Nos últimos anos, os olhares do mundo se voltaram para uma tecnologia que promete revolucionar a forma de trabalho. A IA (inteligência Artificial) vem sendo implementada em diferentes setores, com a promessa de facilitar o dia a dia a partir da automação de tarefas. Em eventos corporativos, a ferramenta já é uma realidade e tem potencial para elevar a experiência de convidados e visitantes.

Raffaele Cecere, CEO do Grupo R1, afirma que o hype da IA chegou com força no mercado hoteleiro. E a empresa vem desenvolvendo soluções neste sentido para modernizar sua entrega com empreendimentos parceiros. “No dia do evento em si, temos otimizado com a criação de avatares, por exemplo, para melhorarmos o uso de dados, que é a grande sacada para eventos. A IA não é a parte especial sem os dados”, explica o executivo.

Com 20 anos de mercado, o Grupo R1 coloca os dados como ponto de partida para uma boa utilização da tecnologia. “A partir da interação e da captação de informações em tempo real durante o evento, enquanto uma IA se comunica com o participante, essa dinâmica fará sentido. Mas, enfatizo, sem dados, a IA é inútil”, reforça Cecere.

Em um exemplo prático, o CEO da companhia explica que, ao utilizar um totem com um avatar de IA, é possível cadastrar todos os dados que determinada empresa possui. A partir dessa prática, se um participante desejar interagir e conhecer a marca, o atendimento é direcionado para um representante.

“O reconhecimento facial pode facilitar alguns processos dos eventos. Já no pré-evento, acredito que a IA também poderia auxiliar. Há muitas situações que são controvérsias devido à LGBD (Lei Geral de Proteção de Dados), visto que a coleção de dados precisa do aval dos clientes”, pontua Cecere.

O Grupo R1 implementou recentemente a Riya — ferramenta de IA voltada para a construção de orçamentos no site da empresa. A assistente virtual também sana dúvidas em relação a equipamentos, localidades, capilaridades etc.

“Acredito que a introdução de IA nesse tipo de tarefas corriqueiras é uma tendência, assim como os processos de RM. Os tótens de credenciamento poderão também facilitar no uso inteligente de dados”, acrescenta Cecere.

Raffaele Cecere

“Dados são ponto de partida”, diz Cecere

Personalização da experiência

Independentemente do segmento, a personalização se tornou uma necessidade como diferencial. E, com dados coletados, o processo fica ainda mais assertivo. No setor de eventos, seja na inscrição até a realização, a IA já se faz presente.

“No pré-evento, o processo de implementação é mais simples, visto que o convite está relacionado ao CRM. Durante o evento, o credenciamento pode ser facilitado. Além disso, o feedback simultâneo também facilita no processo.Para o pós-evento, o relacionamento automático pode impulsionar a prospecção de clientes”, avalia Cecere.

Mesmo com a introdução da tecnologia no setor, o CEO do Grupo R1 acredita que a indústria ainda está muito atrás de outros segmentos. Para ele, pensar em experiência está atrelado aos quatro sentidos humanos — fator que a IA (ainda) não pode substituir. Cecere também destaca o custo de implantação da solução. “É muito cara, então há um longo caminho a ser percorrido”, avalia.

Ferramenta que está engatinhando no segmento, os chatbots e assistentes virtuais podem ser facilmente encontrados tanto em eventos corporativos quanto nos próprios hotéis.

“O concierge do hotel, por exemplo, poderia ser impulsionado, visto que o novo público vem de uma geração que já entende sobre esse tipo de tecnologia. A implementação de assistente virtual, por exemplo, não é totalmente aderida nos hotéis, pois ainda é um tabu: toda tecnologia precisa se popularizar para funcionar, então, a depender da geração, há uma barreira”, pontua Cecere.

Fernando Guinato - três perguntas para

Guinato: investimento ainda é desafio

IA e hotelaria

Parte importante do faturamento de muitos hotéis, os eventos corporativos impulsionam demandas e alavancam receitas auxiliares. No Sheraton São Paulo WTC, um dos principais empreendimentos de perfil convention da capital paulista, a IA foi aderida de bom grado.

Fernando Guinato, diretor geral do hotel, ressalta que a pandemia foi um dos catalisadores para a mudança. “Antes, não havia a possibilidade de realizar eventos híbridos, mas o uso de plataformas como o Zoom e o Google Meet foram considerados nas operações de eventos”, diz.

O executivo, que também é diretor geral do WTC Events Center, afirma que algumas ferramentas de IA já eram utilizadas mesmo sem o mercado entender o que, de fato, essa tecnologia representa.

“Por exemplo, o uso de reconhecimento facial já é utilizado em alguns eventos. Acredito que o uso de IA também poderá ser uma tendência para elaboração de contratos, assim como a construção de layout de acordo com a planta disponível e os recursos necessários para atingir a eficácia dos eventos”, complementa Guinato.

No Sheraton, a tecnologia é utilizada para credenciamento de eventos. De acordo com o diretor, o empreendimento também está em fase de desenvolvimento de uma espécie de GPS, onde o participante terá acesso às informações principais na palma da mão. “No nosso complexo, que possui muitos espaços e uma geografia irregular, isso facilitará muito. Entre quatro e cinco meses teremos isso em operação”, adianta Guinato.

Entre outras aplicações, o diretor destaca a implantação da IA na área de vendas para alinhar o evento ao tamanho de sala ideal. “A partir do momento que você diz a necessidade e a sua disponibilidade, a prospecção será muito mais qualificada, ou seja, as probabilidades de se obter uma conversão a partir disso são bem maiores. Aqui, nós locamos espaços, sendo todos os outros serviços terceirizados”, explica.

Para Guinato, os principais desafios são escolher o parceiro certo para fornecer a IA, além, é claro, do investimento. “Escolher um pacote pronto não é o suficiente, é necessário personalização para ter um banco de dados amplo para atender às nossas demandas. Acredito que no ano que vem as empresas contemplarão em seus budgets o investimento em IA. De toda forma, é inevitável que tenhamos que implantar a tecnologia nas operações hoteleiras”.

(*) Crédito da capa: Unsplash

(**) Crédito das fotos: Divulgação