As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio têm gerado impactos econômicos significativos, segundo um estudo realizado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). A estimativa é que a tragédia climática cause perdas de até R$ 97 bilhões para a economia brasileira em 2024, com R$ 58 bilhões referentes ao estado e R$ 38,9 bilhões aos outras unidades da Federação.

O impacto no PIB (Produto Interno Bruto) do Rio Grande do Sul pode chegar a 9,86%, enquanto o PIB brasileiro poderá sofrer uma redução de até 1%. Além disso, cerca de 305 mil empregos estão em risco, sendo 195 mil no estado gaúcho e 110 mil em outros estados, o que representa 7,19% do estoque de empregos formais no RS e 0,69% em nível nacional.

Para enfrentar esses desafios, o governo federal anunciou um pacote de apoio de R$ 46,1 bilhões, destinado a recursos, antecipações de benefícios e crédito. O governo gaúcho, por sua vez, estima necessitar de R$ 19 bilhões para a reconstrução da infraestrutura. No entanto, a CNC sugere que essas medidas sejam complementadas por ações adicionais em três eixos: preservação dos empregos, acesso a crédito e alívio tributário. “A rápida implementação das medidas de auxílio é muito importante para evitar efeitos prolongados e danos adicionais à economia gaúcha e à brasileira como um todo”, diz José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.

Efeitos sobre o setor produtivo

O setor produtivo do Rio Grande do Sul também enfrenta grandes dificuldades. De acordo com o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, a reconstrução do estado exigirá esforços contínuos e investimentos substanciais para restaurar a economia e os empregos perdidos. “A tragédia tende a afetar a atividade econômica, inflação e dinâmica fiscal de todo o país”, afirma.

O comércio, serviços e turismo sofrerão duramente caso as medidas mitigatórias não sejam implantadas de maneira efetiva. A CNC estima uma perda diária de R$ 5 bilhões no comércio, equivalente a 31,5% do valor previsto para maio. A infraestrutura e o abastecimento foram gravemente afetados, resultando em uma queda de 28% no fluxo de veículos de carga nas estradas. O estado representa 7% do volume de vendas no varejo brasileiro, e as perdas no comércio podem chegar a R$ 10 bilhões, o que equivale a 5% do faturamento de 2023.

O turismo, outro setor vital para a economia gaúcha, pode enfrentar perdas superiores a R$ 49 milhões por dia, acumulando até R$ 2 bilhões de prejuízo até junho de 2024 e podendo chegar a R$ 6 bilhões em todo o ano de 2024. O Rio Grande do Sul foi responsável por 6% do faturamento do setor no Brasil em 2023, e a perda de faturamento pode representar até 21,4% do total faturado em 2023 no estado. A infraestrutura de transporte comprometida representa um grande risco, com a interrupção do fluxo de turistas devido ao fechamento do aeroporto de Porto Alegre e rodovias afetadas.

Setor agrícola e industrial

O Rio Grande do Sul, grande produtor agrícola e industrial, também sente os impactos. Responsável por cerca de 6% do PIB estadual, a produção de arroz, que representa 1% da economia, foi seriamente afetada. A indústria do estado, relevante na transformação de máquinas, produtos químicos e veículos, também sofrerá com as consequências das enchentes.

Para mitigar esses impactos, a CNC propõe medidas de preservação dos empregos, como a redução proporcional da jornada de trabalho e salários, suspensão temporária de contratos com compensação financeira, flexibilização do trabalho remoto, antecipação de férias e utilização de bancos de horas.

No eixo do acesso a crédito, sugere-se um programa para pagamento de folha salarial, standstill para linhas públicas, renegociação de dívidas tributárias e redução a zero do spread bancário do BNDES. Para o alívio tributário, a CNC recomenda o diferimento de seis meses para pagamento do Simples Nacional e impostos federais, além da criação do Programa Perse-RS, com redução de alíquotas para o setor de turismo até 2027.

“O Rio Grande do Sul passou por uma tragédia histórica, com perdas que não se restringem apenas ao momento atual. Muita infraestrutura e muito capital privado de famílias e empresas foram destruídos. Para amenizar as perdas futuras, é necessário auxiliar todos que foram atingidos direta e indiretamente no estado e, fundamentalmente, garantir que isso jamais se repita nas proporções vistas recentemente”, comenta Luiz Carlos Bohn, Conforme destaca o presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac-RS e 2º vice-presidente da CNC.

(*) Crédito da foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil