Royal Tulip Rio de Janeiro
Royal Tulip Rio de Janeiro, situado na praia de São Conrado
(foto: divulgação)

Em meados de 2011, o BHG (Brazil Hospitality Group) chamou a atenção do mercado hoteleiro brasileiro com uma estratégia de expansão considerada por muitos agressiva. Parte deste juízo deu-se por conta das compras de empreendimentos de outros grandes grupos realizadas pela empresa, bens que pareciam estar tão consolidados que uma negociação estaria quase fora de questão. Mas não era bem assim. O InterContinental São Conrado, do IHG (InterContinental Hotels Group) foi um desses hotéis cuja venda para o BHG dava indícios da ambição de crescimento por parte da rede hoteleira brasileira, no julgamento de alguns players do mercado.

Já à frente de três outros meios de hospedagem no Rio de Janeiro – Golden Tulip Continental, Golden Tulip Regente e Tulip Inn Copacabana -, o grupo investiu em sua primeira unidade cinco estrelas na cidade, segunda no Brasil. Uma vez comprado, o InterContinental São Conrado foi rebatizado de Royal Tulip Rio de Janeiro. Em tempo: o outro hotel com bandeira Royal Tulip é a unidade Alvorada, em Brasília, empreendimento que antes funcionava sob a marca Blue Tree.

O mercado hoteleiro carioca é um dos mais discutidos pelo setor, tanto pelas dificuldades de desenvolvimento de novos meios de hospedagem ali quanto por conta das tarifas elevadas. Daí as estratégias em diversas esferas. Mesmo com dificuldades, o destino é cobiçado pela rede, que está há mais de um ano numa queda de braço para a compra também do Sofitel Copacabana Rio de Janeiro, outro hotel com potencial para integrar o portfólio cinco estrelas do BHG. "Temos vários hotéis no Rio de Janeiro, é um destino estratégico. Apareceu essa oportunidade de compra [do Royal Tulip] e fechamos o negócio. Antes, no entanto, fizemos uma pesquisa de mercado e uma avaliação da unidade", conta André Lameiro, diretor de Vendas e Marketing do grupo, em entrevista exclusiva ao Hôtelier News.

O executivo ainda explica que é de praxe o BHG assumir um meio de hospedagem já com seu plano de desenvolvimento: os ajustes necessários e qual bandeira o hotel terá. A compra do antigo InterContinental foi finalizada em março de 2011, e a rede iniciou as operações do hotel como Royal Tulip em outubro seguinte. Já há mais de um ano à frente da unidade e feita a conversão de marca, a companhia agora trabalha nas mudanças do empreendimento.

Por Juliana Bellegard

André Lameiro, diretor de Vendas e Marketing do BHG
André Lameiro, diretor de Vendas e Marketing do BHG, fala sobre as operações no Royal Tulip do Rio
(foto: Juliana Bellegard)

O hotel
Em visita na última semana ao Royal Tulip, a reportagem do Hôtelier News pode observar in loco a operação do hotel e as reformas que estão acontecendo atualmente ali. O ambiente de mudanças – tanto na questão de serviços como de instalações – é perceptível. "Estamos fazendo as adequações necessárias", explica Lameiro em relação à compatibilização do empreendimento aos padrões cinco estrelas do BHG. "A proposta é melhorar o equipamento hoteleiro", completa.

Primeiro, foram modificados alguns pontos estruturais "onde o hóspede não vê", conforme descreve o diretor, do ar-condicionado ao sistema de segurança, infraestrutura interna. Entre as áreas que já passaram por uma atualização visível estão a fachada, que conta com a logomarca da rede e do hotel e com um dos lados já refeitos; o outro lado, assim como as áreas comuns externas que circundam o empreendimento, deve ficar 100% pronto em três ou quatro meses, segundo estima Lameiro. Ao chegar no hotel, o cliente vê a recepção à direita e um grande tapume decorado, instalado no pedaço central do lobby. Ali, dividindo a área de concierges e o business center do bar, está sendo feito o balcão de recepção. O próprio lobby passará por modificações, o bar e o restaurante serão repaginados também, para que as disparidades agora visíveis – estruturas novas convivendo com mobiliário velho – sejam alinhadas.

