Hoteleiros, muitas vezes sem serem atrelados aos seus
grandes feitos, sempre mantêm o sorriso insolúvel no rosto 
(foto: blog.plazahoteis.com.br)
Moeda corrente na hotelaria, a capacitação profissional tem sido pauta diária nos hotéis e instituições do trade. Os dois mundiais esportivos que vão ocorrer no País nos próximos anos fizeram com que o próprio MTur (Ministério do Turismo) sacudisse a poeira para longe do tapete e criasse programas como o Bem receber Copa – no objetivo de qualificar o trade, mesmo que isso ocorra com cursos à distância. Em tempo, é cedo para dizer, contudo o programa parece não ter guinado ainda. Mas a maior virtude do homem é esperar.
 
Enfim, mesmo com todo esse processo educacional sendo realizado na tentativa de desenhar o profissional quimérico, é sabido que somente no trabalho essa educação se concretiza de forma paupável. Profissionais muitas vezes terminam a graduação e partem direto para uma especialização, sem ao menos ter passado pelo mercado, o local no qual, inevitavelmente, ele vai ganhar fôlego para compreender as diversas áreas que se completam dentro de um hotel. Nem nas cadeiras das melhores universidades brasileiras – e até mesmo estrangeiras – se conhece tão bem o que é a hotelaria como num meio de hospedagem. Essencial citar que universidades caça-níquel não faltam na tentativa de matricular alunos num MBA – cujo objetivo é a troca de experiências com executivos que já estão atuando – sem que estes nunca tenham passado pelo mercado.
 
A tentativa seria realizar o encontro do mundo ideal com o mundo real. Para o hoteleiro, isso se traduz em muitas semanas sem folga, no máximo cinco horas para dormir por noite, um sorriso eterno no rosto, nada de mal humor e, principalmente, amor pelo que se faz – totalmente necessários para que esse aspirante venha a se tornar um profissional. Tudo muito distante do que é visto na academia. É preciso se dedicar única e exclusivamente a isso, ver pouco seus familiares e abrir mão de seus prazeres particulares em nome do bem servir.
 
O mais entristecedor? Muitas vezes ele nem é reconhecido como tal e, um pequeno alvitre, terá que começar de baixo, passar pelo operacional e ser, em muitos casos, mal remunerado. Nem esse mal às vezes se personifica, pois jovens que se formam em hotelaria frequentemente acabam migrando para outros setores argumentando que os salários do operacional são irrisórios e o trabalho não é respeitado. Vale lembrar que nenhum gerente geral saiu da graduação já ocupando tal posto – à exceção dos que já figuravam em tal função quando foram à academia. Inevitavel dizer também que só é possível compreender todo o processo tendo passado por ele minusciosamente. O insidioso caminho a percorrer não é aprendido em sala de aula e requer muito mais do que um diploma magnificente.  
 
O setor deve sim se profissionalizar e ganhar excelência como vertente econômica. Mas o primordial é dizer que o hoteleiro trabalha em demasia e é pouco venerado. Não se trata de colocá-lo num pedestal e adorá-lo como a um santo barroco, porém é preciso pontuar que com poucas iniciativas esse profissional pode sim ganhar ânimo e manter a excelência de seu trabalho quando estimulado.
 
Indispensável lembrar da cerimônia do Prêmio VIHP – Very Important Hotel Professional, ocorrida nesta última semana, cujo intuito único é homenagear o aprimoramento desses profissionais, quando o discurso repetitivo dos ganhadores era de que se orgulhavam por finalmente haver alguma iniciativa que os colocavam como vitoriosos. Esta não pode e não deve ser a única. A hotelaria, que só existe pelos profissionais que nela atuam, não pode renegar o próprio corpo.