Essa sigla remete às diretrizes de responsabilidade ambiental, responsabilidade social e governança corporativa e traz uma nova perspectiva para os negócios e gestão da hotelaria no Brasil. As diretrizes não são novidade, pois foram trazidas pelas Nações Unidas no início dos anos dois mil, como um chamamento para o mercado financeiro se comprometer com as dimensões ambiental, social e de governança dos negócios investidos. É certo que isso demorou para chegar à realidade das empresas, tendo aterrissado nas mesas de grandes lideranças globais por volta de 2020, quando Larry Fink liderou o movimento em prol as diretrizes ESG no mercado de capital.

Obviamente, ESG chega como uma pauta nada consensual entre muitos empresários, que veem essas diretrizes muito mais como custo, do que como oportunidade para os negócios. Esse paradigma tem espaço na mente de quem considera que, o modo que os negócios estão sendo feitos é suficiente para perpetuar suas marcas organizacionais e seus lucros por muito tempo.

Por sorte, isso não tem paralisado lideranças que acreditam que é preciso fazer mais e com responsabilidade para se sustentar no mercado. Essas lideranças tomam as diretrizes ESG como grandes aliadas para as estratégias de negócios e têm inserido às mesmas em suas operações, tanto junto ao seu público interno e externo e, com isso, adicionando valor reputacional e resultados financeiros em suas empresas.

É certo que o caminho ainda é longo e não é muito diverso para quem quer integrar ESG no cerne de seus negócios. O primeiro passo nesse caminho é a necessidade da mudança de mentalidade da própria liderança, pois muitos consideram que “para que gastar com ESG se está dando certo” e que “time que está ganhando, não se mexe”. Essa mentalidade obsoleta, estagnada no século XX, fecha os olhos para o novo mundo que se apresenta nessa segunda década do XXI.

Portanto, liderar nos novos tempos exige uma postura inovadora e arrojada para desbravar as novas demandas dos novos tempos e sujeitos que dele fazem parte. É preciso coragem e ousadia para fazer as integrações e articulações necessárias para adaptá-las no contexto dos negócios. Fácil não é, mas é possível!

No caso da hotelaria, temos os efeitos colaterais deixados pelo período pandêmico que, em grande medida, impactou a sustentabilidade dos negócios e os investimentos no setor. No entanto, alguns líderes não se deixaram imobilizar por isso e conseguiram trazer as diretrizes ESG para dentro de seus negócios e empreendimentos. O movimento deles se deu por diferentes razões, seja por fazerem parte de grande redes globais que já estavam inserindo e requerendo de todos os seus stakeholers a aplicação de ESG em seus negócios; seja por grupos de investidores que inseriram as diretrizes ESG como parâmetro de seus investimentos; sejam empreendimentos que passaram por retrofit e decidiram pivotar inserindo ESG em seus empreendedimentos; sejam interessados no tema e que partiram para começar a jornada, fazendo inovações incrementais em seus negócios e processos respeitando tempo e custos para isso.

Esses líderes contribuíram sobremaneira para a criação de um DNA de ESG para o setor hoteleiro, trazendo aí uma identidade diferenciada para cada estratégia ESG no Brasil e adaptando as mesmas às regiões e culturas onde estão inseridos.

Hoje, temos um cenário promissor nesse sentido, com bons exemplos de aplicação das diretrizes ESG na hotelaria e com maior letramento de quem participa dos negócios no setor, seja dos investidores, lideranças, colaboradores, fornecedores e os clientes. Não por acaso, isso se torna evidente nos eventos e iniciativas relacionadas ao tema e que contribuem para tracionar a agenda.

É evidente que ainda temos um bom caminho pela frente, visto que há diferentes níveis de maturidade em relação ao entendimento e aplicação das diretrizes na indústria hoteleira no Brasil. No entanto, como uma líder inovadora, sempre prefiro olhar o “copo mais cheio”, uma vez que agora, já temos muitos líderes que inspiram e trazem bons exemplos de negócios alinhados a ESG e os resultados advindos disso.

Vale destacar que, essa jornada está sendo muito bem acompanhada pelas associações e parceiros do setor. Um bom exemplo é a Hotelier News que, junto com parceiros Academia de Hotelaria, Koncept Life e Arbache Consulting, criaram o evento Hotel Trends ESG, que foi realizado no início do mês, em São Paulo.

O evento reuniu cerca de 180 lideranças e parceiros da indústria hoteleira para trazer à tona casos de sucesso de redes hoteleiras e resorts, bem como de soluções inovadoras capazes de abastecer as estratégias e operações do setor. Assim, o DNA do ESG na hotelaria brasileira está sendo construído, sendo ele diverso, adaptável, inovador e o mais importante: genuinamente brasileiro!


Ana Paula Arbache é premiada Global e Nacional 2023 do SDG Pioneer Global Compact UN. Pós-doutora e Doutora em Educação pela PUC-SP, bem como mestre em Educação pela UFRJ, é também certificada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Sócia Arbache Consulting, Ana Paula Arbache é ainda criadora Programa de Formação de Talentos em ESG para Hotelaria da Resorts Brasil e co-criadora do Hotel Trends ESG, organizado em parceria com o Hotelier News, além de conselheira do Hub ESG Alagev e presidente do conselho do Knowledge Hub.