Raphael Jafet Júnior
(fotos: Juliana Albino) 
 
É São Paulo… climatericamente uma cidade europeia apenas com os inconvenientes das mais bruscas mudanças de temperatura e das teimosias de um renitente nevoeiro acacimbado, a que se chama aqui a garoa, o que pode levar mui legitimamente um cronista amigo das novidades a chamar-lhe a cidade da garoa”. (Souza Pinto -1905).
 
Esta cidade que hoje se projeta como uma das mais importantes do País por sua economia, gastronomia e cultura, foi palco do nascimento de estabelecimentos hoteleiros, que atualmente figuram como dos mais importantes da Nação.
 
No século XIX, São Paulo passava por transformações políticas, sociais e urbanísticas, e a região central concentrava todos os serviços comerciais e financeiros no chamado ‘triângulo’ (composto pelas ruas Direita, XV de Novembro e São Bento). Nesse contexto,  no centro, por concentrar símbolos de riqueza e civilização, desenvolviam-se os hotéis que na época serviam apenas para abrigar forasteiros. Em 1855, apareceram os primeiros empreendimentos luxuosos da cidade, que eram comandados em sua maioria por estrangeiros, principalmente italianos e portugueses. 
 
Seguia-se então o novo Centro de São Paulo, uma metrópole que no meio de diferentes paisagens, já era apelidada de ‘pequena Paris’. Já nos anos 50 os meios de hospedagem começam a se projetar no centro da cidade, e um dos destaques da época é o hotel San Raphael, situado na região do Largo do Arouche. 
 
O estabelecimento da família Jafet, uma das pioneiras da hotelaria de luxo do centro, apresentou inovações no atendimento e serviço com os moldes de uma hotelaria familiar. Segundo Raphael Jafet Júnior, atual diretor do empreendimento, a família apostou no segmento e na época projetou um hotel diferenciado dos demais existentes. “Há 60 anos atrás os meus antepassados não imaginavam que o seu negócio daria tão certo. Atualmente temos três hotéis, onde um deles se projeta no interior paulista, e que se configura como uma referência no segmento de eventos do Estado”, declara.
 
Jafet Júnior, formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em sua vida estudantil diz que sempre apreendeu a gostar de pessoas. “Não imaginava que largaria a engenharia. No início dos anos 50, eu vim fazer um serviço para ajudar a família no processo de reforma do prédio, e fui picado pelo bichinho da hotelaria. Sempre gostei de lidar com pessoas e a hotelaria faz muito bem isso todos os dias”, declara.
 
“Naquela época o nosso hotel se projetava no cenário cultural da cidade primeiro pela localização, atendimento, o que fez que dos anos 50 em seguida, clientes tivessem como referência o nosso meio de hospedagem. A nossa boate já foi palco de lançamento de artistas renomados como Hebe Camargo”, diz. 
 
Conheça um pouco mais sobre Jafet, sua história, realizações e projetos futuros. Na ocasião também conversamos com Adriano Araújo, gerente geral de Vendas, que nos relatou sobre os investimentos da rede. Acompanhe as entrevistas abaixo.  
 
Por Juliana Albino 
 
 
 
Hôtelier News: Qual o paralelo entre a hotelaria antiga com a atual?  
Raphael Jafet Júnior: Temos muito que apreender com a hotelaria antiga e com os ensinamentos deixados com o bem-receber. Atualmente muitos hotéis tem o conceito e serviço estipulado por uma rede, mas na minha opinião falta o calor humano. A hotelaria moderna tem a informatização ao seu favor, e o cliente muitas vezes acaba sendo mais um número para os negócios.
 
Quando iniciei no segmento sempre busquei passar para os meus colaboradores a terem um contato direto com os clientes fazendo com amor a sua função. No início do nosso hotel muitos de nossos hóspedes chegavam e faziam o pagamento da sua estada somente no check out, o que atualmente não seria uma prática válida para as grandes redes. Vale ressaltar, que não estou criticando os métodos atuais, mas salientando que é essencial o hóspede não ser somente um número, e sim parte integrante do crescimento e aprimoramento do setor como um todo.  
 
