(imagem: phoris.blogspot.com)
 
Não são poucos os percalços pelos quais o Brasil terá de passar para que o turismo nacional ganhe insígnia de profissionalismo. É sabido que nos últimos anos o setor vivenciou avanços inegáveis até para os olhares menos ávidos: mais pessoas se capacitaram, a economia brasileira favoreceu a procura da população pela atividade, muitas empresas ganharam relevância no mercado, entre outros pontos.

Frente à situação, é primordial examinar incansavelmente a atual condição, numa reflexão que traga reais benefícios para que este segmento perdure com meios sustentáveis. É preciso dizer que a indústria turística padece de um detalhe sintomático, muito visto em inúmeros nichos empresariais do País: não há visão sistêmica. Numa atividade na qual o dinamismo é latente, são poucos os que conseguem ver o todo e refletir sobre as medidas ou não a serem tomadas para monitoramento e manutenção do que está posto ou pode ser desenhado.
 
À universidade, comumente, delegou-se este papel. No entanto, o turismo no Brasil traz uma graduação própria neste sentido, e é no mercado que essas particularidades são tratadas. Não que não haja profissionais com a mão na massa e que desenvolvam um trabalho reflexivo com base em projetos para um possível futuro da atividade, eles existem, mas são poucos num mercado tão extenso. Seria prudente, pois, que as faculdades contribuíssem neste quesito.
 
A métrica utilizada em grande parte dos casos está embasada somente em padrões que façam crescer as cifras. É assim na aviação, na hotelaria, nas agências de viagem, nos parques temáticos, nas empresas de transporte rodoviário e afins. O que precisa subir à baila é que os processos empresariais no turismo envolvem particularidades, o que pressupõe levantamentos, análises e monitoramento constantes. A aviação, ainda que vise tão quanto outros segmentos o lucro, deve ser auferida com uma sistemática totalmente díspar à hotelaria, e vice-versa. Isto se aplica às demais vertentes do setor.
 
O problema da sazonalidade serve de base para que se pense isto. À guisa de informação, empresários, poder público, acadêmicos e demais envolvidos têm ciência de que as nuances da demanda em determinadas praças são constantes, porém não seguem as mesmas regras para todos os setores envolvidos.
 
Ocorre de, por exemplo, hotéis estarem lotados num município por conta de grandes obras da construção civil que se realizam no local. Na contramão disso, a aviação não vive da mesma ebulição naqueles lugar e tempo, haja vista que os trabalhadores já se encontram no destino e fazem uso tão somente do setor hoteleiro – acrescente-se aí de restaurantes, atividades de entretenimento e do comércio da cidade. Ou seja, no melhor cenário, há uma elevação da demanda, com base num movimento sazonal, porém não para todas as empresas atreladas ao turismo – e isto pede análise.
 
Faz-se necessário o redimensionamento até mesmo desta sistemática, mantendo dados que possam apurar e prever o planejamento das atividades. As escolas do setor atuariam, em tal ponto, com a responsabilidade estratégica de pesquisa, reflexão, sistematização, acompanhamento e assessoramento do que é medido. É uma dialética que não pode ser dissociada de nenhum setor em franca expansão e que tem ainda ranços de um amadorismo que precisa virar história no museu da debilidade.
 
Outro ponto que segue na contramão desta mentalidade é que o profissional de turismo tende a frequentar a academia imbuído apenas de uma pretensão: elevar seu cargo e, por conseguinte, seu salário. Poucos são os que vão às universidades, principalmente para cursos de pós-graduação, estimulados a se tornarem pesquisadores do setor – com capacidade de reflexão e compreensão da atividade.
 
É claro, a universidade vive o mundo ideal, o campo metafísico – muito longe da verdade substancial que ocorre no dia a dia de uma empresa do setor. Mesmo assim, é dela que deve partir conhecimentos que possam ser agregados ao mundo real do mercado.
 
São mudanças ainda incompreensíveis, pouco debatidas e que estão distantes de uma solução. É enganosa a ideia de que mais e mais dinheiro e demanda vão guinar o turismo no País – referências oportunamente repetidas, mas muito à distância de um mercado maduro. A preocupação maior – e mais infantil, vale rechaçar – limita-se aos enganos e engodos da regulamentação da profissão de turismólogo; como se esta fosse a solução para o turismo.