Como classificar os hotéis brasileiros? O Ministério
do Turismo propõe um novo modelo
(imagem: meuespaco.files.wordpress.com)
 
Cinco estrelas? Seis? Duas? Upscale? Middleclass? Resort? Pousada? Afinal, como definir os meios de hospedagem existentes
no Brasil? A quantidade de estabelecimentos e as grandes diferenças regionais são fatores que, até hoje, dificultam a vida de
quem tenta classificar e comparar os meios de hospedagem.
 
Com a expansão da hotelaria brasileira, o crescimento do turismo de lazer e de negócios no país, assim como a proximidade dos grandes eventos internacionais que receberemos, começa-se a
discutir sobre uma nova forma de classificação para os hotéis.
 
Entidades representativas e os próprios hoteleiros têm opiniões variadas sobre como deverão ser essas novas matrizes, ou qual
sistema funcionaria melhor como forma de indicar a qualidade de um estabelecimento. Mais importante do que uma conclusão rápida e definitiva para este assunto é que ele seja discutido por todos os envolvidos, desde os grandes hotéis e as redes internacionais até as menores pousadas litorâneas espalhadas por todo o país, às quais talvez não cheguem todas as informações sobre o tema.
 
O Hôtelier News colheu diferentes opiniões de quem está acompanhando as reuniões e os debates, buscando entender o que ainda pode melhorar e o que deve ser revisto neste processo de padronização de um setor que reflete a diversidade brasileira.
 
Por Juliana Bellegard
 
Desde o início do ano, vem se falando muito sobre a nova classificação hoteleira, que irá padronizar a forma de se definir a
categoria de um meio de hospedagem. Em um primeiro momento, o Ministério do Turismo está se reunindo com representantes de
todo o setor da hotelaria para debater quais serão os critérios para definição dos empreendimentos.
Eles serão divididos em oito categorias: Hotel Urbano, Resort, Hotel Fazenda, Cama & Café, Hotel Histórico, Pousada, Flat e Hotel de Floresta. Os critérios que farão parte da matriz de cada um destes itens estão sendo discutidos em reuniões com as partes envolvidas. Os usuários também poderão opinar sobre o que foi decidido.
 
As estrelas voltam ao cenário da hotelaria
(imagem: ubolano.blogspot.com)
 
A cada encontro é definida uma matriz, que fica disponível no site do MTur por 20 dias após sua publicação. Já é possível acessar os PDFs com as definições para Hotel Urbano, resultado da reunião que aconteceu nos dias 25 e 26 de fevereiro, em Porto Alegre. Até o dia 8 de abril, o MTur receberá constribuições sobre esta matriz, que devem ser enviadas por e-mail ou via formulário no próprio site do ministério.
 
A necessidade de rever o sistema de classificação de nossos meios de hospedagem, para torná-los mais eficientes surge por conta do bom momento por qual o setor de turismo e, mais especificamente, a hotelaria brasileira vem passando. “As operadoras estrangeiras pedem uma padronização para a venda de pacotes. Isso será especialmente necessário por ocasião dos próximos eventos que receberemos, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016”, explica Ricardo Moesch, diretor do Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico do Ministério do Turismo
(MTur).

  

Estes dois grandes eventos esportivos são grandes motivadores para que os hotéis no país tenham uma padrão claro de distinção entre os meios de hospedagem, com referenciais que possam ser identificados também por estrangeiros. “Utilizamos o sistema de estrelas porque é o padrão internacional”, diz Moesch. Durante os processos de candidatura à Copa e às Olimpíadas, ficou claro que seria preciso fazer uma adequação em nossa hotelaria. 
 
Como vai funcionar
Uma vez definidas e consolidadas todas as matrizes para a nova classificação, o que deve acontecer no mês de maio, será o
momento de colocar o projeto em prática. Ricardo Moesch explica que a classificação será voluntária, em um modelo
autodeclaratório. Os hotéis, que já devem estar cadastrados no Ministério do Turismo, irão optar por uma das oito categorias de meios de hospedagem.
 