A estimativa do diretor é que isso seja finalizado nos próximos seis meses. Talvez, para o hóspede, um dos pontos mais cruciais de sua experiência de hospedagem, os apartamentos são o próximo foco de reformas no Royal Tulip. Já há alguns andares fechados e não é preciso de muito tempo de observação dentro de uma das UHs para compreender a necessidade de mudanças neste sentido. Novamente o mobiliário antigo, equipamentos precisando de manutenção e áreas externas danificadas pela constante maresia.

Os televisores são a novidade das acomodações do hotel
Os televisores são a novidade das acomodações do hotel
(foto: Juliana Bellegard)

"Vamos fazer uma melhoria não só na questão do conforto, mas também de estética das acomodações", reitera Lameiro. Um dos detalhes já acertado é a substituição dos aparelhos de TV. Todos os apartamentos contam com um equipamento novo, de LCD. As próximas mudanças devem vir nos meses subsequentes ao fim da reforma externa. "Com isso, temos um bom produto para oferecer tanto para o corporativo quanto para eventos e os turistas de lazer que visitam o Rio de Janeiro", afirma, otimista.

Resultados
Lameiro revela que, mesmo com as reformas em andamento, o hotel mantém seu funcionamento normal. A unidade continua com um desempenho em termos de ocupação média semelhante aos números de balanço apresentados pelo IHG nos últimos dias como InterContinental. De outubro de 2011 para cá, o percentual de movimentação de hóspedes vem girando em torno de 60% a 70%, segundo o diretor. Circulando por ali, confirma-se esta ocupação. Tal qual outros empreendimentos de marca internacional – a Royal Tulip é uma bandeira da Louvre Hotels operada no Brasil pelo BHG -, principalmente no Rio de Janeiro, ali figura uma verdadeira Torre de Babel. Executivos chineses dividem o ambiente do café da manhã com alemãs e seus filhos, latinos arriscando um portunhol para pedir mais leite, e brasileiros que fazem ali mesmo suas reuniões de negócios.

No Lobby Bar, onde realizamos a entrevista, e no check-out da recepção numa sexta-feira ao meio-dia o cenário é semelhante: um vai-e-vem de pessoas que muitas vezes, tal qual o mito bíblico, são origem de um pequeno caos por não falarem a mesma língua. O atendimento aos estrangeiros e brasileiros apressados ainda tromba na confusão do check-out, assim como no check-in, quando alguns hóspedes deixam de ser atendidos por mensageiros que levam suas malas. Um detalhe que pode ser trivial, mas faz toda a diferença quando se trata de um serviço cinco estrelas, e que Lameiro diz estar na lista de questões em adequação.

Pieter van Voorst Vader, presidente do BHG
Pieter van Voorst Vader, presidente do BHG
(foto: arquivo HN)

Viés executivo
Tais pormenores de serviços tendem, copiosamente, a serem cobrados com mais frequência por hóspedes executivos – que conhecem mais hotéis e, por isso, são mais exigentes. É este o cliente básico da unidade. 

Porém, embora o BHG seja amplamente conhecido por seus meios de hospedagem executivos, quando questionado sobre o perfil do hóspede do Royal Tulip e se há algum interesse em mudar este perfil, o diretor é categórico em dizer que a mistura é o ideal. Em linhas gerais, o mix é composto por 60% de clientes business e 40% de lazer. "Não temos que definir o público, é o mercado que determina", argumenta Lameiro, ressaltando que as unidades adequam-se às demandas diferentes.

Em entrevista ao Hôtelier News, Pieter van Voorst Vader, presidente do BHG, apontou exatamente este misto de visitantes em alguns destinos, como o próprio Rio de Janeiro, mesmo que o foco primordial da rede seja o cliente de negócios. "No Rio você vai num hotel e encontra gente saindo de terno, de sunga. São dois públicos que andam juntos", colocou o presidente.

