Otavio Novo é especialista em Gestão de Crises

Nos jornais e noticiários pelo mundo, a imagem da vítima de mais um caso de violência no Rio de Janeiro. Uma mulher espanhola de 67 anos, que fazia parte de um grupo de turistas que realizavam umas das diversas excursões diárias com destino a favelas e comunidades da cidade.

A morte dessa senhora causada por um tiro disparado por um policial em operação na favela da Rocinha, foi uma perda irreparável e uma enorme tristeza para a família, amigos e para todos que acompanharam as notícias.

E uma situação assim, invariavelmente, tem o poder danoso de atingir muito mais pessoas inocentes do que a própria vítima, assim como de determinar mais responsáveis pelas perdas do que o autor do tiro fatal.

Como todos sabemos, essa não é a primeira morte de turista em um dos destinos brasileiros, e muito menos esse é um exemplo raro de um homicídio em uma área carente das cidades do país. Infelizmente, a realidade é o conflito diário entre diferentes grupos e indivíduos, resultando sempre em muitas vítimas, especialmente nas diversas Rocinhas do Brasil, ou seja, nas comunidades carentes e consideradas de maior risco devido ao clima hostil e ao total abandono do poder público.

Obviamente este não é um problema restrito às comunidades, já que em todas as localidades de um destino turístico existem riscos de criminalidade que devem ser considerados por turistas, e especialmente pelos profissionais que têm o interesse e o dever de oferecer aos seus clientes opções adequadas e seguras. 

Mas e quando algo como o crime na Rocinha acontece, quem é responsável? A quem isso atinge? O que deve ser feito para evitar que aconteça de novo? 

São diversas perguntas importantes, algumas sem respostas rápidas e/ou soluções instantâneas, contudo existem caminhos claros para responder cada uma delas.

Quanto a responsabilidade pelo crime existe um compartilhamento entre os envolvidos, ou seja, turista, poder público e empresas envolvidas, todos fazem parte, e se complementam, na cadeia de ações que garantem uma viagem e estadia seguras. Entretanto, é claro que o Estado e os profissionais que prestam esses serviços, como agências de turismo, hotéis e etc,  têm maiores responsabilidades, e isso é definido inclusive pela legislação local. 

Os governos Federal e do Estado do Rio de Janeiro, esse último responsável legal pela segurança pública, demonstram a incapacidade de atuar efetivamente na redução da criminalidade e do aumento das condições sociais, e as empresas responsáveis pelo passeio na favela cometeram diversas falhas e se mostraram despreparadas para oferecer um serviço com segurança.

Os efeitos de uma situação assim atingem diretamente as vítimas dos atos violentos, seus familiares e amigos, e na sequência todos aqueles que façam parte das atividades e das localidades envolvidas. Nesse caso, o setor de turismo foi, mais uma vez, seriamente impactado, trazendo ainda mais problemas para a já debilitada economia local.

E diante de acontecimentos como esse, é essencial a existência de providências e processos efetivos de melhorias nos níveis de segurança. E isso deve ser feito, necessariamente, em conjunto entre as empresas do turismo, seus representantes institucionais e o poder público.

O turista, em regra, não conhece adequadamente o seu destino e por isso precisa ser devidamente instruído e orientado para que possa fazer parte e cumprir o seu papel na gestão de riscos e crises durante sua viagem.

A definição clara das responsabilidades dos prestadores de serviços do turismo atuando em conjunto com o poder público, e a necessária criação de práticas de identificação e prevenção dos riscos existentes nas atividades turísticas e de hospitalidade. 

Essas são medidas urgentes para que o sintoma de total descaso com a segurança das pessoas, seja substituído pela certeza de que apesar de problemas e riscos existirem, as providências estão sendo tomadas de maneira séria e efetiva. 

Quanto ao Estado, esse deve ser incansavelmente cobrado de todas as maneiras para que sejam tomadas medidas urgentes e profundas para a solução das causas da criminalidade. É importante que os profissionais do turismo e da hospitalidade se organizem e cobrem a realização de estudos de soluções, e a pronta implantação de leis e políticas para ajudar o setor a se fortalecer cada vez mais.

Para os profissionais do setor da hotelaria, por exemplo, é essencial que conheçam suas responsabilidades e as vulnerabilidades do seu negócio ou produto, e, juntamente com seus pares internos e externos, cobre ações do poder público para realizarem as medidas que farão os cidadãos e os turistas voltarem para suas casas de forma segura e com boas e felizes experiências.  

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Otavio Novo é advogado, profissional de Gestão de Riscos e Crises, com 17 anos de atuação em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da AccorHotels para cerca de 300 propriedades e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina.

Em março de 2018, Otavio Novo participa como um dos professores da segunda edição do Curso HRCM – Hotel Risks and Crisis Management (Gestão de Riscos e Crises na Hotelaria).

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