Ricardo Moesch, do MTur, explica que
a nova classificação será voluntária
(foto: divulgação)
 
Acontece, então, uma vista técnica e uma auditoria para verificar se o empreendimento se encaixa em todos os critérios estabelecidos pela matriz declarada. O MTur e o Inmetro irão emitir um selo para o hotel, mostrando qual sua categoria e quantas estrelas ele recebeu. Esta primeira classificação terá a validade de três anos, e poderá ser renovada após este prazo.
 
E quanto aos custos? Um processo que envolve auditorias, fiscalizações e um cuidadoso processo de análise com certeza irá
gerar aos participantes voluntários algum tipo de despesa ou taxa a ser paga pela manutenção das estrelas. Embora esta seja uma questão ainda a ser definida pelo MTur, que só deverá apresentar o modelo final da nova classificação durante o Salão do Turismo, é uma questão que pode ser um ponto de conflito para alguns hotéis.
 
Neste sentido, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP), que está acompanhando as reuniões do MTur, defende que não deva ser cobrada nenhuma taxa, pelo menos para esta primeira classificação. O objetivo é que este processo seja o menos oneroso possível para os empreendimentos, até por uma questão de confiança. Para a entidade, a isenção de um primeiro pagamento fará com que todo o processo tenha mais credibilidade, sem correr o risco de ser malvisto pelos hoteleiros.
 
Diferentes pontos de vista
 
Bruno Omori, da ABIH-SP, está
acompanhando de perto as
negociações das novas matrizes
(foto: arquivo HN)
 
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP) defende a nova classificação, pois a anterior estava
inoperante. “São Paulo não tinha nenhum hotel incluso dentro da classificação antiga”, explica Bruno Omori, diretor executivo da ABIH-SP. “O mercado internacional tinha dificuldade em avaliar que tipo de estabelecimento estava sendo contratado”, diz.
 
A entidade hoteleira considerou a possibilidade de criar sua própria classificação, válida no Estado de São Paulo, mas decidiu apoiar a iniciativa do Ministério do Turismo, participando ativamente das reuniões de definição das matrizes e mantendo contato constante com o governo. A ABIH-SP também se encarregou de passar para seus associados o que está sendo feito e discutido, realizando uma série de reuniões nas quais esclarece as dúvidas dos hoteleiros.
 
“Vamos fazer parte do comitê que irá analisar com critérios cuidadosos o que foi indicado pelos estabelecimentos na autodeclaração. É importante a participação de quem trabalha diretamente com hotelaria, escutar quem está na ponta”, comenta Omori. O executivo ainda frisa que, apesar das falhas nas outras tentativas de classificação, esta irá funcionar. “Estamos pensando em conjunto, o MTur, a ABIH-SP e outros órgãos importantes para este tipo de iniciativa, como o Inmetro e a Vigilância Sanitária”, conclui.
 
Em contraponto, a ABIH-RJ tem um posicionamento contrário a este novo padrão. “A nova classificação não é voluntária a partir do momento que é necessário estar adaptado a ela para a concessão de financiamentos pelo BNDES e para a participação em licitações”, explica Alfredo Lopes, presidente da entidade fluminense. Ele ressalta que o governo nunca conseguiu estabelecer um critério realmente eficiente para distinguir os empreendimentos.
 
A questão do consumidor

 
“O consumidor é o melhor classificador”,
diz Alfredo Lopes, da ABIH-RJ
(foto: arquivo HN) 
 
 
Um dos pontos mais importantes ressaltados por todos que opinam sobre a definição – ou não – de matrizes para os meios de hospedagem brasileiros é o consumidor. Não somente no âmbito
internacional, pensando nos eventos futuros, mas principalmente para o mercado nacional. “A nova classificação é salutar. No Brasil, há necessidade disso para facilitar a escolha do consumidor”, diz José Eduardo Barbosa, presidente da Braztoa.
 