Questões estratégicas
Esta mescla só fortalece o destino, e o apreço do BHG e de outras companhias hoteleiras pelo Rio de Janeiro parece superar as especulações sobre a saturação do mercado ali. A proximidade dos grandes eventos esportivos que acontecerão na cidade deve aquecer mais ainda a disputa, literalmente, por um espaço. Como Lameiro percebe esta movimentação? "O mercado [carioca] está muito aquecido, principalmente por conta dos eventos que acontecem no Rio de Janeiro. E não é só pela Copa ou Olimpíadas, mas o que já está acontecendo por aqui". Não se pode negar, no entanto, que os eventos esportivos do próximo ano são motivadores maiores para as inúmeras obras espalhadas pela Cidade Maravilhosa do que os acontecimentos cotidianos. Neste sentido, o diretor opina que, Olimpíada ou não, é preciso que o destino se atualize.

Uma dessas obras em específico deve agregar valor ao Royal Tulip: a estação de metrô de São Conrado, na linha 4. Instalada na subida da Estrada da Gávea, deve começar a funcionar a partir de 2015, segundo previsão da concessionária. Lameiro aponta que isso pode ser mais um fator para reforçar a característica estratégica da localização do hotel. São Conrado é um pequeno bairro que se divide entre edifícios residenciais, algum comércio, o Gávea Golf and Country Club e o Royal Tulip. Está situado entre o Leblon e a Barra da Tijuca e esta é a vantagem do meio de hospedagem, segundo o diretor: estar próximo a dois destinos cariocas cobiçados e procurados tanto pelos turistas de lazer quanto pelo cliente de negócios. Em termos de concorrência, o hotel ainda desponta como o único cinco estrelas dali.

Entre as mudanças mais imediatas estão a fachada do empreendimentoLocalização estratégica é um dos pontos fortes do hotel, de acordo com Lameiro
Localização estratégica é um dos pontos fortes do hotel, de acordo com Lameiro
(foto: Juliana Bellegard)

Crescimento da rede
"O BHG tem quatro linhas de crescimento: compra, construção, administração e franquias", detalha Lameiro, quando do assunto é a expansão da rede. A questão das recentes compras de imóveis é, talvez, a ponto que mais chama a atenção do mercado – a empresa, no entanto, não enxerga esse seu posicionamento como uma forma de negociação agressiva ou predatória, mas antes uma consequência natural da dinâmica de qualquer transação comercial.

Em entrevista durante do 2º Fórum de Gestão Hoteleira, realizado no primeiro semestre deste ano em São Paulo, o presidente do BHG explicou a posição do grupo: “Tem gente querendo comprar e tem gente querendo vender. Se o dono do imóvel quer vender, é porque ele não está contente com o resultado que aquele negócio está dando”. Além do Royal Tulip do Rio, outro exemplo de compra recente foi o do grupo Solare, que acrescentou oito novas propriedades ao portfólio do BHG. Situação diferente ocorre com as negociações que envolvem o hotel Rio Palace, que hoje opera sob a bandeira Sofitel, da Accor.

Em agosto de 2011, o grupo anunciou a compra do empreendimento, cujo trâmite havia iniciado um ano antes, com o processo de recuperação judicial da Veplan Hotéis e Turismo S.A – proprietária do imóvel. Embora a rede francesa tenha, em seguida, apresentado garantias bancárias de que arcaria com os custos de aquisição do empreendimento, querendo exercer seu direito de compra como administradora do lugar, a justiça reconheceu, em março de 2012, o direito do BHG na transação. A Accor frisa que o caso está indo para Brasília.

Os outros braços da expansão do grupo pelo Brasil são menos polêmicos: além do investimento de cerca de R$ 1 bilhão na construção de 40 hotéis nos próximos sete anos, Lameiro reiterou também o plano de criação de um modelo de franquias, que deve englobar a marca econômica Soft Inn. O BHG conta atualmente com 45 unidades em operação no Brasil e administra as marcas Royal Tulip, Golden Tulip, Tulip Inn, Sift Inn e Txai. Atuando com regime de capital aberto, a empresa teve como base a LAHotels e surgiu em 2009 entrando no ramo com a gestão e a construção de empreendimentos no País.

Serviço
www.bhg.net