Glaucio Olchenski é o gerente geral do Pestana Rio Atlântica, no Rio de Janeiro
(fotos: Peter Kutuchian)

A carreira começou quase por acaso, mas atualmente Gláucio Olchenski não consegue mais se ver longe da hotelaria. Para se ter uma idéia, a formação dele é em História e seu primeiro emprego foi como professor. No entanto, após um período de estudos na Inglaterra, onde se dedicou à gastronomia e se tornou chef, a hotelaria se transformou num caminho rápido, simples e óbvio em sua volta ao Brasil.

Em terras tupiniquins, seu primeiro emprego no trade foi em Londrina, como gerente de Alimentos & Bebidas do Bourbon local. Depois disso, iniciou a vida de cigano tão comum para os hoteleiros: Comandatuba (BA), Campinas (SP), Foz do Iguaçu (PR) e, finalmente, Rio de Janeiro, onde há três anos ocupa a gerência geral do Pestana Rio Atlântica. “Sou fascinado por isso”, conta Gláucio. Conheça agora mais um pouco sobre o executivo e suas opiniões sobre o mercado carioca.

Por Vinicius Medeiros

Hôtelier News: A disputa entre os hotéis na orla da praia de Copacabana é muito acirrada. Com isso em vista, qual o segredo para se diferenciar, conseguir novos e mais clientes e se manter sempre entre os primeiros?
Gláucio Olchenski: Quando definimos a nossa estratégia comercial, ficou muito claro para nós que havia uma lacuna entre os hotéis top de luxo na cidade, como o Copacabana Palace, e os outros que estavam num patamar um pouco mais baixo. Então, optamos por ocupar exatamente esse espaço, definindo uma política tarifária não muito alta, mas ao mesmo tempo nos diferenciando de outros produtos do bairro. É claro que a boa penetração e imagem do grupo Pestana também nos ajudam bastante, especialmente para a captação de reservas no Brasil e no exterior.

HN: A crise aérea afetou bastante o mercado hoteleiro nacional, e o Rio de Janeiro, por ser uma das cidades brasileiras que mais recebe turistas estrangeiros, foi uma das mais atingidas. Qual foi a saída para tentar escapar dessa situação? 
Olchenski: A participação do mercado internacional aqui no hotel já chegou a 75% há alguns anos. Com a crise da Varig, que no ano passado se agravou durante a Copa do mundo, em junho, e depois com o apagão aéreo, houve uma queda muito drástica nesse mercado, por isso tivemos que mudar um pouco nosso enfoque, olhando com mais carinho para o mercado nacional, principalmente o segmento corporate. Assim, criamos um pacote corporativo que inclui uma série de benefícios como água mineral gratuita, jornal no quarto, check-in e check-out diferenciado, entre outros serviços, e que é um sucesso. Com ele, alcançamos um bom crescimento no mercado nacional, o que nos possibilitou chegar a um maior equilíbrio entre mercado doméstico e o internacional – nosso grande objetivo para este ano.

HN: Ainda sobre este assunto, o que é ideal para Rio Atlântica?
Olchenski: Fica difícil falar sobre um ideal no espaço de um ano. Vou explicar por sazonalidade. Quando cresce o turismo de lazer é exatamente quando o turismo corporativo esfria. Então, se você conquistar um equilíbrio e trabalhar bem o relacionamento com o cliente, você consegue manter uma taxa de ocupação boa.

  

HN: Por que a questão cambial afeta tanto a hotelaria carioca?
Olchenski: Como os hotéis do Rio contam com uma participação muito forte do mercado internacional, a recuperação da diária média passa pela valorização cambial. Eu não posso mais aumentar a diária porque ela, em dólar, passa a ficar pouco atrativa. Em caso de aumento, você passa a ter um vôo longo e uma diária cara, isso tudo num destino que, infelizmente, tem passado uma imagem de violência — e a gente sabe que não é esse monstro todo. E se, além disso, você encarecer ainda mais o destino, o Rio passa a ser inviável e perde espaço para outros locais. 

HN: Depois de um ano difícil, 2007 traz boas perspectivas com os Jogos Pan-americanos. O que o você espera deste ano para o hotel?
Olchenski: Na minha concepção, este ano já começou diferente. A demanda, por exemplo, já está muito mais aquecida do que no início de 2006. O Pan-americano, obviamente, expõe mais a cidade, mas ainda acho que a prefeitura poderia fazer novas campanhas de divulgação do Rio no Brasil e no exterior, mostrando que ele é seguro e que as pessoas podem visitar a cidade com tranqüilidade. Além disso, o setor de eventos e convenções tem crescido bastante, especialmente pela entrada da GL Events no Riocentro e a construção do Rio Cidade Nova Convention Center, que estão aquecendo o calendário de encontros da cidade e que, certamente, trarão mais e novos negócios.

