Aberto na manhã de hoje (3), o segundo Encontro de Gente Hoteleira reuniu profissionais de dentro e fora da hotelaria para debater temas ligados à gestão de pessoas. Com discussões voltadas para assuntos como tecnologia e ESG, o evento organizado pelo Hotelier News e HotelConsult trouxe convidados de diferentes áreas para tratar de problemas e soluções para um melhor ambiente de trabalho e de produtividade nos hotéis.

Na primeira parte de cases, o foco foi na retenção de funcionários com Carol Meneses, diretora de Gente e Gestão daAmarante Hotéis, e Rosana Viegas, gerente geral do ibis Styles São Paulo Barra Funda. O compromisso com a sustentabilidade foi um ponto levantado por Carol, que pode ser incrementado a partir, por exemplo, do processo de impressão ecológico e na facilidade logística e operacional a partir da redução de emissão de CO².

Rosana trouxe estatísticas relevantes para a discussão de turnovers no evento: segundo a pesquisa da Accor de 2019 a 2023, houve uma média de 47, 35% de rotatividade, com uma alta de quase 80% no ano seguinte e, em 2023, com 61,56%. A previsão para 2024 é de 61,17%; ou seja, teve seus efeitos revertidos, mas ainda há muito trabalho pela frente para reter os funcionários.

Lais enfatizou ações de inclusão

Lais Alves, coordenadora de Diversidade & Inclusão da Accor, trouxe um case voltado para Diversidade, Equidade e Inclusão para demonstrar a importância do ESG em todas as áreas da gestão hoteleira. Pensando em grupos com marcadores de diversidades, a gigante francesa busca acolher da melhor forma diferentes pessoas para a gestão: o Censo de Diversidade (2023) da rede apontou que, entre outros fatores, mais da metade de seus colaboradores são mulheres e 45% da liderança se autodeclara negra.

Além disso, 82% dos entrevistados reconhecem o espaço diverso e inclusivo da Accor. Lais também divulgou o material de apoio da rede para que gestores possam se comprometer com mais diversidade no seu quadro de funcionários.

Retenção de pessoas

Executivos debateram o fit cultural

No painel Retenção de Talentos: quais os desafios e possíveis soluções? do Encontro de Gente Hoteleira, os profissionais discutiram sobre a identificação dos funcionários em relação ao fit cultural (aderência de colaboradores com a identidade empresarial).

Falar sobre jornada dupla, trabalhos em finais de semana e outras atividades extras já são pautas repensadas pelos gestores de hotéis para melhorar a forma de reter seus colaboradores. Espaços de descanso, refeitórios para funcionários, benefícios e jornadas noturnas fracionadas são pontos mencionados no painel como formas de aprimorar o clima organizacional no mercado hoteleiro.

Outro fator de discussão é a automação de funções, que pode ocasionar na dificuldade de retenção dos funcionários. “Tudo que não gera valor e que gera atrito para o cliente precisa ser automatizado e com menos interação humana. A diminuição dessa interação, contudo,  não exclui a essência da hotelaria – ao contrário, traz um melhor atendimento aos nossos clientes”, mencionou Paulo Mélega, VP de Operações do Atrio Hotel Management.

A jornada de trabalho é uma discussão que também é levada em conta quando se fala em gestão de pessoas. “Em uma jornada 6×2, por exemplo, a gestão precisa criar uma autonomia e aprender como a organização pode melhorar na sua cultura e na forma como lida com esses regimes”, comentou Rodrigo Malfitani, diretor de Hospitalidade do Leila Restaurante.

Mélega comentou sobre benefícios para colaboradores

Ao falar sobre benefícios, os painelistas abordaram a saúde mental como uma das frentes importantes para atrair os funcionários. ”Saúde mental é coisa séria e é muito importante que consideremos benefícios como o plano de saúde”, ressaltou Natalia Maturana, diretora de Recursos Humanos do Grupo Wish. Mélega destacou o programa Be Atrio, um projeto de liderança que oferece aos funcionários duas consultas mensais com psicológicos para trazer melhorias para a vida dos colaboradores.

