Às margens de uma das artérias viárias mais importantes de São Paulo, a Marginal Pinheiros, o headquarters da Accor nas Américas oferece aos visitantes uma das melhores vistas da cidade, com o Jockey Club de São Paulo a seus pés, o arborizado bairro do Morumbi à direita, além dos modernos espigões espelhados e a ponte estaiada ao fundo. Para quem chega pela primeira vez, o escritório chama atenção pelo design flexível, amplos espaços, estações de trabalho sem hierarquia e, claro, por aquele modelo que as big techs popularizaram: variada oferta de alimentação e mesas de sinuca ou pingue-pongue para a turma se distrair um pouco.
Foi em meio a esse ambiente que a reportagem do Hotelier News foi conhecer pessoalmente Damien Perrot, Global Chief Design, Technical Services & Innovation Officer da Accor para as marcas Premium, Midscale & Economy. Baseado em Paris, o executivo francês lidera um time superior a 100 pessoas em diferentes partes do globo que pensa e executa a estratégia de design e de arquitetura de bandeiras como ibis, Novotel, JO&JOE, Grand Mercure e Tribe, entre outras.
Do lobby aos quartos, dos móveis às cores da parede, sua visão está aqui e ali por meio dos guidelines criados por ele e sua equipe. Ou seja, mesmo que indiretamente, é possível dizer que Perrot é, de fato, a cara da empresa. Esqueçam Sébastien Bazin ou Thomas Dubaere, que só eu e você que atuamos nessa indústria sabemos quem são. Acredite, a primeira pessoa que o olhar do hóspede cruza nas unidades da gigante francesa é o de Perrot. E a primeira impressão sempre é a que fica, não é verdade?

“No passado, tinha-se a imagem que o hotel era um local destinado aos hóspedes. Essa visão mudou, o viajante quer viver uma experiência local. Procuramos projetar propriedades abertas a todos, pois assim nosso cliente pode experimentar e ver como um local vive aquela cidade. A questão é mesmo conectar pessoas, mesmo que seja por poucas horas. É isso que cria memórias”, disse o executivo da Accor.
“Então, tentamos reproduzir isso nos nossos hotéis e, ao abri-los à comunidade ao redor, conseguimos levar essa maneira de viver aos nossos hóspedes. Não existem fronteiras para a criatividade e os guidelines de design das marcas não levam em conta apenas o que o headquarters de Paris pensa. É um padrão sempre conectado a algo muito mais importante que só a experiência local pode oferecer”, complementa.
Conceito e tendências
Perrot tem 27 anos dedicados à Accor e, como ele mesmo mencionou, viu muita coisa mudar no design e na arquitetura da hotelaria desde o seu primeiro dia de trabalho na empresa. Agora, será que o hotel do futuro que ele imaginou há quase 30 anos é muito diferente das tendências atuais? Mais ainda, a transformação que ele vislumbrou lá atrás se confirmou?
“A principal mudança nos projetos é que os hotéis tornaram-se espaços que respondem não só às necessidades dos hóspedes, mas também a de moradores da vizinhança”, diz. “Acho que essa transformação vai se acelerar nos próximos anos e, em um futuro próximo, muita gente vai morar em hotéis. E quando falo isso, refiro-me à extended stay, coliving, branded residences… Ou seja, a hospitalidade será uma perfeita solução para se viver”, acrescenta.
E a tecnologia? Onde entra nessa visão de hotel do futuro? Para Perrot, há muitos avanços em curso, mas, novamente, há uma questão conceitual importante a se destacar. “Lançamos um quarto conceito há alguns anos. Naquele momento, pensávamos que a tecnologia seria apenas um meio para melhorar a experiência do cliente. Hoje, entendemos que ela nos ajuda a suportar nossas maiores ambições: melhorar a qualidade da hospedagem do cliente e o trabalho dos nossos colaboradores, bem como evoluir a performance dos hotéis e elevar retorno aos investidores”, afirma.

Da retórica para a prática, o executivo francês elencou caminhos nessas diferentes frentes e ambições. “Com a a IA (Inteligência Artificial), caminharemos para personalizar a experiência do cliente dentro do quarto, ajustando a altura da cama e o nível de iluminação para sua preferência. E isso já é realidade”, comenta o executivo da Accor.
Por outro lado, ele conta que termostatos inteligentes ajudam na economia de energia, trazendo mais eficiência e contribuindo para a melhora das margens. “Sabe quanto significa de economia um grau de temperatura no consumo de energia? Mais ou menos 7% durante o verão, como mostram nossos estudos. É significativo”, revela.
Projetos
Tal qual as demais grandes redes internacionais, a Accor é uma gigante asset light, sem ser dona dos ativos imobiliários que administra ou para os quais concede sua marca no modelo de franquia. Então, projetos de reforma, conversão e de construção dos empreendimentos demandam sempre negociações e conversas com os proprietários. Obviamente, padrões de marca precisam ser seguidos, e os guidelines de cada uma delas criados por Perrot e sua equipe estão lá para isso, mas é impossível imaginar que esse processo ocorra sempre de maneira suave e sem conflitos.
Diante disso, fica a questão: até onde uma rede como a Accor pode – ou deve – influenciar arquitetura, implantação e decisões de design? Onde termina a recomendação e começa a intervenção? Segundo Perrot, a resposta está na linha final, no resultado, porque a boa performance está conectada com o que as bandeiras entregam – e o design faz parte disso, não se resume a meros elementos estéticos periféricos.

“Um investidor decide trabalhar conosco porque propomos algumas respostas para o projeto, e isso tem relação com as marcas, a localização, o investimento e até mesmo a ambição dos proprietários”, diz o executivo.
“Então, se queremos que esses hotéis tenham boa performance, definitivamente isso passará pelo DNA e pela promessa dessas bandeiras, porque o resultado não virá com projetos muito diferentes dos nossos guidelines“, acrescenta.
“Agora, nunca é fácil convencer um investidor. No entanto, já entendi que tentar impor nossa visão sobre a dele nessas conversas nunca funciona, em vez de buscar compartilhar nossa expertise e mostrar como nossos conceitos de design entregam melhor performance para o ativo. Construímos uma ótima relação com os proprietários a partir desse approach. É tudo sobre relacionamento no fim da linha”, continua.
Em um setor feito por e para pessoas, construir relacionamentos sólidos faz sentido, certo? A resposta parece mesmo estar aí.
(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News
(**) Crédito das fotos: Divulgação/Accor

















