ter sempre novidades aqui dentro” 
 
Além dos pormenores ambientais, o alto consumo de água traria prejuízos bombásticos aos dividendos do Beach Park. O custo ali é alto por si só. Para se ter ideia, a atração Ramúbrinka, forma regionalizada da expressão ‘vamos brincar’ e que é uma homenagem bem-humorada ao Estado do Ceará, levou dos cofres do megacomplexo a bagatela de R$ 7 milhões. São sete toboáguas, uma torre de 24 metros de altura e uma piscina com 500 mil litros. As pistas também receberam divertidos nomes em cearês: Ramujunto, Ramunessa, Ramunóis, Ramumaiseu, para as mais suaves, e Ronão, Ronada e Raitu, para as descidas mais capciosas.
 
À época, meados de 2009, a expertise canadense já era base para os projetos, tendo a empresa WhiteWater como progenitora do toboágua – em conjunto da cearense CMM, que cuidou da estrutura das torres e da construção da piscina.
 
Outra brincadeira que levou um montante de mais de sete dígitos foi o Acqua Circo. Somente no piso de pabble-flex foram gastos R$ 2 milhões. “Fomos buscar o melhor fornecedor de equipamentos aquáticos. Todo o material é o que há de melhor, feito por designers que criaram uma técnica muito bacana para dar conta tanto da parte estética quando da interação. Há muita interação”, abona.
 
 
Atendendo a diversos públicos
Pascoal esclarece que, para fisgar cada vez mais visitantes, novos projetos são amadurecidos ano a ano. Segundo o diretor, as atrações são lançadas sucessivamente para atingir a públicos distintos: quando desenvolvido um espaço para crianças o próximo, por obrigação, deve ser voltado para jovens e adultos. “É fundamental ter sempre novidades aqui dentro. Nós vamos para outros países, visitamos feiras, conhecemos fabricantes, desenvolvemos até coisas juntos. Uma das vantagens de ter o real valorizado é isso, nós podemos nos equipar com outros destinos”, alegra-se.
 
A mescla de atrações tem como foco satisfazer a palestinos e judeus – evitando o clichê gregos e troianos – dentro do share do Beach Park; composto em sua maioria por famílias. “Nós oferecemos essa possibilidade de a família brincar junto. Hoje, com a falta de tempo, é somente neste momento que as pessoas se divertem com seus familiares”, alerta. Ele diz que algumas famílias compram o programa de férias do resort e as crianças acabam se tornando habitués até da infância à adolescência. “Com 15, 16 anos, a criançada já começa a querer ficar meia indócil, achar que é chato viajar com os pais. Por isso mesclamos as atrações”, complementa.
 
O empreendedorismo constante num negócio de tal dimensão acaba reverberando em outros desafios: “São muitas pessoas. E administrar pessoas é sempre complexo. Por isso investimos muito em sistemas de gestão e treinamento”, explica. Os números ao menos corroboram com Pascoal: são cerca de 1.200 funcionários na baixa-temporada. Em momentos de caos, a média bate 1.500 colaboradores – números nada semelhantes ao projeto inicial do Beach Park, que nasceu em 1985 de um badalado restaurante na beira da praia e somente em 1989 inaugurou seu parque aquático. À época, ele foi o primeiro da América Latina, com apenas três toboáguas.
 
 
“São muitas pessoas. E administrar
pessoas é sempre complexo”
 
 
Um funcionário para cada dois hóspedes 
Atualmente, com matemática infantil, embasada na média de 3.200 pessoas que passam pelo conglomerado diariamente na alta estação, é possível afirmar que há quase um funcionário para cada dois hóspedes. Necessário dizer que o número de colaboradores deve crescer, considerando o gradativo aumento na quantidade de passantes dos últimos anos: 510 mil em 2007; 528 mil em 2008; 685 mil em 2009; e 740 mil pessoas em 2010.
 
“Nossa ocupação tem sido boa. Os três primeiros meses de 2011 foram muito bons, em especial março por conta do Carnaval. Tradicionalmente, nossa baixa ocorre em abril, maio e junho. Nossa média, nos dois hotéis, está em 40%. Na média do ano, chegamos a 55%. Na alta temporada, a média de ocupação bate 85%, até mesmo 90%”, felicita-se.
 
Às vias de fato de se despedir, Murilo Pascoal posa para mais alguns cliques e com um sorrisinho no canto do rosto faz inveja: “O nosso grande diferencial é o Sol do ano inteiro. Mesmo que chova, nossa temperatura não cai. Você sempre pode entrar na água. Temos, no mínimo, 300 dias de Sol no ano. Até hoje não peguei aquela semana paulistana chata, de dois, três dias chovendo sem parar. De julho a dezembro é seguro Sol. Pode vir que não tem erro”.
 
O executivo garantiu que muitas atrações ainda estão por vir, mas que, por enquanto, elas permanecem no campo metafísico.
 
Contato
 
* A equipe Hôtelier News viajou para o Ceará a convite do Beach Park.