(foto: quicksolutions.com)

 

É sintomático e indiscutível que o setor hoteleiro vivencia momento estrondoso quanto à ocupação dos hotéis. Copiosamente, dados apresentados com o balanço do ano de 2011 dão conta de que os indicadores de rentabilidade só fizeram crescer no último ano.
 
Dos muitos empresários ouvidos pelo Hôtelier News, apenas um falou às claras que sua ocupação havia diminuído em 2011 no comparativo com o ano anterior. Ou, de fato, o tempo áureo se personificou, ou os dados apresentados têm teor anedótico – especulação, diga-se de passagem, que não é o intuito aqui. Todavia, estudos de mercado – mensurados por consultorias com repertório conciso de atuação – dão conta de que a pujança econômica segue tal linha de aumentos. Até mesmo em outros países os apontamentos financeiros do setor hoteleiro são motivos de riso de ponta a ponta do rosto – a exemplo da Espanha que, mesmo com a dita crise mundial, mensurou aumento de 6,4% no número de romming nights comercializadas e de 60% no volume de transações hoteleiras.
 
Fato é que este cenário de elevações constantes, seja no Brasil ou em outras paragens, soa dúbio. De um lado, a hotelaria ganha dimensão e representatividade como atividade econômica que deve se consolidar como uma das representações maiores no segmento de serviços. De outro, em decorrência do momento profícuo e de uma mentalidade ainda retrógada, os empresários pouco buscam aprimoramento – uma vez que, com os hotéis lotados, tendo boa estrutura ou não, a demanda estará lá para alavancar as cifras.
 
Como toda regra, esta também tem suas exceções, mas é possível amargar que o desenvolvimento do setor, de forma sustentável do ponto de vista econômico, que deveria perdurar por muitos anos, ainda é quimera.
 
Quesitos de referência neste contexto são a conscientização e, notadamente, a consolidação dos estabelecimentos hoteleiros quanto às práticas ligadas ao meio ambiente, a famigerada sustentabilidade. Sim, há exemplos célebres que devem ser lembrados, não obstante, recordados como modelos atípicos. Há de se assumir, pois, que tal prerrogativa está muito mais no discurso.
 
Quando se pensa no tema, os objetivos econômicos têm sido, historicamente, os mais importantes aspectos para desenvolvimento de políticas sustentáveis. Até há ideologia imbuída à mentalidade de alguns empresários, mas os algarismos tendem a ecoar de maneira mais latente. E, num momento em que a economia do setor está mais do que consolidada, são poucos os que querem se dedicar à aplicação dos dividendos em implantação ou aprimoramento do que é sustentável.
 
A conta, neste caso, é mais do que errônea, haja vista que são muitos os pontos que se desenvolvem quando tais políticas são aplicadas. Um destino, ao adotar tal postura, torna-se mais relevante por incluir indicadores de melhoria na qualidade da população local. Os apontamentos negativos, como a ameaça da degradação de tradições culturais e a perda de sua autenticidade quando estes são comercializados, transformam-se em ferramenta de lucro quando o processo é pensado para que nada diminua esses detalhes. Ademais, a formação, o aperfeiçoamento, a qualificação e a capacitação da população local são fundamentais para as comunidades receptoras – o que ocorre quando políticas desse teor ganham dimensão.
 
E os hotéis devem figurar nesta lista, não somente os de lazer que estão instalados em destinos tidos como turísticos. Os danos já causados pela industrialização e pela sociedade consumista exigem, em tese, que a prevenção e a não produção de mais catástrofes sejam consideradas – o que deve valer para a hotelaria.
 
Do ponto de vista dos empreendimentos que atendem a turistas de negócios em destinos com o mesmo cunho, são muitos os pormenores que podem ser desenvolvidos com insígnia sustentável – como a não produção de lixo, a predileção pela contratação e treinamento da mão de obra local, a instalação de sistemas de energia solar para aquecimento de água, de luminárias com menor consumo, de tratamento do esgoto e reuso de água, entre outros tantos. O que se vê, no entanto, é um aviso para que o hóspede reaproveite sua toalha – o que não passa, com o perdão da franqueza, de demagogia e discurso.
 
Vale enfatizar que o Estado tem papel neste sentido, construindo políticas públicas que facilitem e incentivem um relacionamento simbiótico do setor com o meio ambiente e os ecossistemas dos quais dependem para sua viabilidade, prosperidade e crescimento, como bem pontuou o Ph.D Jonathan Van Speier. Necessário dizer que, ao menos em parte, há sim, no Brasil, algo sendo tocado neste quesito, a exemplo das linhas de crédito oferecidas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) – nas quais hotéis com projeto certificado de eficiência energética ou de sustentabilidade têm melhores prazos e alíquotas.
 
A conta é básica e, com matemática infantil, pode trazer resultados positivos: cenário econômico consolidado, hotéis lotados, a sustentabilidade como uma das melhores ferramentas de marketing do momento e linhas de crédito do governo federal para se desenvolver empreendimentos deste porte. Não há novidade aqui, é tudo evidência. Basta ser feito o necessário.