Flávia Matos, atualmente diretora executiva do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), entidade com sede numa charmosa esquina paulistana, fala sobre suas funções e opiniões de forma convincente. Seja qual for o tema, é questão de tempo até o interlocutor ser persuadido pelo seu raciocínio, sempre exprimido de forma enfática.

De baixa estatura mas com expressão grandiosa, a executiva fala sobre o mercado de hotelaria e de turismo do País com a propriedade de alguém que conta sobre sua própria vida. A facilidade no trato com assunto vem dos anos de experiência na área. Graduada em Hotelaria pelo Senac, a hoje representante de entidade já trabalhou na ala comercial de unidades hoteleiras – e aí destaca-se sua passagem pelo InterContinental São Paulo -, antes de se engajar de vez no nível representativo do segmento.

Especialista em Administração de Turismo e Hotelaria pela EAESP/FGV (Fundação Getúlio Vargas) e em Relações Internacionais pela UnB (Universidade de Brasília), a diretora hoje toca um projeto de mestrado orientado pela Dra. Elizabeth Wada. “Minha dissertação fala acerca da relação das redes hoteleiras com todo mundo que influencia ou é influenciado por ela”, cita, mostrando o entusiasmo de quem tem prazer em ainda estar envolvida na vida acadêmica.

Natural do Rio de Janeiro, Flávia trabalhou em hotéis até 2004, quando ingressou na promoção do Brasil como destino turístico em outras nações do mundo. “Fui convidada para integrar a equipe que foi fazer promoção do turismo brasileiro no mercado internacional, pela Braztoa. Na ocasião, a entidade tinha um recurso da Infraero, e o Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) orientava sobre a utilização daquela verba”, lembra. Chamado de seminários Descubra o Brasil, o programa abriu as portas para a profissional, que, a partir daí, seguiu no órgão Federal, onde passou por três gerências.

Mais do que simplesmente dirigir a entidade da qual faz parte, a profissional convence quando ressalta acreditar em tudo que defende e na importância que o Fohb tem para o mercado hoteleiro brasileiro. Segundo ela, parte da missão da instituição é incentivar a profissionalização do segmento e o crescimento dos hotéis vinculados a cadeias.

Evidente, há quem questione o fato de transformar unidades independentes em hotéis de rede. Mas as razões de Flávia soam fortes quando ela ressalta a padronização da qualidade de atendimento que as redes conferem aos meios de hospedagem. Entre outros trunfos, as companhias especializadas em hotelaria otimizam e aperfeiçoam questões fundamentais como treinamento, gestão comercial e qualidade de estadia. E para isso existem poucas opiniões contrárias.

Já afeiçoada à organização, a diretora pontua que o propósito do Fohb é promover os interesses dos associados e parceiros junto aos setores público e privados do Brasil. Atualmente são 26 redes hoteleiras – sendo 20 delas nacionais – vinculadas à organização.

Solícita, Flávia atendeu a reportagem com uma simpatia inabitual para uma segunda-feira de manhã. Falou sobre a relação com os hotéis, com o setor público e com outras entidades sem desalinhar seu traje social e despediu-se, como manda a tradição de sua terra natal, com dois beijos no rosto e um sorriso cordial.

Por Filip Calixto

Hôtelier News: O Fohb é uma entidade que representa especificamente as redes hoteleiras, num mercado onde os independentes ainda são maioria. Como vê esse cenário?

Flávia Matos: Diferente do que acontece nos Estados Unidos, nós redes somos em quantidade de unidades habitacionais, e, portanto, também em quantidade de propriedades, a menor fatia do mercado. A gente está falando, hoje, de 600 empreendimentos vinculados a redes, num cenário de 10 mil existentes no País.

Em quantidade de unidades habitacionais, temos 28% do mercado, que é exatamente o inverso do que ocorre nos Estados Unidos. Então, a gente entende que temos um papel, até social de profissionalização do setor, não só de incentivar o crescimento das cadeias.

Quando você fala de rede, está falando de uma gestão muito mais acurada, e, querendo ou não, mais profissional. Claro que eu gostaria de, num futuro não tão distante, ver uma maior quantidade de empreendimentos sendo administrado por redes. Mas gostaria como profissional do setor, não como diretora do Fohb.

HN: Essa movimentação de transformação de hotéis independentes em unidades de rede, tem chance de acontecer com maior frequência, é tendência?

Flávia: É tendência e acreditamos que essa movimentação vai acontecer. Mas ainda assim precisamos estar atentos a questões, sobretudo, de acessibilidade.

É necessário entender que temos que incluir toda e qualquer pessoa.

HN: Com esse processo de modificação se dando, o que a hotelaria nacional ganha e como o mercado pode reagir?

Flávia: Com esse processo de mudança para administração de rede, você vê uma padronização de treinamento, vê uma coisa de preocupação com sustentabilidade, cuidado com a gestão de pessoas, é uma forma diferente de lidar com esse nicho.

Até mesmo a gestão financeira é diferente.

HN: Qual é a chave para que esse processo se desenvolva?

Flávia: Na verdade não é um papel muito nosso. Mas como incentivo a gente compartilha, divide muitas das nossas práticas com a hotelaria independente.

