Hortências por todo lado: bem-vindo à Barra do Bié
(fotos: Chris Kokubo)

O relógio digital do carro marcava 00h15 quando resolvi que era hora de desligar o rádio e escutar os sons da natureza ao redor. Havia deixado São Paulo por volta das 20h30 em direção a Cunha, a 231 Km de distância da capital paulista. O trânsito carregado das Marginais Pinheiros e Tietê tinham, felizmente, ficado para trás. Ao som de cigarras e grilos e sob o leve chuvisco que caía do céu, estávamos prestes a chegar na pousada, quando o carro resolveu atolar na lama.
O breu era total, não fossem os farois do automóvel acesos. Tentando vencer o cansaço e encontrar calma, a passageira vai para o lugar da motorista, que sai do carro, enfrenta o barro e começa a empurrar. Os pneus patinam um pouco, mas logo reagem e se libertam do buraco. Chegamos exautas à Pousada Barra do Bié, mas felizes com a sensação de que o final de semana prometia. E realmente cumpriu: depois de dois dias no aconchego da pousada, voltamos renovadas para enfrentar a correria da cidade grande.
Por Chris Kokubo*
A sede que abriga recepção e restaurante dava lugar
a uma oficina de marcenaria na antiga propriedade
 
 
A busca por um terreno ideal durou cinco meses. Ana Rosa e
Ciro, com os labradores Gurê e Bié e o São Bernardo
Dino, estão felizes com a vida longe do agito paulista
São 2,5 alqueires de área verde

A Barra do Bié foi batizada em homenagem ao bairro de Cunha onde está localizada. Vindo de São Paulo, depois de passar a entrada da cidade, o turista continua por mais alguns quilômetros e logo vira à direita na estrada de terra que vai dar no meio de hospedagem. São 6 Km de terra, facilmente vencidos por qualquer carro de passeio. A distância do asfalto proporciona ainda mais tranquilidade. Aqui, seu celular não vai pegar.
Entre a Serra da Bocaina e a Serra do Mar, a pousada é um lugar para descanso. “Queríamos um lugar na natureza”, afirma Ana Rosa, proprietária do empreendimento. Ela e o marido, Ciro Calfat, há anos alimentavam o sonho de melhorar a qualidade de vida recebendo pessoas em um lugar especial.
Repleta de araucárias, castanheiras e carvalhos

 
 
A trilha dentro da propriedade passa
por inúmeras árvores frutíferas
‘Aqui é um lugar para descanso’,
afirma Ana Rosa
“Quando nossa filha mais nova entrou no colegial, começamos a pesquisar e a colocar o sonho em prática. Encomendamos um estudo para o Senac-SP, e fui estudar Hotelaria e o Ciro começou a se preparar para deixar seu cargo de diretor financeiro de uma empresa em São Paulo”, explica a anfitriã. Assim que a caçula ingressou na faculdade, eles se mudaram para Cunha. O sítio exigiu grandes reformas para se transformar na confortável pousada que é hoje.
“Inauguramos em maio de 2005, com quatro chalés. O projeto inicial previa 20 deles, mas hoje temos seis e não passaremos de oito. O nosso objetivo é a gente mesmo receber e atender os hóspedes. A Ana cuida de A&B e eu fico no administrativo. Aqui, conseguimos
atingir nosso objetivo principal, que era realizar uma adaptação na nossa vida e ter mais qualidade. Não dava mais para enfrentar três, quatro horas de trânsito por dia para ir ao trabalho”, enfatiza Ciro.
Além do casal, são seis colaboradores que cuidam dos serviços

 
‘Cunha é muito bonita e ainda pouco conhecida’, diz Ciro
O casal diz que a grande característica da pousada é fazer com que o cliente sinta-se em casa. “Não trabalhamos com público muito grande, recebemos os hóspedes como se recebêssemos amigos. Os objetos de decoração eram nossos, a sala de TV é como a sala de casa. Estamos preocupados com qualidade acima de tudo”, destaca Ciro.
Na sala de estar, mais de 400 títulos de DVDs, muitos livros e CDs
 
 
Muito da decoração já fazia parte da casa de Ana e Ciro,
que agora compartilham o bom gosto com os hóspedes

A taxa de ocupação média anual está na casa dos 30%. São três categorias de chalés, cujas tarifas variam de R$ 396 a R$ 665 dependendo da época do ano, sempre para duas pessoas e com café da manhã, que – detalhe – é servido até às 14h.
Com cardápio enxuto, mas caprichado, o restaurante funciona com reserva tanto para os hóspedes quanto para passantes no almoço e jantar. Destaque para o festival de blackberries, ou amoras, cultivados na horta da pousada, que acontece entre outubro e dezembro, e o de pinhão abundante na região, que vai de abril a junho, durante o inverno.
 
Com tantas araucárias, o pinhão é fruto abundante nos
meses de inverno. Renda extra para os moradores locais,
delícias gastronômicas nos restaurantes da região
O restaurante tem vista para grandes árvores.
Ambiente muito verde e tranquilo

 
 
Frutas, frios, creme de milho, pão e requeijão
caseiros servidos com esmero no café da manhã

Telhas de vidro aumentam
a iluminação natural
 
 
Jantar e almoço, somente sob reserva, servidos das 15h às
17h30 e das 20h às 21h30. O festival de blackberries inclui
molhos para carne, sobremesas e geleias apetitosas
Uma amora remanescente no final da estação

Todos os chalés possuem lareira, cama box king size, roupas de cama e banho de algodão puro, poltronas para leitura, mini-bar, aquecimento a gás no banheiro, secador de cabelos e amenities da Natura. Quatro dos chalés oferecem TV LCD 32″ e cinco deles, banheira de hidromassagem.
São seis chalés, cada um com uma decoração diferente
Espreguiçadeiras, poltrona para leitura e
cama confortável em todas as UHs
Nas noites frias, a lareira garante aquecimento extra
 
