Enquanto hotelaria tenta sobreviver, empresário briga para fechar pousada na Bahia
30 de dezembro de 2020O ano de 2020 não será esquecido pela hotelaria mundial, que enfrentou seu maior desafio. No Brasil, milhares de hotéis fecharam as portas temporariamente, e muitos ficaram pelo caminho. Apesar dos grandes desafios, uma coisa é certa: o setor lutou como nunca para se adaptar à situação e retomar operações. Ainda assim, por mais incrível que possa parecer, há hoteleiros no país que brigam exatamente pelo contrário (fechar seus empreendimentos), e é isso que contaremos a partir de agora sobre uma pousada na Bahia.
O caso chamou atenção do Hotelier News, que soube do ocorrido por meio de um release que chegou à redação. O título do e-mail já chamava atenção: “Pousada na Península de Maraú (BA) opera sem estrutura segura e adequada”. No corpo do texto a seguir, outra passagem que despertava curiosidade: “Seguem texto e foto sobre as condições da pousada Taipu de Fora, na Península de Maraú, que, segundo seu próprio proprietário, precisa ser imediatamente interditada. Rende como pauta?”.
Sim, claro que rende, principalmente neste momento que, como citamos, a hotelaria mundial luta pela sobrevivência. Imediatamente, a equipe entrou em contato para entender melhor a história, que envolve uma disputa entre casais por separação de bens e um administrador judicial. Antes de prosseguir, um aviso: o Hotelier News não faz juízo de valor sobre o ocorrido e o que vocês lerão a seguir é exatamente o que foi apurado. Deixamos opinião para vocês, leitores, e o juízo para quem deve, a Justiça. Só vamos relatar o que ouvimos.
De um lado da história está Haroldo Magalhães, sócio da pousada. Do outro, sua ex-esposa Ana Lídia Fanhing, também proprietária do empreendimento, que há cinco anos é gerido por um administrador judicial em função da separação de bens dos antigos cônjuges e da recuperação judicial do estabelecimento. O último processo, por sua vez, é motivado por dívidas trabalhistas, fiscais e com outros diferentes credores, informa Marcio Ribeiro, terceira parte envolvida e administrador judicial definido pela Justiça.
A pendenga da Pousada na Bahia
Questionado pela reportagem do porquê ser favorável à interdição do seu empreendimento, Magalhães foi taxativo. “Estou afastado há cinco anos da pousada e ela é gerida por um administrador judicial, que não vem cuidando bem no ativo. A edificação pertence a mim e minha ex-mulher. Já o terreno, a mim”, esclarece. “Na verdade, o administrador judicial vem cuidando bem da decoração da pousada, mas a estrutura vem sendo negligenciada. A instalação elétrica, por exemplo, está caótica”, completa.
Como toda hotelaria nacional, a pousada ficou temporariamente fechada por vários meses. Em agosto, uma peça de madeira de aproximadamente 3 metros caiu na varanda de um dos apartamentos. Magalhães alega que já havia indagado Ribeiro sobre essa possibilidade há dois anos, além de pedir providências sobre o mau estado de conservação do telhado. “Ele (administrador) consertou uma pequena parte do telhado, uma espécie de maquiagem”, afirma. “A maresia acaba com a infraestrutura da pousada, que fica em frente ao mar. No período sem operações durante a pandemia, não houve nenhum ajuste, piorando a situação.”
Em função do problema no telhado, Magalhães entrou com embargo na Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras de Maraú solicitando a interdição do empreendimento. Um fiscal da pasta foi ao local e determinou o fechamento. Após um laudo técnico contratado pela pousada, a decisão foi suspensa e a propriedade voltou a operar. “Essa reversão aconteceu pela influência política da minha ex-mulher” alega o empresário. “O laudo técnico apresentado para reverter a interdição é ridículo. Fica parecendo que o engenheiro contratado simplesmente perguntou para uma recepcionista se estava tudo bem e, como ela disse que sim, tudo foi liberado (veja imagem)”, completa.
Por fim, Magalhães alega que a interdição da pousada é uma forma de blindar seu patrimônio. “Obviamente, viso também à segurança dos hóspedes. Além disso, caso ocorra algum problema com clientes, posso responder na Justiça por isso”, alega.
O outro lado
Em contato com a reportagem, Marcio Ribeiro (administrador judicial) rebateu todas as alegações de Magalhães. Mais ainda, ele começou a conversa falando um dos jargões mais conhecidas quando se fala em disputas de casais. “Olha, em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.” Ele explica que foi nomeado pela Justiça para comandar o hotel após não haver entendimento entra as partes sobre quem ficaria com o imóvel, o que vinha impactando no processo de recuperação judicial.
“A Justiça entendeu que a briga judicial comprometia o pagamento dos credores e dos funcionários, ou seja, outras pessoas indiretamente envolvidas na disputa. Então, os dois foram afastados da gestão e fui nomeado como administrador até que a dissolução dos bens seja resolvida”, explica Ribeiro. “Nesse meio tempo, recuperamos o hotel, pagamos dúvidas e seguimos na gestão. Passamos meses com muitas dificuldades em função da pandemia. Conseguimos manter toda equipe. Lamentamos a insistência do Haroldo em fechar a pousada.”
Ele ainda acrescente que, desde sua nomeação, Magalhães faz de tudo para fechar o hotel para atingir a ex-mulher. Segundo Ribeiro, a Justiça entende que há trabalhadores com muito tempo de serviço no hotel que poderiam perder seus empregos com o fechamento. “Além disso, a pousada cumpre um papel de dinamizador da economia na Península de Maraú, onde o turismo tem muito apelo. Essa foi também a avaliação do juiz do caso”, complementa.
Ribeira chama também de inverídicas as acusações de não dar atenção à manutenção da pousada e de uma possível influência política para reverter a interdição. “Sempre paramos em junho (baixa temporada) para fazer reformas, pois a maresia ‘come’ tudo. Essas melhorias não muito mais nos equipamentos do que prediais ou físicas. Tenho projetos assinados por arquitetos e engenheiros para provar que a estrutura do hotel está preservada e segura”, diz. “Sobre o fiscal que solicitou o fechamento da pousada, ele está sendo investigado por isso”, acrescenta.
Para finalizar, Ribeiro rebate a alegação de Magalhães de que ele poderia responder civilmente no caso de algum acidente ocorrer na pousada, informação que foi confirmada por um advogado ouvido pela reportagem. “Hoje, a dona do imóvel é a Justiça. Então, quem responde civilmente sou eu”, explica.
(*) Crédito da capa: Divulgação/Taipu de Fora
(**) Crédito das fotos: Haroldo Magalhães
(***) Crédito da foto: parte do laudo enviado por Haroldo Magalhães