O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil intensificou seu tom hoje (6), ao afirmar que não hesitará em elevar a taxa básica de juros, a Selic, caso julgue necessário para manter a inflação dentro da meta, conforme informado pela Folha de São Paulo.

A ata da mais recente reunião de juros do Copom destaca a influência de variáveis como o dólar e as expectativas de inflação, em um cenário internacional adverso e incerto. Segundo o comitê, o desenvolvimento desse ambiente desafiador, caracterizado por projeções inflacionárias mais elevadas e riscos aumentados, será crucial para determinar os próximos passos da política monetária.

O documento ressalta que essa é uma decisão coletiva, incluindo os diretores indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, diz a ata, acrescentando que outras estratégias incluem a manutenção dos juros no patamar atual por um período suficientemente longo.

Decisões de juros e impactos no mercado

A manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano pela segunda vez consecutiva foi decidida na última quarta-feira (31). No dia seguinte, o dólar valorizou-se 1,43%, parcialmente em resposta ao tom do comunicado do Copom. Para analistas, a ausência de sinalização clara sobre uma possível alta dos juros foi preocupante. Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, observou que o comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”.

Solange Srour, diretora de Macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, escreveu que o Banco Central parecia querer ganhar tempo para avaliar melhor as conjunturas domésticas e internacionais antes de iniciar o processo de elevação dos juros em relação à Selic.

Expectativas de inflação e cenário fiscal

Inflação - capa

Copom aponta que situação atual converge das expectativas para 2024

O documento do Copom aponta que as expectativas para a inflação se distanciaram ainda mais da meta desde a reunião de junho. Por isso, o comitê reafirmou a necessidade de uma política monetária contracionista, com juros em um nível que não só facilite o processo de desinflação, mas também mantenha as expectativas ancoradas na meta.

Atualmente, a meta central de inflação do Banco Central é de 3% para 2024, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O mercado projeta que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerrará 2024 a 4,12%, conforme o Boletim Focus mais recente.

Apesar da desaceleração inflacionária observada, o Copom destacou que esse processo tem perdido força. O comitê menciona o mercado de trabalho e a atividade econômica doméstica como fatores que têm superado as expectativas. “O dinamismo de indicadores de mais alta frequência, como de comércio e serviços, reforça o diagnóstico de resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo”, diz a ata.

No cenário externo, o Copom observa que a incerteza sobre os efeitos da flexibilização monetária nos Estados Unidos permanece alta. A falta de sincronia nos ciclos de queda dos juros em países avançados contribui para a volatilidade das variáveis de mercado.

Projeções futuras e riscos

As projeções de inflação do Copom indicam que a inflação fechará 2024 em 4,2% e cairá para 3,6% em 2025. Em um cenário alternativo, onde a Selic permanece constante, as projeções são de 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025.

A ata deu maior ênfase à questão fiscal em comparação ao documento de junho. O comitê monitora atentamente como os desenvolvimentos recentes da política fiscal afetam a política monetária e os ativos financeiros. Segundo o Copom, a percepção de aumento nos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente têm tido impactos significativos nos preços de ativos e nas expectativas.

Perspectivas de mercado

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, afirmou para a Folha que o texto da ata é mais severo do que o comunicado da semana anterior, sugerindo que a situação piorou e que o comitê reagirá se variáveis como o câmbio e as expectativas de inflação não melhorarem. Volpon questiona se o mercado acreditará na “quase promessa” do Banco Central de que pode aumentar os juros.

Para Rafael Vitória, economista-chefe do banco Inter, a análise do cenário fiscal na ata foi particularmente pessimista. “O cenário de política fiscal expansionista e a falta de credibilidade no ajuste dificultam o trabalho da política monetária para trazer a inflação para o centro da meta, resultando em juros maiores por mais tempo”, diz.

O Copom identificou vários riscos de alta para a inflação, incluindo a desancoragem das expectativas inflacionárias e a resiliência da inflação de serviços. Entre os riscos de baixa, destacou uma desaceleração econômica global mais acentuada do que a projetada e impactos mais fortes do aperto monetário sobre a desinflação global.

(*) Crédito da capa: Folhapress

(**) Crédito da foto: Pixabay