Carioca, autora e bióloga marinha, Monica Borobia é uma amante da corrida e não deixa de se exercitar nas horas vagas. Sua paixão pelo mar foi um dos grandes motivadores de sua formação acadêmica. Eclética, a diretora de Meio Ambiente da Associação de Hotéis Roteiros de Charme se encantou por ritmos étnicos após anos morando fora do Brasil, em países do Caribe, África, Europa e no Canadá.

Formada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Monica ainda conta com uma pós-graduação em Gestão de Recursos Renováveis e Oceanografia no Canadá. Com mais de 35 anos de carreira, ela trabalhou em tempo integral entre 1992-2001 para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em diferentes países e cargos em programas marinhos e costeiros no Quênia, Jamaica e Holanda, e seguiu como consultora para vários organismos da ONU, especialmente no Caribe.

Sua carreira contempla gerenciamento de projetos, programas de pesquisa, e desenvolvimento de políticas e estratégias para a conservação da biodiversidade. Com ampla experiência na condução de estudos e projetos multidisciplinares, avaliação de impactos ambientais e sociais, Monica também orientou o desenvolvimento de planos de ação de conservação e manejo de mamíferos marinhos, especialmente no Caribe e Pacífico Sul, além de pesquisa sobre golfinhos e peixe-boi marinho no Brasil.

A diretora ainda organizou e presidiu conferências, workshops e cursos de formação, e supervisionou coordenação de equipes, comissões e grupos de trabalho. Monica é fluente em inglês, francês e espanhol e acredita que o fato de falar essas línguas abriram muitas portas em sua carreira.

A executiva é responsável pela implementação do Código de Conduta Ambiental e Programa de Sustentabilidade da Roteiros de Charme, desenvolvido em parceria com o Programa de Turismo das Nações Unidas. Ela também faz parte da diretoria da Monitor Caribbean, uma organização não governamental americana dedicada à conservação dos recursos marinhos no Caribe.

Três perguntas para: Monica Borobia

Hotelier News: A sustentabilidade faz parte do DNA da Roteiros de Charme desde sua fundação. Quais são os critérios neste sentido para adicionar uma nova propriedade ao portfólio?

Monica Borobia: Atualmente, a Roteiros de Charme congrega mais de 60 hotéis em 17 estados brasileiros. Além de serem pequenos e médios empreendimentos independentes com localização e serviços diferenciados, as propriedades têm em comum o compromisso com práticas socialmente responsáveis e a valorização da cultura local. A Associação Roteiros de Charme, desde sua fundação, constrói seu portfólio com hotéis comprometidos em conduzir operações que respeitem o meio ambiente e adotem medidas que reduzam o impacto ambiental na área onde estão inseridas, que sejam engajados socialmente, seja em projetos próprios ou em apoio a iniciativas que valorizem o turismo ou a comunidade em seu entorno, e que adotem boas práticas de governança. Buscamos hotéis independentes, onde o hóspede muitas vezes é recebido pelo dono, com a possibilidade de customizar a experiência. Em geral, estão inseridos fora dos grandes centros urbanos, cercados e valorizados pelo verde que integra a propriedade. Estes critérios compõem nosso Código de Ética e Conduta Ambiental, desenvolvido em colaboração com a ONU.

HN: De que forma a Roteiros de Charme busca incentivar a inovação e a expansão de práticas ESG em suas propriedades, uma vez que este é um segmento em constante evolução?

MB: Por meio de parcerias e sistemas de cooperação, a associação busca disseminar práticas de governabilidade sólida, capazes de direcionar o desenvolvimento do destino turístico como um todo, com sustentabilidade social, ambiental, econômica, e climática, alcançando o conjunto das partes interessadas em suas áreas de atuação. A Roteiros de Charme incentiva seus integrantes a caminharem constantemente no caminho do ESG e expandir seus compromissos com a agenda socioambiental por meio da implementação de boas práticas e construindo parcerias estratégicas como a que temos com a ONU, que chancela nosso Código de Ética e Conduta Ambiental.

Este mês, por exemplo, em nossa participação no evento One Planet Network Forum, que aconteceu no Museu do Amanhã e onde fui painelista de uma mesa redonda sobre turismo, formalizamos nossa intenção em ser a primeira associação de hotéis brasileira a se tornar signatária da Declaração de Glasgow, iniciativa da Organização Mundial do Turismo que busca acelerar a participação do turismo no combate à crise climática. Ao se tornar signatária da Declaração de Glasgow, a Roteiro de Charme se compromete em aplicar e disseminar boas práticas e motivar hotéis e viajantes a abraçarem a causa, rumo ao objetivo de reduzir pelo menos 50% das emissões de gases com efeito estufa até 2030 e conquistar a marca de zero emissões de carbono até 2050.

Em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e seu programa de turismo sediado em Paris, como organização signatária da iniciativa global de turismo sobre o consumo de plástico, a Associação se comprometeu a reduzir o uso de plástico em seus hotéis associados, uma iniciativa que reflete sua liderança no setor de hospitalidade sustentável. Recentemente, a Roteiros de Charme estabeleceu parcerias estratégicas com empresas que fornecem água em caixas e garrafas de vidro, buscando diminuir o consumo de garrafas PET em suas operações. Além disso, em parceria com o grupo Simbiose e Nai S/A, a entidade abraçou uma nova fase no seu programa de sustentabilidade com a implantação da gestão de ESG em seus associados.

HN: O Brasil tem a capacidade de se tornar uma grande potência sustentável, mas ainda está aquém de alcançar esse status. Como você acredita que o turismo consciente pode elevar o posicionamento do país dentro da agenda ESG? Quais são as prioridades do setor?

MB: O turismo consciente é uma ferramenta poderosa para ajudar o Brasil a se destacar na agenda ESG. O país possui uma biodiversidade ímpar e importantes ecossistemas, como a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica, que podem servir de base para o fomento do desenvolvimento de um turismo sustentável, dentro de um marco político, legal, socioambiental e de planejamento/ordenamento estratégico adequado a cultura, comunidades e destinos.

A pauta climática é prioritária para o turismo e iniciativas como a da Roteiros de Charme são fundamentais para sensibilizar empresários e viajantes da importância deste tema. É importante empoderar as comunidades locais, investir em infraestrutura verde e principalmente disseminar a educação ambiental. Devemos destacar também a relevância do poder público conduzir e apoiar logísticas, bem como políticas e incentivos para o consumo/produção consciente, descarte adequado e reciclagem de resíduos, uma área em que ainda precisamos avançar, por exemplo. Acredito que o turismo consciente pode aumentar o valor agregado do Brasil no mercado global ao mostrar que o país está comprometido com a preservação de suas riquezas naturais e sociais, destacando-se como um destino alinhado com os princípios de sustentabilidade e responsabilidade social.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Roteiros de Charme