Também vale destacar que mesmo com a abertura dos novos hotéis no centro, da troca de bandeira do Le Meridien e da entrada do grupo Estoril na avenida Atlântica, acredito que existe espaço para todo mundo nesse vácuo de crescimento que 2007 promete. Então, este ano fatalmente será muito melhor do que 2006, e se tudo for feito direitinho por todos, será um trampolim perfeito para um desenvolvimento que há muito tempo não é visto por aqui.


Praia de Copacabana, na cidade maravilhosa

HN: Você é um hoteleiro experiente que já trabalhou em várias cidades. Qual a sua avaliação sobre o mercado hoteleiro do Rio? Na sua opinião, o que há de melhor e pior nele?
Olchenski: O mercado carioca tem suas particularidades, mas o mais fascinante é a gama de diferentes personalidades, de estilos e culturas que a cidade recebe. Assim, aqui você tem que ser de fato hoteleiro na acepção da palavra e estar adaptado a isso, sabendo receber bem todos os clientes. Você atende a uma pessoa de um jeito e tem que ter a flexibilidade de logo a seguir atender outra de uma forma completamente diferente. Por exemplo: não posso atender o corporate paulista com informalidade, ao mesmo tempo em que não posso atender um turista estrangeiro com muito rigor. Com certeza isso nos faz treinar o “ser hoteleiro” de uma maneira singular.

Em relação à parte ruim da hotelaria carioca, não há como falar sobre isso sem citar a questão da segurança. No entanto, estamos vendo com muito bons olhos o trabalho desenvolvido pelo novo governador (Sérgio Cabral) e seu secretariado. Estamos compartilhando idéias, trabalhando juntos, eles têm sido extremamente abertos em ouvir o que o turismo tem a dizer e isso tem sido muito positivo até aqui. Na minha opinião, como morador do Rio de Janeiro, acho que a questão da segurança está sendo revista. Estou sentindo uma diferença e isso nos dá muita esperança.

    

HN: Quais os principais objetivos e metas para o Pestana Rio Atlântica neste ano?
Olchenski: Temos como objetivo principal dar continuidade à reforma do hotel. Concluímos em 2006 a modernização das suítes oceânicas e agora vamos trabalhar os corredores e os demais apartamentos. Além disso, vamos trocar alguns itens da fachada, construir um spa na cobertura e reformar os salões de eventos – obra que prevê troca de carpete e sonorização, entre outros detalhes. Todas as mudanças devem durar cerca de um ano e meio.

Sobre as metas de crescimento, ficamos um pouco abaixo do que projetávamos no ano passado, especialmente em virtude das dificuldades vividas pela hotelaria carioca, como dólar baixo e crise aérea. Ainda assim, nosso desempenho foi positivo, ainda mais dentro de nosso set de competitividade. Este ano, com o Pan e as mudanças já citadas na cidade, tem tudo para ser muito melhor.

HN: Atualmente quais são os principais mercados do empreendimento?
Olchenski: Hoje, o nosso segmento mais forte ainda é o internacional. Dentro dele, posso destacar três mercados que puxam a fila: em primeiro lugar vem o português, seguido pelo alemão e o inglês. Logo abaixo está o norte-americano, o qual estamos em busca de um crescimento ainda maior, pois há demanda para isso, especialmente com as indústrias petrolíferas instaladas no estado. Ainda não estamos no patamar que desejamos, mas já alcançamos resultados positivos. Por exemplo, em 2006 conseguimos um incremento de 75% entre os norte-americanos em relação ao ano anterior. Já no mercado nacional, nosso grande emissor é São Paulo, especialmente no segmento de turismo de negócios.


Lobby do Pestana Rio Atlântica

HN: Você perdeu um forte concorrente (Le Meridien) e ganhou outro tão forte (Iberostar) de um dia para outro. Como você avalia essa alteração? Crê que haverá alguma grande mudança na hotelaria de Copacabana?
Olchenski: Acho que tudo tem seu aspecto positivo e negativo, mas, no final das contas, vejo com bons olhos a entrada da rede Iberostar no mercado carioca. Em primeiro lugar, certamente ela vai agregar muito ao trazer para o Rio de Janeiro um novo público — a Iberostar é conhecida por ter um poder de captação muito grande. Mais ainda, duvido que consiga captar 100% desse público, o que será ótimo para os demais empreendimentos.

Ao mesmo tempo, tenho receio em relação à sua política comercial, uma vez que historicamente são conhecidos por trabalhar com tarifas baixas. Mas também não sei até que ponto o grupo Iberostar iria agüentar isso, em virtude dos altos custos administrativos da propriedade. Então, para garantir uma boa rentabilidade, não creio que baixarão muito as tarifas.

HN: Ainda sobre o Iberostar Copacabana, você crê numa mudança natural dos clientes franceses para o Sofitel Rio? O que o Pestana Rio Atlântica fará para tentar atrair estes mesmos turistas?
Olchenski: Acho que o Sofitel tem uma capacidade de absorção muito grande, mas, ao mesmo tempo, a localização é completamente diferente, o que pode afastar alguns clientes em potencial. O fato é que todos os hotéis estão de olho nesses hóspedes e nós não somos diferentes.

Serviço
www.pestana.com