Excesso de participantes é um dos possíveis entraves
(foto: arquivo HN)
A participação em constantes feiras do setor de turismo, e até mesmo de outras indústrias, traz algumas reflexões que, se vistas de perto e com olhar clínico, podem agregar aprendizado e adestrar o mercado em ações futuras. Em específico na última semana, alguns exemplos suscitam e pedem este outro óculo.

Primeiramente, deve-se analisar os bilhões de reais gastos em eventos com o escopo de lotar pavilhões estrondosos, como o Expo Center Norte, em São Paulo, sem colocar lado a lado os verdadeiros players do setor. Os incontáveis visitantes, que em alguns casos figuram em tais encontros como vão ao Parque do Ibirapuera num domingo fastidioso, impediam um minuto de diálogo com os fornecedores na tentativa de consolidar compras ou parcerias. Não que mais pessoas interessadas seja negativo para qualquer segmento, todavia é necessário rever a dinâmica de participação para que não se comprometa o cunho principal: o de bater o martelo e fechar novos negócios ou parcerias.

Os fornecedores também têm lá seus lapsos. À exceção de alguns vitoriosos, muitos deles estão em grandes feiras para apresentar seus produtos sem ter tato algum com o comprador que ali está buscando inovações – pegando apenas carona no jargão de que “o turismo é a bola da vez”. Novamente é preciso dizer que não há mal algum em vislumbrar novos mercados e, por conseguinte, estar presente mostrando seu produto, contudo é possível minimamente mostrar a cara com um pouco mais de tato com o segmento com o qual você está flertando, buscando referências e se preparando antecipadamente para entender minimamente o setor.
Outro ponto é o vitimado material impresso, produzido pelas empresas participantes no intuito de demonstrar o porquê de se estar num evento tão custoso, e que rapidamente se transforma em excesso de lixo nos corredores do pavilhão, haja vista o notório número de visitantes que ali estão em nome sabe-se lá do quê e que rapidamente se desfazem de algo deveras importante.
E justamente dessa notória quantidade de participantes sem intento claro é que surgem outros motivos que inviabilizam feiras desse porte: acúmulo de pessoas querendo chegar ao parque de exposição, dificultando o trânsito local e deixando às claras também a incompetência dos órgãos responsáveis – a exemplo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que não consegue vislumbrar a grande demanda de veículos que almejava chegar aos pavilhões e param o trânsito para priorizar grandes avenidas do entorno, desenhando uma sucursal do caos nas ruas próximas.
Em se tratando de tumulto e trânsito, houve um notório entrave no trabalho da imprensa durante o encontro desta última semana, que, perdida em meio à multidão, viu-se fadada a estender o braço ao taxista e pagar para realizar seu trabalho a tempo – não podendo contar com o transfer oferecido pela própria empresa organizadora no intuito de minimizar questões de locomoção. A infraestrutura nos estacionamentos também não era diferente, e mais uma vez foi preciso pagar para trabalhar, já que o espaço para veículos VIPs não contemplava a imprensa.
Aos profissionais de comunicação inclusive que sobrou outra romaria. Da sala de imprensa do evento, lembre-se que esta figura na capital paulista, local no qual a tecnologia e a comunicação já são velhas aliadas, não se conseguia nem mesmo ler um e-mail. No primeiro dia, em nome de um problema da maior empresa de telecomunicação do Brasil, não havia internet. Publicar uma notícia era artigo do mais alto luxo – e, novamente, foi preciso pagar para se trabalhar e cumprir a máxima de trazer informação ao leitor. Informação esta que também era magnanimidade, haja vista que os fornecedores ali presentes, que naquele momento ganharam o título de fonte e estavam em oportunidade singular de apresentar seu produto e, com o perdão do impropério, vender seu peixe, pouco o fazia e pareciam estar altamente despreparados sob si próprios.
Como já escrito nessas linhas, é o aparente paradoxo das feiras do trade, quando num momento de fomentar os negócios o despreparo fala mais alto e a leitura de um mercado infantil se faz tangível. O profissionalismo parece ter sido esquecido em nome de um modelo que reverbera há anos e acabará no museu do despreparo e do amadorismo brasileiro.
Eventos desse cunho são de suma importância, mas continuam absorvendo o maior número de investimentos do setor e não trazendo os dividendos que, além do esperado, são possíveis se se subverter em planejamento e seleção dos participantes as grandes cifras despedidas em panfletos e aperitivos servidos a visitantes pouco relevantes. Às dificuldades conhecidas pouco se tem feito e, ao que tudo indica, o pretexto é que assim se deva continuar – em vez de buscar maior sinergia que assegure rentabilidade, eficiência e amadurecimento ao mercado.