Questionados sobre os temas importantes para a retenção de pessoas, Natalia comentou a relevância da identificação cultural. “Fit cultural é muito importante, além da comunicação transparente com colaboradores e a alta liderança. Assim, podemos incentivar os funcionários para que realmente façam parte da nossa organização”.

Formação educacional na hotelaria

No segundo e último painel do Encontro de Gente Hoteleira, Vinicius Medeiros, editor chefe do Hotelier News, mediou a discussão para tratar da dificuldade de formação educacional dos profissionais de hotelaria no Brasil. Abrindo a conversa, Ana Marta de Araujo, coordenadora de Graduação da Hotelaria do Senac, aponta que o desafio do profissional realmente seguir carreira na hotelaria é a falta de valorização e a consequente baixa remuneração, visto que suas funções adquiridas no curso possuem um custo-benefício melhor em outras profissões.

Bianca: Les Rocher foca na pós-graduação

No contexto internacional, Bianca Curvello, Educational and Career Counselor Brazil da Les Roches, apontou que o setor de hospitalidade virou o foco em detrimento da hotelaria e da diversidade, o que remodelou o formato do processo profissionalizante, como as horas de estágio no curso e a forma de admissão das organizações. “Antes da pandemia, tínhamos um quadro de 60% egressos e 40% pós-graduandos; agora os números se inverteram porque os profissionais enxergam a maior necessidade de se capacitar e de aprender as atualidades do setor”, mencionou a conselheira.

Bianca pontuou também os cursos da Les Rocher, que oferece módulos presenciais para que os alunos possam se desenvolver com experiência na área a partir da prática e do estágio, que pode ser realizado em uma das unidades internacionais da instituição. Você pode conferir os programas aqui.

Como formas de atrair alunos para o curso de hotelaria, Celso do Valle, diretor geral do Palácio Tangará, apontou que a tecnologia proporciona muitas oportunidades para que o estudante possa se aprimorar em outras habilidades. “A tecnologia depende da categoria do hotel, mas é possível enxugar as funções do futuro colaborador no mercado de trabalho e, dessa forma, atrair mais pessoas para as vagas. Ainda assim,  é ideal que o candidato esteja qualificado e aberto a posições dentro da gestão”.

O futuro do mercado de trabalho

Para finalizar os insights do Encontro de Gente Hoteleira, Marcelo Boeger, consultor e gestor em Hotelaria e Facilities, levantou reflexões sobre as perspectivas do mercado hoteleiro na visão do cliente, do investidor e do colaborador. A começar pela seleção e recrutamento, que, com o algoritmo, tem alterado a dinâmica de avaliação. Diante de um mundo tecnológico, tratar de benefícios como plano de saúde e a flexibilização de jornada de trabalho é apontado como fatores buscados pelos colaboradores de hoje.

E a tendência de sistemas de trabalhos diferenciados apenas aumenta: 64% das profissões que a geração X (1995-2015) exercerá ainda não existem hoje. Ligados à personalização e à tecnologia, Boeger questiona: quais serviços serão excluídos ou substituídos? Quais terão modificações? Qual será a influência da Inteligência Artificial nos novos fluxos de trabalho?

Pensando em projeções de investimentos, Boeger pontuou fatores importantes como lifelong learning, onboarding process, predição de dados, ESG, inclusão de 50+ na operação e papel de liderança. Entre os riscos apontados pelo consultor estão a saúde mental, escassez de talentos, uso errôneo da tecnologia e a fraqueza na liderança (visto que a geração Z não se interessa por fazer parte da alta gestão).

Diante das possíveis projeções, transformar comunidades engajadas depende de um ambiente positivo, liderança ativa, com propósito e perspectiva, além do comprometimento de todas as partes envolvidas. A liderança, por fim, foi ressaltada, já que a comunicação e o direcionamento deve vir de um modelo que entenda as necessidades e desejos de colaboradores e clientes. “Seja um especialista em gente”, finalizou.

(*) Crédito das fotos: Hotelier News