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Toni Sando, presidente executivo do SPCVB
(foto: divulgação)

Todos nós, quando estamos em grupo, nos comportamos quase sempre da mesma maneira. A cultura de uma sociedade é exatamente o conjunto desses hábitos individuais compartilhados.

Não é a toa que somos viciados nos nossos hábitos. Eles são determinados pelo comportamento comum e, paradoxalmente, o comportamento comum é formado pelos nossos hábitos individuais.

Nas comunidades, sejam elas religiosas, acadêmicas, clubes sociais ou grupo de amigos, sempre surgem comentários sobre aquele que saiu do padrão comum.

E no “cafezinho da empresa” então? São comentários sobre o humor do chefe, do cabelo da colega, da roupa vulgar da outra, de quem está gordo ou magro demais, do estagiário que fica nas redes sociais, enfim, a vida do outro é sempre a pauta da especulação diária.

Muitas palavras, chavões ou bordões são utilizados em nosso vocabulário do dia a dia e nem nos damos conta.

Na revista Superinteressante deste mês li um artigo “super interessante”: A doença de ser normal. Um artigo que explica o que é normose.

Segundo a matéria, é um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social, mas que na realidade são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida.

Ou seja, muitas pessoas, com medo de não serem aceitas pelo grupo, esforçam-se além de sua própria vontade para manter seu status quo.

Quem disse que para ser feliz tem que seguir o padrão tradicional das relações, das atividades sociais, do lazer ou até mesmo da forma de amar ou ser amado?

Quem se comporta fora dos padrões comuns é considerado um desajustado, simplesmente pelo fato de não obedecer ao estado normal das coisas, o senso comum, ou seja, não atender as expectativas dos outros.

Seguir a cartilha de crescer, estudar, casar, ter filhos, ter um bom emprego, uma casa, um carro, uma outra casa, uma família de caseiros (limite da insanidade), uma viagem internacional por ano (com a neurose do coletivo em questionar a cotação do dólar)… “Sem querer, querendo”, deixamos de ser felizes de verdade.

No fundo, deixamos de ser o que queremos ser, deixamos de fazer o que gostaríamos de fazer, deixamos de viver intensamente nossas vidas, em troca do quê? Segurança.

A questão é que enquanto pensamos em ser aceitos pela sociedade dentro de um modelo tradicional, seja ele pessoal, familiar, profissional ou religioso, estamos protegidos dos perigos e desafios do pioneirismo.

Sair da normose pode ser muito mais intenso e prazeroso do que toda uma vida dentro dos padrões normais do consenso social.

A vida é tão curta que se não quebrarmos os paradigmas sociais, só restará o lamento de não termos vivido a vida que sonhamos.

Como diria Shakespeare: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que com frequência poderíamos ganhar, pelo simples medo de arriscar”.

A vida passa, o mundo fica.

Mas quem disse que o estado normal é o certo ou errado?

Por exemplo, o normótico acredita, segundo a psicóloga Dulce Magalhães, “que trabalhar demais para justificar o cargo é normal e desconsidera as consequências de comprometer sua saúde, vida social e família. Achar que ao chegar em casa dizendo que trabalhou muito e que não tem tempo ou agenda para nada é mérito”.

No fundo, a pessoa está apenas se comportando dentro de um modelo padrão, mérito para os outros, não para si mesmo. No fundo, dentro desse conceito da normose, é a sensação da utilidade e aceitação, e não do prazer em si mesmo.

Querer ser aceito por me comportar da maneira com as pessoas ao redor acham que deve ser, só faz a pessoa sofrer em seu intimo, e nunca ficar satisfeito por nada que conquistou.

Vivemos em um novo mundo, com novas ideias e as mudanças são constantes.

A dificuldade que temos de quebrar paradigmas faz com que o cérebro tenha dificuldades em aceitar para poder encarar novos desafios, embora todas as mudanças do mundo foram feitas por insatisfeitos de seu próprio tempo, eis o grande desafio na história das civilizações.

Querer ser você mesmo, nem que isso o faça diferente do consenso comum e conseguir tentar viver em paz, convivendo naturalmente com os preconceitos da mudança (seja ela qual for) ou dentro do consenso social, ser normal, mesmo sabendo que se você fosse em busca de sua felicidade e não viver para agradar os outros, não seria anormal.

Como diria Nelson Rodrigues, “a unanimidade é burra”, mas como vivemos de audiência, ser ou não ser, nessa aldeia global: Você decide!

*Toni Sando é presidente executivo da Fundação 25 de Janeiro – São Paulo Convention & Visitors Bureau. Administrador de Empresas com MBA em Gestão Empresarial. Sócio da TSM Assessoria e Gestão de Negócios, palestrante e professor de Marketing, Gestão de eventos e Tendências. Atuou em marketing, vendas, produtos e operações no mercado financeiro, administradora de cartões de crédito e em rede hoteleira.

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