 
HN: Conte um pouco sobre a história da família Jafet?
Jafet Júnior: O primeiro imigrante Jafet que chegou no Brasil foi o meu tio avô, em meados de 1886, se instalando na região do Ipiranga. Ele era professor da Universidade Americana de Beirute, e se tornou líder da comunidade árabe no Brasil.
 
Outros de meus antepassados sabendo que o Brasil era uma terra promissora, também vieram tentar a sorte no País. O tempo se passou e a família acabou tendo uma importante participação no desenvolvimento econômico da cidade. O meu avô fundou em 1806 uma indústria têxtil, e meu tio avô – Ricardo Nami Jafet, que na ocasião era presidente do Banco do Brasil, recebeu uma homenagem dos governantes da época veiculando o seu nome a uma das avenidas mais importantes de São Paulo.
  
HN: Este ano o hotel comemora 60 anos, e haverá alguma comemoração especial? Nesse período histórico existiu algum fato inusitado?
Jafet Júnior: Não temos nenhuma comemoração especial, mas já comemoro o sonho de família que se tornou realidade. Acredito que esta seja a concepção adequada do que se tornaria o meio de hospedagem, em uma visão empreendedora de sucesso.  
 
Nesta trajetória recebemos governadores, ministros, o cantor Billy Paul, Mohammed Ali, Emerson Fittipaldi, a seleção de basquete feminino da Rússia, que tinha a maior jogadora do mundo – Seminova Nazonev, com mais de dois metros de altura, na época tivemos que fazer uma cama especial para a jogadora.
 
Um fato engraçado aconteceu em meados dos anos 60 a 70, onde um dia a governanta do hotel me procurou mencionando que um dos hóspedes estava com uma televisão dentro da banheira. Ele afirmava que nunca tinha visto o seu reflexo tão lindo em uma tela. No final da estada o cliente pediu que a camareira embrulhasse o aparelho num papel de presente. Ao sair o gerente orientou o rapaz que ele não poderia levar a TV, pois fazia parte dos artefatos do hotel e não estava incluso na diária.
 
 Raphael Jafet e Mohammed Ali
(foto: arquivo pessoal)

 

 Time de basquete da Rússia, com a
jogadora mais alta do mundo na época

(foto: arquivo pessoal)
 
HN: Com a evolução do centro de São Paulo, muitas redes hoteleiras têm olhado para a região como uma nova oportunidade de negócios. Como lidar com a concorrência existente ao redor do San Raphael?
Jafet Júnior: Há público para todos os empreendimentos, cada um com a sua particularidade. Hoje temos dois hotéis no Largo do Arouche, no mesmo quarteirão da cidade, e a localização tem sido um dos fatores para atrair o público corporativo em dias semanais e o familiar, aos finais de semana. Dentre os serviços oferecidos se destacam as nossas salas de eventos e UHs com uma dimensão maior que os demais hotéis da região.
 
HN: Existe um diálogo entre os hoteleiros do centro?
Jafet Júnior: Trocamos informações diárias de ocupação e diária média com todos os hotéis da região na grade de concorrência. Nos preocupamos sim com empreendimentos de grandes redes, porém apostamos nos serviços prestados pelos nossos hotéis para garantir nossa ocupação, enquanto os empreendimentos econômicos que estão presentes em nossa região somente trabalham preços.

HN: Na sua opinião o centro precisa de uma revitalização?
Jafet Júnior: Como houve uma saturação do centro, o segmento financeiro da cidade migrou para Avenida Paulista e Faria Lima. Não acredito que o centro é perigoso ou que tem afastado os passantes, assim como hóspedes.
 
O governo está tomando medidas preventivas para revitalizar a região, a exemplo a antiga rodoviária que daqui alguns anos se tornará uma escola de música e dança; na região ainda se encontram todos os bancos; secretarias do governo e a prefeitura  municipal. Muitos prédios históricos estão sendo reformulados, se você observar não existe nenhuma fiação suspensa no centro, e a valorização do local tem sido uma escala quase que geométrica revivendo a época passada.
 