O que percebo é que esse cenário independente olha para as redes e admira, é uma coisa de olhar e perceber que as corporações sabem fazer. Mas até acontecer dessa mensagem chegar lá no proprietário de cada hotel, demora.

Os números sob os quais nós trabalhamos hoje já aumentaram muito.

HN: E para as redes internacionais, como pode ser visto esse panorama?

Flávia: Sabemos também que as áreas de desenvolvimento das redes trabalham muito nesse sentido [de converter unidades já operantes em unidades vinculadas a suas marcas]. Mas aí tem uma questão muito importante que é a da construção.

O planejamento físico da propriedade, do prédio, ele tem que estar absolutamente de acordo com as normas que aquela rede aplica. Então questões como acessibilidade emperram um pouco esse processo.

Não tem empresa que vai pegar um hotel para administrar que não tenha pelo menos 90 cm de corredor, porque é lei mundial. Ao passo que não é todo hotel, existente hoje como propriedade particular, que pode ser administrado por rede por conta do planejamento físico.

E, nessas negociações, a reforma não é a rede que banca, normalmente é a incorporadora ou o investidor.

HN: Sobre o principal evento desse ano, a Copa do Mundo. O setor hoteleiro do Brasil preparou-se bem para a ocasião?

Flávia: Em quantidade de leitos, de apartamentos, sim.

A gente tem uma situação de menos oferta no Rio, mas sempre aquela história da relação entre demanda e oferta. Quem dos estrangeiros que vai vir para a Copa do Mundo que não vai querer dar uma passada pelo Rio de Janeiro? É uma cidade que está muito em evidência e que tem algumas questões. Não há mais espaço para construir na zona Sul, ao passo que na Barra, por exemplo, vai ter superoferta de hotéis.

Então no Rio de Janeiro há uma relação de oferta e demanda que é um pouco mais delicada. Mas, de uma maneira geral, a gente tem uma quantidade significativa de apartamentos para suprir essa demanda de Copa do Mundo.

HN: Algum outro cenário inusitado em outras cidades?

Flávia: Agora que saiu o sorteio, já se sabe, por exemplo, que Curitiba é uma cidade que pegou jogos que não são atraentes, que não deslocam pessoas para encher a rede hoteleira.

O Nordeste, em compensação, pegou alguns jogos interessantes, mas aí depois a coisa se concentra aqui no Sudeste e em Brasília.

Em São Paulo sabemos que a oferta é muito grande – a maior do País inclusive. Nesse caso, podemos ter o que chamamos de displacement, que é a migração do hóspede corporativo pelo hóspede de lazer. Na capital paulista, no entanto, achamos que este movimento até seja um pouco menor.

HN: Sobre a instituição, o que é e qual o papel do Fohb para o mercado de hotéis brasileiros?

Flávia: É representar seus associados, que são as rede hoteleiras atuantes no mercado do País. Ao todo são 26, sendo 20 delas nacionais, o que significa cerca de 600 hotéis e 97 mil apartamentos.

HN: Como é a relação do Fohb com outras entidades?

Flávia: É uma relação muito próxima. É um diálogo, atualmente, tanto com a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) como com a FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), muito estreito.

Tudo que a gente vai fazer é conversado. Todas as decisões, todos os passos de articulação passam por essas conversas que de fato acontecem.

HN: É importante ter essas instituições como aliadas?

Flávia: Definitivamente.

A gente defende a união do setor. O Fohb é muito incentivador dessa união. Se a gente não estiver com eles ficamos enfraquecidos e vice-versa.

HN: O setor é unido?

Flávia: Acredito que estamos caminhando para isso.

HN: Responsável pela representação dessas redes, que tipo de reivindicação o Fohb recebe?

Flávia: Normalmente, são questões relacionadas ao governo. Alguns exemplos são as leis do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição); a regulamentação de trabalho temporário; a situação dos alvarás na cidade de São Paulo; a unificação da linguagem entre companhias aéreas e hotelaria no que diz respeito a hospedagem de menores; fim da necessidade de visto de estrangeiros para entrar no Brasil; a leitura do turismo como pauta de exportação.

Claro, além disso tem algumas questões super técnicas. Mas normalmente o que eles precisam como representação são pleitos comuns a todos os hotéis.

HN: Além da representação, o Fobh tem outras funções junto a seus associados. Quais são?

Flávia: A gente tem três eixos fundamentais. A representação é a principal delas e daí vem essa história toda de lutar por questões comuns.

No eixo desenvolvimento, nos reunimos periodicamente com grupos de trabalho para discutir as melhores práticas para o segmento.

E há o eixo informação por meio do qual a gente produz alguns estudos estatísticos, que são importantes para o setor todo.

HN: O mercado entende a importância que esses levantamentos tem?

Flávia: E se entendem. A gente manda mensalmente números e estatísticas para nossos associados. Isso auxilia pois a partir do momento que a empresa vê que a ocupação não está sendo a esperada em determinado lugar, ele sabe que não é lá que o investimento tem que ser feito.

São índices fundamentais para que ele faça a gestão do negócio dele.

Serviço
www.fohb.com.br