(imagem: fabianovidal.com)
 
Um dos pilares faltantes na arquitetura do turismo nacional diz respeito à produção de dados sobre o setor. Empresários e entidades envolvidas – sejam públicas ou privadas – parecem sorver um prazer ao canto da boca, que chega quase a ser sorriso, ao não conseguirem formular dados concisos sobre a atividade.
 
Seria este o primeiro ponto para que estrutura e a tomada de decisões fossem embasadas numa leitura menos à brasileira da cadeia que compõe a panaceia do turismo – visão esta à qual o profissionalismo está muito aquém. O que parece correto afirmar é que há uma ojeriza coletiva para a não consolidação deste material.
 
E se a análise for do que o setor hoteleiro consegue apresentar, em específico, pode sobrar leito na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016 ou turista sem acomodação. Ainda mais nefasto seria que muitos hotéis ficassem ociosos após os mundiais. A ausência substancial de dados tem diversas versões e pode contribuir negativamente para isso.
 
As médias de ocupação e diárias mensuradas pelo Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) até se apresentam como fidedignas, mas correspondem apenas às 24 redes hoteleiras que compõem a entidade. Há uma lacuna de proporção avassaladora a ser preenchida, haja vista que indicadores concretos são fundamentais ao desenvolvimento da indústria.
 
Outro ponto esbarra na mentalidade tupiniquim de alguns hoteleiros, a exemplo da divulgação das taxas de ocupação – já que gestores entendem que não devem fornecer esses dados à concorrência.
 
E a postura vem de cima. Não faz muito tempo, Enrico Fermi Torquato, presidente da ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), afirmou à Folha de São Paulo que esconder dados é uma estratégia do hoteleiro se resguardar. “Não concordo [em abrir os números de ocupação e de faturamento]. Acho que temos de falar quando está bom e, quando não está bom, temos de nos calar”, disse o presidente à publicação – o que transparece a carência de amadurecimento no setor e de seus títeres.
 
Necessário dizer o óbvio e apontar que sem dados básicos não se tem leituras fidedignas de dimensão de mercado, quanto ele representa na economia, quanto é preciso investir, quando se obtem de lucro e afins.
 
Culturalmente o brasileiro adora se mostrar em vantagem o tempo todo, e esse caricato está imbuído já há bom tempo em raízes do povo. Walt Disney, por exemplo, quando fez a primeira incursão em terras brasileiras, caracterizou o ‘nativo’ na figura do papagaio Zé Carioca, malandro que leva vantagem em tudo, sabe o que dizer para impressionar e tem um sorriso tão cativante e visto corriqueiramente na face da patota política.
 
Ilustração constrangedora também é que muitas vezes tais dados, quando levados a público, nada mais são do que porcentagens anedóticas. Isto porque a promiscuidade de alguns hoteleiros os encaminha à apresentação de um percentual que soe bonito nos holofotes da imprensa, quase nunca citado quando a ocupação, por exemplo, figura na casa dos menos de 50%.
 
A filosofia abjeta e antiprofissional mostra os muitos solavancos que a indústria hoteleira tende a passar para atingir o aprimoramento à qual está exposta nesta fase. A oportunidade de amadurecimento se faz presente, a economia brasileira vive seu melhor momento e profissionais das mais variadas estirpes, no que tange ao bem-servir, estão no mercado. É preciso retomar o debate, antes que a estrutura se torne senil e o náufrago seja inevitável.