No chalé 4, com heras na fachada, a banheira de hidromassagem
é para uma pessoa. Todos os amenities são da Natura
‘Pedimos que se algo não estiver do seu
agrado que nos comunique para que possamos
ter a chance de atender aos seus desejos’
O chalé número 1 abrigava uma garagem e passou por
grande reforma para oferecer ambiente acolhedor

 
Banheira com hidro para duas pessoas,
duas cubas e dois chuveiros no banheiro
A DVDteca da pousada, aliás, oferece mais de 350 filmes. A área de lazer externa conta com piscina aquecida, bar, sauna seca à lenha, sala de massagem, academia e ganchos para redes, além dos 2,5 alqueires de área verde. Em dias de céu limpo, a trilha até o alto da Pedra da Macela termina com vista deslumbrante que pode chegar até a baía de Angra dos Reis.
Piscina aquecida rodeada de natureza
 
Não faltam facilidades: forno para pizza,
academia e sala de massagem
O bar da piscina serve lanches leves e refeições
Nesta área, o rio da pousada forma uma pequena praia particular
Dá vontade de passar a tarde toda aqui,
contemplando passivamente
Ciro e Ana Rosa nos mostram tudo. Agapantos
dividem alamedas com as hortências

Um refúgio no meio da natureza
A casa sede sempre recebe a visita de pássaros. Em todos os
chalés há uma relação dos que já foram observados por aqui
Nas redondezas, trilhas, cachoeiras
e parques é o que não falta
Cerâmica
Em Cunha, o hóspede tem a oportunidade de conhecer mais de 20 ateliers de cerâmica japonesa, cada um com sua peculiaridade. Foi em meados da década de 70 que os primeiros ceramistas começaram a chegar, atraídos pelo solo argiloso propício para suas peças.
Depois de moldadas, a cerâmica passa por diferentes etapas no forno, que pode ser a gás, elétrico ou à lenha. Haku e Noborigama dão nome a duas técnicas diferentes de queima, que podem atingir até 1400° C e durar mais de 24 horas.
‘Noborigama’ em japonês quer dizer ‘forno na rampa’, explica Gilberto Jardineiro, um dos primeiros ceramistas da região
 
Ele e Kimiko se conheceram em Tóquio, fazendo cerâmica.
Já realizaram em Cunha 119 queimas, em 25 anos no
seu atelier Suenaga & Jardineiro
 
As aberturas de fornadas atraem turistas o ano inteiro. A primeira de 2010 acontece dia 13 de fevereiro, de duas em duas horas
das 10h às 16h. É difícil escolher o que não comprar
Durante a abertura dos fornos, atração aberta a visitantes, os ceramistas explicam sua técnica e dão uma aula de química, biologia, geologia e artes plásticas. As peças são retiradas ainda quentes do forno, uma mais bonita que a outra. Em outro ateliê, os vasos saem incandescentes do forno e, depois de passarem pelo banho de água fria, estão prontas para o consumidor final.
No Anand Atelier, Zahiro utiliza e explica a técnica do Raku

As paredes do forno são levantadas e
os vasos, incandescentes, passarão
ainda por dois processos…
 
São colocados em um buraco repleto de serragem de madeira,
que com o calor pegam fogo. Depois, retira-se a camada
queimada com água fria e voilà

É possível visitar mais de 20 ateliers
e galerias de cerâmicas em Cunha
“A cerâmica indiscutivelmente é um atrativo. As pousadas que estão mais próximas à cidade com certeza devem muito da sua ocupação aos turistas que vêm em busca dessas peças. Nós, por estarmos mais afastados temos hóspedes que estão, no geral, mais interessados em descansar em contato com a natureza. Nossos clientes são principalmente de São Paulo, que representa 40% do nosso mercado, e do Rio, com 20%. Estrangeiros recebemos poucos, menos ainda depois que a estrada entre Cunha e Paraty teve seu acesso restrito”, explica Ciro.
Ana completa: “Em janeiro e fevereiro, como chove muito, recebemos muitos trilheiros com jipes em busca de aventura. No inverno faz muito frio e nosso público é variado. O clima é bem parecido com o de Campos do Jordão, mas bem mais tranquilo. No verão faz calor, chega a 31°C durante o dia, mas à noite cai para 18°C. A vantagem é que aqui não temos pernilongo nem borrachudo”, celebra.
 
 
A Barra do Bié promove a cultura local com objetos e
utensílios de cerâmica em todo o hotel, do restaurante
aos chalé e às pias do banheiro

A pousada conta ainda com pista para pouso de helicópteros, biblioteca, CDteca, horta orgânica e internet sem fio gratuita em toda sua área social. Circuito Elegante, Programa Ambiental A Última Arca de Noé e Recantos e Requintes são três parceiros da Barra do Bié, que trabalha intensamente para promover não somente as belezas de sua propriedade, mas também da cidade de Cunha.
As chuvas agora do início do ano deixaram a pousada isolada por um dia, devido à queda de barreiras na estrada. No entanto, os acessos já estão liberados. Boa oportunidade para conhecer a Barra do Bié e relaxar, mesmo que seja com lama de leve no caminho.
Dino, o ‘pequeno’ xodó da pousada

Serviço
Pousada Barra do Bié
SP 171, Km 58,8 + 5,8 Km de terra
Para correspondências: Caixa Postal 46
Cunha, SP
Cep: 12530-970
Tel.: 12 3111 1477
* A equipe do Hôtelier News hospedou-se na Pousada Barra do Bié a convite do hotel.