No começo do segundo semestre, o Hotelier News compilou algumas tendências de arquitetura para a hotelaria de alto padrão, já que o segmento costuma ser a linha de frente das mudanças. As transformações destacadas, estimuladas principalmente pela pandemia, se consolidaram nos futuros projetos hoteleiros de todas as categorias. Essas novidades também permeiam o mobiliário, conforme se altera a relação dos hóspedes com os espaços.

A seguir, você confere as principais tendências para o mobiliário de hotel, reunidas pela reportagem do Hotelier News. A montagem foi realizada a partir de informações fornecidas pela designer de interiores Fernanda Ruppenthal, diretora do escritório de mesmo nome, e pela arquiteta Maryana Pinto, do escritório Studio M+, responsável pelos projetos de interiores do grupo Hot Beach.

Escritório e escola

O que já vinha se manifestando mesmo antes de 2019 e foi impulsionada pela pandemia é a adequação de acomodações para hóspedes que trabalham ou estudam remotamente. “Adaptar cômodos, criando ambientes agradáveis para homeoffice e homeschooling, fazendo uso de bancadas específicas ou adaptando bancadas existentes para oferecer maior conforto ao hóspede que passará um bom tempo da estadia nelas”, recomenda Fernanda.

“Resort office, coworking e bleisure são conceitos que não têm mais volta. Os ambientes de trabalho estão migrando fortemente para a hotelaria de lazer”, pontua Maryana. “Antigamente, os resorts proibiam colocar relógios ou jornais nos lobbies para que os hóspedes não lembrassem de seus problemas. Hoje, isso é irrelevante visto que o smartphone já fornece essas informações a todo o momento e que o trabalho com lazer veio para ficar”, lembra a arquiteta.

Estadias de longo prazo

As estadias prolongadas, também chamadas de extended stays ou long term rentals, estão cada vez mais recorrentes e exigem suas próprias adaptações. “Para atender esta modalidade de hospedagem a decoração se torna mais acolhedora com tendência a reproduzir uma atmosfera mais próxima de um lar, com decoração intimista que atribua aconchego e acolhimento”, aponta Fernanda.

O mesmo vale para empreendimentos de time share e multipropriedade. “Estadias de sete dias não eram necessariamente muito comuns no Brasil”, alega Maryana. “É ideal que essas acomodações sejam uma reprodução de casas de férias, com um aspecto mais pessoal e lugares para armazenar objetos”, complementa.

Flexibilização

Maryana relata ter visto maior flexibilização no mobiliário. “Uma mesma peça que agrega uma variedade de funções, como um painel de TV que também serve de gabinete, decorativo e iluminação do quarto. Essa flexibilização também tange o layout dos cômodos, que está cada menos engessado”, alega a arquiteta.

Essa tendência também vale para fora dos quartos. “É possível desenvolver lobbies que não são apenas um lugar de chegar ou sair, mas que podem se transformar em espaços de experiências e eventos descontraídos”, acrescenta.

Tecnologia

As novidades tecnológicas estão cada vez mais presentes na hotelaria. “Temos visto essa questão da automação e ambientes inteligentes se consolidando. Se há alguns anos fosse sugerida a implementação de portas USB na cabeceira das camas, seria barrada. Hoje, é imprescindível”, reforça Maryana. “Além disso, quanto menos contato humano e mais por dispositivos móveis e voz, maior a durabilidade e menos sujeira no mobiliário”, adiciona.

Para Fernanda, no entanto, é importante a adaptação técnica dos ambientes para incorporar essas tecnologias. “São necessários espaços abertos para distribuição de totens informativos e adequados para não interferir, mas integrar a decoração, ao mesmo tempo estando sempre visíveis para facilitar ao hóspede o acesso. O mobiliário deve absorver e incorporar esses mecanismos de forma planejada, no momento do desenvolvimento do projeto”, afirma.

Harmonia com a natureza

Em contrapartida, o período tecnológico enfrentado durante a pandemia trouxe a necessidade de sintonizar com a natureza, tanto em relação a ambientes abertos, móveis interativos e escolha de materiais. “Móveis de jardim que possam ficar expostos ao tempo estão em evidência. Assim como a decoração que completa estes ambientes, como uso de lareiras e aquecedores. A conexão com a natureza transmite uma sensação de tranquilidade e bem-estar”, alega Fernanda.

Além da escolha consciente dos materiais, cada vez mais crus e naturais, como pedra, madeira e tecidos com textura, a arte também pode contribuir para os espaços hoteleiros, como se fazia no passado. “Hoje, esse conceito está se reinventando, com ambientes e mobiliários assinados que contam uma história. Nossas escolhas de compras impactam o meio e essas gerações mais novas vem com isso muito mais forte”, salienta Maryana.

Segundo a arquiteta, o turismo pode colaborar muito com a arte e o artesanato brasileiro, pois os hotéis servem muito bem como vitrine, impregnando a região no empreendimento. ”Além do lastro curto de pegada de carbono, é uma experiência genuína. As pessoas estão valorizando cada vez mais e os investidores estão percebendo isso”, continua Maryana. “O futuro será um amálgama do tradicional e natural com o moderno e futurista”, prevê.

Amigos de quatro patas

O isolamento da pandemia também influenciou no número de tutores de animais de estimação. Muitos desses desejam ou precisam viajar, mas não tem com quem deixar seus pets ou não podem ficar separados deles. Levando isso em conta, hotéis que aceitam animais são um diferencial, mas precisam contar com espaços abertos e seguros para os peludos.

Quartos temáticos

Maryana também destaca os quartos temáticos, que devem estar cada vez mais presentes no futuro. “A experiência virou ponto chave e isso com certeza vai respingar no detalhamento de interiores e mobiliário”, comenta a arquiteta. “Ambientes imersivos, porém, exigem muito cuidado para não ficar caricato”, alerta.

Resorts

Por outro lado, o último item não vale para resorts, pois estes buscam atrair os hóspedes para fora do quarto, para que aproveitem os atrativos da propriedade. “Esses empreendimentos, no entanto, devem considerar as necessidades de diferentes tipos de público de lazer, principalmente as famílias com crianças, com móveis práticos e seguros para os pequenos”, frisa Maryana.

Assepsia

Além dessas tendências, vale reforçar a importância da assepsia, mesmo após a flexibilização dos protocolos de saúde e segurança. “Isso envolve a escolha de materiais de fácil higienização e que permitam fácil substituição e reposição, além de maior durabilidade. O conceito se aplica a diversos tipos de materiais, como tecidos, pedras e sintéticos de melhor qualidade”, reforça Fernanda.

(*) Crédito da foto: Kam Idris/Unsplash