A hotelaria de um modo geral também vê uma necessidade da existência de uma classificação mais clara e confiável. Annie Morrissey, vice-presidente de Marketing e Vendas da Atlantica Hotels International, explica que a rede tem uma padronização de hospedagem. “Na Atlantica, quem determina a classificação dos empreendimentos são as bandeiras, já reconhecidas pelos clientes”, explica. Para ela, a iniciativa do MTur é válida, principalmente porque existem muitos hotéis independentes e sem bandeira. “A nova classificação é um norte para os clientes na hora de fazer sua escolha”, conclui a executiva. 
 
A ABIH-RJ aponta os hóspedes como os principais julgadores dos serviços e instalações oferecidos pelos empreendimentos. “O melhor classificador é o cliente. É ele quem avalia mais corretamente os serviços que está consumindo”, diz o presidente da entidade. Outro ponto a ser pensado é a diversidade do Brasil. “Um hotel urbano no Rio de Janeiro, por exemplo, não é a mesma coisa que um hotel urbano em São Paulo ou em Belo Horizonte”, completa Lopes.
  
Ele compara a classificação de hotéis a de outros estabelecimentos, comentando que não existe, por exemplo, uma classificação para os restaurantes. Os clientes escolhem determinados locais em detrimento a outros não por suas estrelas, mas pela qualidade de seu atendimento, a comida que é servida e uma série de outros critérios estabelecidos pelo próprio consumidor.
 
Turismo de negócios
“Estou acompanhando com muito interesse as discussões sobre esta nova classificação, pois acredito que ela seja necessária para o mercado corporativo”, comenta Gustavo Syllos, diretor de Marketing e Vendas da Slaviero Hotéis. Ele coloca um ponto de vista pouco comentado: o lado do turismo de negócios. Ao participar de um processo de bidding, principalmente internacional, as redes correm o risco de estar se comparando e competindo com hotéis muito diferentes de seu perfil.
 
A nova classificação também pode
beneficiar os turistas de negócios

(imagem: elianebarbosa.files.wordpress.com)

 
O diretor acredita que uma classificação padrão para os meios de hospedagem é uma forma de os empreendimentos se posicionarem corretamente no mercado, e não acabar sendo vistos apenas como commodities. “Hoje há uma certa inquietude quando os hotéis participam destes processos”, explica Syllos. A empresa contratante avalia os participantes com base nos documentos que recebe, muitas vezes sem conhecê-los. Havendo um padrão, e este sendo reconhecido internacionalmente, as negociações ficariam mais fáceis e até transparentes.
 
O executivo diz, no entanto, que tem uma posição ponderada quanto à aplicação desta nova classificação para toda a hotelaria. “Talvez o ideal fosse definir uma classificação para o turismo corporativo e outro para o lazer”, sugere. Isto porque ele acredita que os próprios clientes de lazer possam fazer uma seleção dos estabelecimentos que frequentam. As matrizes sugeridas pelo MTur ainda não têm, para Syllos, critérios claros para que se faça essa classificação.
As próximas reuniões
A nova classificação hoteleira ainda está no início e haverá muita discussão antes de que se estabeleça um modelo final para as oito categorias de empreendimentos. As próximas reuniões para formular as matrizes já estão agendadas. Hoje (30) e amanhã (31) acontece em Cuiabá (MT) a reunião sobre Hotel Fazenda; dias 8 e 9/4, no Rio de Janeiro (RJ) de Cama & Café; Hotel Histórico, dias 15 e 16/4 em Ouro Preto (MG); dias 26 e 27/4, em Tibau do Sul (RN) sobre Pousada; Flat, nos dias 3 e 4/5, em Vitória (ES) e Hotel de Selva, dias 6 e 7/5, em Manaus (AM).