Bem-vindos ao Paraty Bungalows
(fotos: Dênis Matos)
Estamos em Paraty, município com arquitetura do período colonial brasileiro, situado na região oeste do litoral fluminense. A cidade, há de se dizer, parece estar no limiar entre o passado e o presente. As ruas são planas e de pedra irregular, em boa parte do centro histórico é proibida a entrada de carros, o clima é ameno e a vida parece correr num compasso díspar em relação ao que se vê nas capitais do País. Pessoas andam a passos lentos, cavalos cruzam as vielas e a estética das construções de um modelo simétrico quase nos levam aos idos de 1667, quando da emancipação política da região, decretada pelo rei de Portugal.

A hospedagem, num lugar com este DNA de calmaria, deveria seguir tal preceito e ter ares litorâneos. Mas nem tudo é óbvio.
Construído com influência do estilo arquitetônico e decorativo do litoral americano da década de 1960, contrastando com seu interior moderno e confortável, o Paraty Bungalows Hotel & Bar é baliza para o contrassenso. Espaço e decoração mostram logo a que vieram: mesclar a Hollywood do século passado ao rock and roll que há décadas chacoalha os esqueletos dos adeptos – e constipa os avessos.

Pôsteres, discos, livros, quadros, adereços e um sem-número de objetos distribuídos pelo meio de hospedagem dão conta da proposta do alemão Matthias Prill, cinéfilo e roqueiro compulsivo que idealizou tal contexto e é proprietário do meio de hospedagem. Grande parte do acervo é do próprio germânico e, sublinhe-se, está autografado.

Já de cara, à entrada do Paraty Bungalows, a vista da piscina enche os olhos: mas espere, vai melhorar. É no Bar Riviera que a atmosfera da metade do século passado se personifica, e, da mobília à música, o tom dos anos de 1950 são retomados.

Acrescente-se aí itens retro como um café da manhã, que pode ser estendido até às 14h, com panquecas americanas; a voz de Perry Como cantando Magic moments – entre tantos outros ícones do rock que fazem a trilha sonora do local -; e as imagens do artista plástico Josh Agle, com estética de propagandas e cartuns, estampadas nas paredes do empreendimento. Sim, a experiência tem muito de sensorial e de arte.

O resultado não poderia ser outro: ar vintage mesclado à insígnia bucólica da charmosa Paraty num meio de hospedagem. No mínimo, uma estrutura atípica aos demais estabelecimentos do município. Para melhor definir, um verdadeiro Estranho no ninho – notadamente tomando o melhor sentido do filme de Milos Forman, que consagrou o ator Jack Nicholson.

Por Dênis Matos*
 

Logo após a entrada, a piscina invoca a atenção. Reparem
que os apartamentos estão dispostos como numa espécie de vila
 
Na recepção, indícios da estética que permeia
todo o Paraty Bungalows…
  
…O clássico sininho hoteleiro, presente no balcão
 
 
Nas paredes, camisetas do hotel e do bar, à venda
para hóspedes e passantes
 
Um pequeno espaço para leitura, com móveis
em bambu, estética comum às casas litorâneas,
mescla que não poderia deixar de existir –
uma vez que estamos em Paraty
 
 
Para fomentar o tempo de ócio, algumas revistas à disposição
 
Juntamente à piscina, há um ofurô…
 
…E um pequeno espaço que funciona como bar molhado
 
…Ótimo para sentar e praticar a ociologia sem culpa,
com o perdão do neologismo
 
 
Cadeiras e mesas para um drink à beira da piscina,
que ganha novos ares com o cair da noite
 
No sentido oposto à entrada, espreguiçadeiras ficam
dispostas abaixo da palmeira Bismarck, espécie que traz um
grande efeito ornamental devido aos seus porte e cor.
Quando da reportagem, o proprietário do Paraty Bungalows fez
questão de explicar que esse tipo de planta é pouco conhecido
no País. Segundo ele, elas se adaptam com facilidade
a climas subtropicais e invernos moderados – ou
seja, vivem muito bem no clima variado do Brasil
 

 

Grande parte área externa da pousada, à exceção dos
quartos, leva na decoração traços do artista estadunidense
Josh Agle, comumente chamado de Shang. Aos 46 anos, o
ilustrador e designer trabalha na Califórnia e já expôs
individualmente nos Estados Unidos, Japão, Europa e Austrália

 
 
Acima, uma área lateral à piscina, onde é possível
bater papo ou até mesmo tomar um café no decorrer do dia
Estrutura
As acomodações do Paraty Bungalows são um charme à parte. São apenas oito bangalôs individuais, amplos, com 55 m² cada, bem iluminados e divididos em dois ambientes. As cores são sutis e o pé direito é relativamente alto, o que possibilita uma claridade quase que natural.

