CNC - a nova década perdida_internaOs anos 1980 foram complexos: à época, linha telefônica era um bem valioso

Os anos 1980, quando a hiperinflação impedia o país de crescer, ficaram conhecidos como a década perdida. Para muitos, foram tempos de quase permanente crise econômica, muitos problemas e difícil de supor que poderia haver algo pior. Bem, estudo divulgado hoje (18) pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que há “rival” à altura.

Levantamento da entidade mostra que a recessão dos anos 2010 teve efeitos mais adversos do que da década de 1980. Para chegar à conclusão, a CNC comparou indicadores dos dois períodos, do PIB (Produto Interno Bruto) à taxa de desemprego. Mais ainda, nos dois casos houve recuperação lenta da economia, com reflexos no mercado de trabalho e na concentração de renda.

"Ambas as décadas tiveram impacto contundente nas empresas e trabalhadores, como o aumento do desemprego e a ampliação da má distribuição e concentração de riqueza, ocasionando uma piora significativa nas condições de vida dos brasileiros", afirma José Roberto Tadros, eleito presidente da CNC em 2018.

Em relação ao PIB, por exemplo, o Brasil cresceu a uma média anual de 2,9% no intervalo de 10 anos, iniciados em 1980. Trinta anos depois, a alta média do indicador na década de 2010 foi menos da metade (1,3%).

CNC: mais comparações 

Se o PIB de 2019 aumentar acima de 1%, como prevê analistas do mercado financeiro, a economia brasileira terá baixo crescimento médio anual na década. Com isso, continua retardando as chances de absorver o contingente de desempregados.

"O cenário é bem diferente dos anos 1980, quando, mesmo com as recessões de 1981 e 1983, verificou-se forte capacidade de recuperação”, pondera Antonio Everton, economista da CNC. Para ele, o ritmo de expansão na segunda metade da década de 1980 evidencia essa análise. 

Nos anos 1980, a crise encolheu também a produção brasileira, que recuou 7,2%. Na década de 2010, a contração foi ligeiramente menor (6,9%), mas a economia não conseguiu encontrar condições suficientes para voltar a crescer a partir de 2017. 

Segundo Everton, o crescimento médio de 2017 a 2019 pode ter ficado em 1,2%, caso confirmem-se as projeções do PIB para 2019. "Na década de 1980, de 1984 até 1989, depois das recessões, a economia cresceu aproximadamente 30%", finaliza.

(*) Crédito das fotos: Arquivo Globo Memória