O solene ato de corte da faixa, cena comumente
imprimida nos eventos do turismo
(foto: arquivo HN)
 
Um discurso afirmando que o número de participantes em relação à edição anterior cresceu, algumas garotas sorridentes à porta e fotógrafos, jornalistas e aspirantes se acotovelando para flagrar o tal corte da faixa. Os itens facilmente traduzem o que é uma das feiras de negócios promovidas por entidades, governo ou até mesmo a iniciativa privada ligados à indústria do turismo.
 
Tal formato de mesmice continuada é sinônimo do quão enfaixado o trade está neste sentido. É claro que não se espera um acrobata do Cirque du Soleil ou um quarteto de cordas de músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo durante a abertura de um evento do setor, mas minimamente é necessário repensar o modo de se realizar esses encontros – modo este que está, aparentemente, arraigado e para muitos é irrefutável.
 
Quem sabe até plantar uma árvore serve de tentativa para correr um pouco do lugar comum, já que não é apenas na solenidade inicial que se esgota a moeda sonante dos eventos. O corte da faixa vai reverberando pelos corredores, se transformando em panfletagem, distribuição de folhetos e acúmulo de sacolas para guardar cartões de visita, brindes ou simplesmente aquela garrafinha d´água – angariada no estande de sabe-se lá quem.
 
Como resultado se tem contatos frios e indiferentes, alguns apertos de mão seguidos de tapinhas nas costas e a promessa de se fazer negócios provenientes daquele emaranhado de cartões quando se retornar ao escritório.
 
Tudo isso com envolvimento de boa parte das equipes, num ambiente custoso, que pretensamente está sendo pensado há meses e que deveria fomentar o conhecimento quase que empírico de determinado hotel ou destino – além de gerar novos parceiros. No entanto, o que se tem é o revés disso: poucas pessoas com poder de decisão; nenhuma promoção, pacote ou ação direcionados ao evento; e um sem número de agentes que pouco aproveitam a oportunidade de tratar de perto os pormenores que garantiriam notória melhoria em seu sistema de trabalho.
 
As circunstâncias adequadas e favoráveis são ignoradas sem motivo aparente. É ali que o hoteleiro pode e deve mostrar seu produto, discutir a melhor taxa de comissão, entender a necessidade do agente e o mercado que este representa, estreitando a relação pessoal e, por conseguinte, viabilizando o retorno do alto investimento necessário para se participar de uma feira. Sem contar que estes eventos, por sua essência, deveriam trazer o maior manancial de novidades para o segmento. É o aparente paradoxo das feiras do trade, uma vez que poucas ideias frescas e inovadoras estão na pauta – e o que se vê é um eterno retorno de imagens já vividas.
 
É uma conta de mais e menos que precisa de nova prova real, já que o modelo, ainda que quadrado, é utilizado copiosamente. Em tempo, para não perder o tato e fingir que há novidades em tais eventos – e principalmente trazer uma verossimilhança de novas ideias -, até mesmo a imprensa do setor adota uma postura de festa e imprime repetições sem muito pudor. As coberturas são brandas, as pautas são as mesmas da edição anterior – embasadas em releases previamente enviados – e o ar de amizade com as fontes, espécie de cicuta para o jornalismo, paira em todos os corredores das feiras de negócios.
 
A boa nova é que no começo deste mês foi realizada em São Paulo a Travelweek, com ímpetos de uma organização jovial, brilhantemente conduzida por Carolina Perez. A grande diferença? Milhares de reuniões de negócios realizados entre os buyers e expositores – que certamente ficaram satisfeitos com o ROI (retorno sobre investimento) feito na exposição. A fórmula é simples e deve ser levada adiante.
 
O calendário de eventos deste ano está mal começando e culmina com a feira da Abav no Rio de Janeiro, que nas duas edições passadas soou um exemplo de fiasco. Ainda é tempo de planejar, inovar ou copiar boas ideias semelhantes à da Travelweek. Mas fica aqui a pergunta: será que alguns dos desgastados condutores das atrações panfletárias irão abandonar ações egoístas e gananciosas e pensar no mercado como um todo? Ou o câncer estará deveras adiantado? Se for isso, a solução será a substituição dos corpos.
 
Em momentos de Páscoa, cuja renovação é mote primeiro da comemoração, é necessário que o invisível se personifique aos olhos e os sensos de incompletude e de insatisfação tragam outras formas de se fazer o que parece inveterado.