Todos têm muitas janelas, são equipados com banheira, sistema de água pressurizada e aquecida a gás, TV de LCD, DVD player, TV a cabo, micro system estéreo, camas king-size com colchões ortopédicos, cortinas blackout, ar-condicionado, internet wi-fi gratuito e minibar.

A pergunta, assim como a que fiz ao proprietário, é: não são poucos apartamentos? Não. Segundo Matthias Prill, a ideia é justamente esta: manter o espaço intimista e limitado, para que aquele caos comum a hotéis de praia seja evitado. A exclusividade é palavra de ordem.

Os quartos, conta o alemão, são comumente reservados para grupos que acabam fazendo do Paraty Bungalows uma extensão de suas casas. Detalhe: eles somente podem hospedar um casal com no máximo um filho. Prill diz que esta exigência serve justamente para que a tranquilidade do hotel seja preservada.A ideia de fazer do empreendimento uma espécie de casa de férias desses grupos é válida até para o próprio cinéfilo. Por ser produtor musical e receber algumas bandas de rock no empreendimento, ele acaba fechando a pousada e ocupando todas as UHs para músicos que, muitas vezes, são seus amigos particulares.


O rol de artistas que já figuraram por lá não é pequeno: Wayne Hussey da banda the Mission; East Bay Ray do lendário Dead Kennedys; Victor Rice do grupo de ska Toasters; Glen Matlock do Sex Pistols; Mark Ramone; Wattie Buchan da banda punk The Exploited; Derrick Green do Sepultura, entre outros malucos.
 
Sim: há todo um ar de “sinta-se em casa”
 
 
 
No banheiro, um enorme balcão que facilita a vida do
hóspede ao concentrar todos os
pormenores de
amenities e toalhas num só espaço
 
Opções de amenities e uma pequena hidromassagem,
à disposição dos hóspedes no quarto
 
Pasmem: os apartamentos têm 55 m² e são providos de
poltronas, mesa de centro, bancada para trabalho –
claro, ninguém em sã consciência quer trabalhar
estando em Paraty – e frigobar
E, não diferente dos outros espaços do meio de hospedagem,
traz detalhes do cinema mundial, a exemplo dos quadros de
Dean Martin, um dos mais influentes artistas do século 20
 

Dois ângulos da cama. Note a dimensão do quarto e,
principalmente, a quantidade de janelas –
o que deixa o espaço absurdamente arejado

 
 
 Acima, uma poltrona para esticar as pernas e ler algo. Repare
que a sugestão, em se tratando do Paraty Bungalows, é
uma revista sobre rock and roll – predileção deste que
você agora lê. À esquerda, CD Player e com mais quadros
sobre o cinema mundial na parte superior.
À direita,
televisor LCD acoplado à parede, mais Dean Martin
e a percepção da altura do pé direito, o que dá mais
claridade e melhora a temperatura do ambiente
 
Com o cair da noite, as luzes – e a ausência de algumas delas –
dão outro aspecto ao apartamento…
 

Os muitos rolos de filme gastos com a história do cinema também são parte importante no Paraty Bungalows, especificamente no Riviera Bar. Decorado no estilo clássico dos anos 1960, o espaço é testemunha de muitas coisas que a sétima arte já fez. Os itens, raros, vão de pôsteres autografados, LPs e fotos à contratos de atuação cedidos por grandes nomes da arte.
Há uma grande seleção de bebidas alcoólicas importadas e locais. Complementando, uma biblioteca com vasta seleção de livros sobre filmes e programas de TV clássicos, artigos exclusivos e autênticos sobre punk, country-music clássico e rock and roll.
É no bar, inclusive, que são servidos os cafés da manhã – únicas refeições oferecidas pelo hotel.  A pretensão é que, até 2013, uma nova área seja inaugurada e abrigue um restaurante. “No planejamento inicial e na execução da obra do hotel, em 2008, já foi considerado incluir um restaurante no futuro. Por isso, já temos quase toda a estrutura pronta”, explica Prill.
Novamente, a exclusividade vai ser regra, e a ideia é que os cardápios sejam gourmet.
…Com o fim do dia, vale perder umas horinhas no Riviera Bar
 