 
 
HN: Quais os planos de expansão da rede nos próximos anos? Novas aquisições em cidades diferentes de São Paulo?
Jafet Júnior: Gostaria de ter um hotel em regiões como Brasília, Rio de Janeiro e alguma cidade do interior paulista. Ainda estamos em estudo para obter um empreendimento em regiões com potencial de crescimento, e acredito que nessas cidades podemos encontrar fontes rentáveis para os negócios.
 
HN: Como é a avaliação que o senhor faz sobre as ações do Ministério do Turismo e Embratur no exterior? Na sua opinião a Copa do Mundo e Olimpíadas serão alavancas chaves para a projeção do Brasil?
Jafet Júnior: Os dois eventos nos proporcionarão uma excelente exposição do país no exterior, pois vejo uma possibilidade e uma tendência natural da hotelaria paulista comemorar a alta na taxa de ocupação na proximidade dos eventos. Para nós a meta é fazer com que os bons índices perdurem, inclusive a Federação Paulista de Futebol já entrou em contato conosco para saber a quantidade de apartamentos que teremos disponíveis para os eventos, e dessa forma precisamos pensar numa logística global.
 
Quanto à atuação do poder público para inserir o País no exterior tem sido válida, o que aponto é que precisa haver uma união maior com a iniciativa privada, pois ainda falta muita coisa. Eu até sugiro que, se possível, em algumas embaixadas poderia haver um representante do MTur, talvez assim pudéssemos nos comparar com Barcelona que até hoje colhe frutos dos mega eventos. 
 
Adriano Araújo, gerente geral de Vendas do
empreendimento, fala sobre o crescimento da rede
HN: Qual a expectativa de crescimento (em ocupação, receita) dos hotéis San Raphael para este ano? Você pode fazer um panorama em relação ao ano passado, comparando com este primeiro semestre?
Adriano Araújo: Trabalhamos com uma expectativa no planejamento estratégico de 7% de crescimento no segundo semestre de 2010. Até o final do ano, as metas que pretendemos alcançar é uma ocupação média em torno de 60% nos hotéis de São Paulo e uma diária média de R$ 155.
 
HN: O que se deve os bons índices nos hotéis de São Paulo e Itu?
Araújo: Possuimos na Rede San Raphael uma equipe comercial segmentada, isso torna cada profissional especialista na área atendida. Focamos assim todos os trabalhos e ações a serem realizadas, com isso o resultado esperado é alcançado com mais rapidez.
HN: Sabemos que Itu está passando por uma remodelação, e queremos saber quais as modificações que estão sendo feitas no hotel. Existe projeto para os hotéis de São Paulo?
Araújo: O retrofit que está sendo realizado no San Raphael Country já está em fase final, as principais mudanças foram nos apartamentos e salas de eventos. Todos os nossos apartamentos possuem TV LCD 32″, internet sem fio no hotel inteiro, móveis novos, troca de carpetes convencionais por carpete de madeira, troca dos carpetes das salas de eventos. Decoração nova nas áreas comuns. Já os hotéis de São Paulo também estão passando por retrofit completo, com reformas dos apartamentos.
 
HN: A alavanca de todo hotel seja independente ou de rede é a área de vendas. Você adota um metódo específico para aumentar o número de vendas para os empreendimentos. Existe uma receita prática?
Araújo: Existem muitos métodos de trabalho e a cada hotel de rede ou independente, temos que antes de qualquer ação, estudar o mercado ao qual ele pertence, mas na minha opinião uma diferença que sempre dá resultado além do relacionamento é a rapidez que você tem para responder questionamentos do cliente ou mesmo na negociação de uma tarifa acordo, grupo ou evento.
 
HN: Hoje a equipe de vendas é composta por quantos colaboradores? Há uma diferenciação para captação de eventos?
Araújo: Possuímos nove gerentes de Contas na equipe, mas como dito anteriormente todos atendem segmentos específicos o que transforma alguns da equipe especialista em captação de eventos para São Paulo e principalmente em Itu.
 
HN: Para finalizar, como funciona o treinamento de colaboradores dos hotéis? 

Araújo: O hotel trabalha muito a área de treinamento pelo nosso departamento de recursos humanos. Direcionamos cada área para reciclagens constantes fazendo com que cada colaborador entenda que a prática de servir deve existir sempre, independente do hóspede ou passante, todos devem ser atendidos com excelência.   
    
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