O espaço tem uma atmosfera própria. Por vezes,
influenciado pela country-music e por clássicos do rock
que fazem a trilha sonora do espaço, a impressão
que se tem é que se está nos idos de 1960
 
 
A pequena biblioteca traz outras referências da música mundial,
passando do início da história do rock and roll dos anos 1950
até as referências do punk europeu do final dos anos 1970
 
 
Boa parte dos pôsteres é autografada.
Sublinhe-se, são dedicados ao próprio Matthias Prill
 
 
Parte do acervo faz referência à indústria
cinematográfica de Hollywood
 
A musa Brigitte Bardot também figura entre a decoração
do bar. Vale reforçar que o pôster está assinado pela atriz
e dedicado ao proprietário do hotel
 
Mais estrelas da sétima arte
Outra referência ao cinema clássico: a máscara
do Monstro da Lagoa Negra, longa-metragem da década de 1950

O Riviera Bar tem um grande acervo de
bebidas nacionais e importadas
 

O café da manhã, que pode ser estendido até às 14h,
caso o hóspede solicite, também é servido no Riviera
 


Os pães, tanto salgados quanto doces, são produzidos
na cozinha do hotel
 


Algumas opções de industrializados…
 


…Frutas, dispostas no balcão do bar
 


Manteigas, geleias e doces de leite
 


Sucos e iogurtes à mesa, ou melhor, ao balcão
 


A mesa devidamente pronta para o café
 


Em se tratando de um hotel com toda a referência
à Hollywood dos anos 1960, a panqueca americana
não poderia faltar
 

 

 


Comumente à noite, o próprio Matthias Prill faz questão de
preparar, junto à equipe do hotel, alguns coquetéis…
 

…Para receber os hóspedes no seu estimado bar

 
Já que o Paraty Bungalows não dispõe de pratos quentes
para almoço e jantar, vale muito caminhar à beira da praia
do Jabaquara e almoçar ou jantar pelos restaurantes
do entorno, a exemplo do Balacobacco
 
 

Com pé na areia e decoração que faz jus à rusticidade, o
restaurante impressiona com as opções que serve.
Pasmem, ele não deixa nada a desejar
 

O foco da cozinha do Balacobacco é um cardápio com pratos
tradicionais e alguns mais sofisticados com um tempero
que vai do italiano ao brasileiro, numa simples barraca de
praia que, sublinhe-se, tem culinária de restaurante
 
 

A estética do local dá indícios da vida litorânea,
com uma simplicidade que agrada
 

Sim, eles têm um Risoto de camarão com banana da terra,
o que não se espera encontrar num quiosque à beira-mar

E uma Bruschetta al pomodoro no pão italiano, servida no
couvert, que é sem sombra de dúvidas a melhor que
este que vos escreve já experimentou

 

Entre outras opções, há o Espaguete ao molho pesto…
 

…A mesma versão do macarrão agora com frutos do mar…
 

… E a saborosa Posta de peixe grelhada
  
Após a experiência gastronômica e engordante vale caminhar
despretensiosamente pelas ruelas do centro histórico

Paraty
Foi em meados do século 16 que a história de Paraty começou a se desenhar. À época, as praias do município davam acesso à região do vale do Parnaíba, e o povo português que imperava até então. Em 1660, após rebeliões da população, o povoado foi emancipado politicamente, ganhando o nome de Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty – ainda hoje presente numa das igrejas da cidade.
Anos depois foi marcada pela descoberta do ouro em Minas Gerais, quando servia de rota para o transporte da mercadoria. Daí o conhecimento do Caminho do Ouro. O século 17 também fora marcado pelo cultivo de cana e produção de aguardente – o que é tradição no município ainda hoje. O ciclo do café também passou por lá e, ao longo do século 20, a cidade viveu períodos tortuosos por conta do fim desta economia.
O longo processo de estagnação vivido por Paraty nessa época manteve, paradoxalmente, o casario colonial, conservado no conjunto conhecido como centro histórico, tornando a cidade um dos destinos turísticos mais procurados do País.
As edificações encontradas hoje na região central são construções simples, a maior parte delas térreas, feitas de pau-a-pique e com pouca preocupação estética. As vergas (peça de pedra ou madeira instalada horizontalmente sobre a ombreira ou batente) são de linhas retas.
Os sobrados eram muitas vezes feitos sobre casas térreas já existentes, motivo pelo qual se percebe em alguns deles misturas de estilos, como por exemplo portas com vergas retas no piso térreo e, do contrário, janelas com vergas curvas no piso superior.
É este o maior patrimônio que o município conservou. Andar a pé pelas ruelas tortuosas de Paraty e deslumbrar-se com as edificações coloniais é tarefa primeira para qualquer visitante.
Isto, por si só, fez o turismo crescer na cidade. Os eventos que lá se realizam anualmente, como o Festival da Cachaça e a famosa Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, fazem valer a afirmação.
Outra coisa interessante em Paraty é a permanência de alguns membros da família imperial brasileira na cidade, como o príncipe Dom João Henrique de Orléans e Bragança, proprietário de um hotel na cidade.
Sim, existem também as muitas praias e o agradável cais, onde é possível ver personificada a vida dos pescadores do município. Vale a visita.

Construído na segunda metade do século 18, o bairro
fez história nos idos do Ciclo do Ouro. Hoje, foi
redescoberto por artistas e turistas de diversas
partes do Brasil e do mundo
 

 O ateliê de Aecio Sarti é um dos locais necessários para
o visitante de Paraty. Depois de muitos anos de uso e com os
remendos adquiridos pelas estradas do País, as lonas de
caminhão servem de base para o artista, nascido no município,
traçar figuras carregadas de um tom desesperado 
 
Note que as telas são repletas de escrituras
e personagens com feições lastimosas, o que dá
uma aflição muito particular às obras
 
Em toda a região central, o calçamento de pedra e
as vias retas são características primeiras


Fundado em 1754, o prédio que hoje abriga a Casa de Cultura
da cidade, conhecido como sobrado da rua Dona Geralda, é
considerado pela Unesco um dos mais representativos do século 18. Especula-se que ele tenha sido um armazém
 no passado
 

Centro das atividades culturais e religiosas de Paraty, a
igreja da Matriz de Nossa Senhora dos Remédios toma os olhos
de qualquer um. As torres, de tamanho desproporcional ao
restante do prédio, evidenciam que a obra não foi finalizada
como previsto. Necessário mencionar que a construção
ficou embargada de 1787 a 1873
 
Aos partidários de cachaça, opções não faltam, sendo
boa parte delas produzida na própria região
 
  
Lojas com iguarias típicas, sempre acompanhadas
do charme bucólico da região, não faltam

Vai o dia, e o sereno dá novo charme às vielas,
que ganham clarão artificial das casas

 
 
Dá para perder umas horinhas simplesmente caminhando
e fitando os traços particulares de um dos mais encantadores
conjuntos arquitetônicos coloniais do País

Acreditem: esta foi a única construção que não seguia
à estética comum à de outras áreas da cidade

Mais antiga edificação religiosa do município, a Igreja de
Santa Rita foi construída em 1722 e custeada pela então
elite da época. A fachada é típica de prédios jesuítas,
com janelas no coro e frontão curvilíneo
 
 
 

O cais também é outro ponto pra lá de interessante em Paraty
 

Dá para deixar o dia correr vendo a comunidade caiçara
e os muitos turistas que por ali figuram – grande parte
deles de outros países – trabalhando e se divertindo
com a vida marítima
 

Barcos de pescadores a lanchas de milionários aportam ali 
 

E, claro, as histórias de pescadores se proliferam junto
às muitas cores que desenham as linhas das escunas
 
Já num dos barcos, as imagens do centro
histórico vão se fazendo em miniatura
 
 
 Mais do que as embarcações, a tonalidade do mar –
com nuances entre azul e verde – faz-se mais atrativa

 
 
 
Não são poucas as ilhotas particulares que servem de
playground para abastados de todas as estirpes

 

 

Note que em algumas delas até um pseudocastelo
serve de quintal a algum milionário não revelado
 
 
Há também pequenos casebres que ficam à beira das praias
de areia fofa e sem nenhuma onda, ótimas para mergulho
  
Sim, a paisagem vale para uma despedida já com tom saudoso

Serviço
Paraty Bungalows Hotel & Bar
Rua Don Pedro I – Praia do Jabaquara, Paraty, Rio de Janeiro
24 3371-2638
* O jornalista do Hôtelier News viajou a Paraty a convite do hotel.