ABIH-Nacional- levantamentoEmpreendimentos sofrem com a falta de acesso ao crédito e auxílio estadual e municipal

Enquanto redes hoteleiras iniciam suas reaberturas de forma gradual, os hotéis independentes seguem em um cenário bem diferente. Sem o respaldo financeiro de grandes marcas e na luta por acesso às linhas de crédito anunciadas pelo governo, o segmento ainda está com 95% de seus empreendimentos fechados, segundo levantamento realizado pela ABIH-Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis).

Buscando traçar um panorama da situação da hotelaria independente, a entidade promoveu uma pesquisa entre os dias 10 e 16 de junho. O estudo reuniu informações de hotéis de Norte a Sul do país, que apontam a falta de apoio municipal e estadual, com índices de ocupação beirando a 0%. Em todas as regiões, as principais reclamações foram a necessidade de liberação de crédito, modernização da legislação e melhoria de infraestrutura de acesso, com previsão de retomada das atividades entre julho e setembro.

Ontem (16), o Senado aprovou a prorrogação da MP 936, que segue para sanção presidencial. A medida suspende o contrato de trabalho e reduz os salários e jornadas, um respiro a mais para o setor.  “A Medidas Provisórias assinada pelo presidente Jair Bolsonaro trouxe um alívio para a hotelaria, mas os hoteleiros, na sua maioria absoluta, ainda não conseguiram que os bancos liberem créditos, mesmo para aqueles que não têm problemas cadastrais. Precisamos de uma força tarefa administrativa e legislativa para não só sairmos dessa crise, mas para sobrevivermos a ela, já que um hotel para atingir o ponto de equilíbrio precisa funcionar com 40% a 50% de ocupação”, afirma Manoel Linhares, presidente da ABIH-Nacional.

ABIH-Nacional: cenário regional

No Nordeste, uma das regiões mais procuradas pelo turismo, deve ter sua retomada impulsionada pela reabertura de grandes grupos hoteleiros e atrações turísticas. Na Bahia, 95% dos hotéis estão com operações suspensas. No Ceará, os meses de julho e agosto devem marcar o início da recuperação, principalmente na capital, Fortaleza.

Pernambuco está com 80% de sua cadeia com operações suspensas até o momento. Apenas Recife mantém metade dos hotéis funcionando, principalmente para atender profissionais de saúde e tripulantes de companhias aéreas. No Maranhão, a capital São Luís, polo turístico do estado, está com diversos problemas de acesso com estradas em péssimas condições.

Os índices do Alagoas são semelhantes a outros estados nordestinos, com cerca de 5% de seus hotéis abertos. Na Paraíba, a retomada gradativa começou no dia 15, porém a maioria dos hoteleiros permaneceram com as atividades suspensas. No Rio Grande do Norte, 17% dos hotéis estão abertos e em Sergipe, os empreendimentos estão com ocupações próximas a zero desde março.

Sul

Destinos gaúchos como Gramado, Bento Gonçalves e Canela já estão reabrindo seus hotéis. Entretanto, a média do estado é de 5% do total em funcionamento, muitos deles atendendo profissionais de saúde. A expectativa é que 50% dos estabelecimentos estejam funcionando até o final de junho. 

Em Santa Catarina, a previsão é que três em cada quatro hotéis reiniciem suas operações até julho. No Paraná, 50% dos meios de hospedagem permanecem abertos em Curitiba. Entre aqueles que paralizaram as operações, 60% não têm previsão de reabrirem, em torno de 25% devem retomar as atividades somente em junho e o restante em julho.

Centro-Oeste

Em Brasília, a maioria dos hotéis estão fechados por falta de demanda. Em Goiás, 95% dos meios de hospedagens também seguem paralisados há mais de 70 dias. No Mato Grosso, o interior vem apontando melhores índices que a capital, impulsionado pelo agronegócio. 

Para o presidente da ABIH Tocantins, Marcelo Constantino, o turismo no estado sentiu os impactos da pandemia como todos os outros destinos, mas por ser muito procurado pelo turismo de natureza, que não traz grande aglomeração de pessoas, pode ter uma retomada mais rápida. “Estamos praticamente paralisados, com nível de ocupação muito baixo, com muitos hotéis fechados. A tendência é a retomada primeiro do turismo interno e em regiões como o Jalapão, Cantão e Serras Gerais que já propiciam um isolamento natural”, afirmou.

Sudeste

Na região Sudeste, a retomada deve ser gradual. No Rio de Janeiro, as taxas de ocupação estão em torno de 5% e a maioria dos hotéis de cidades turísticas do interior estão fechados, totalizando 90 em todo o estado. No Espírito Santo, 1.500 empreendimentos, cerca de metade deles se mantiveram fechados em março e abril. Atualmente, 30% ainda não retomaram as atividades. 

Em Minas Gerais, segundo o presidente da ABIH-MG, Guilherme Sanson, os hotéis estão com ocupação muito baixa, em torno de 8%, e há muitos fechados na Região Metropolitana. “Não há proibição para o funcionamento dos hotéis no Estado, mas não existe demanda para justificar a abertura. Com a volta mais efetiva do comércio, devemos ter mais procura, mas tudo isso será muito lento se o setor não receber apoios e incentivos dos governos municipais e estaduais ”, explicou.

Norte

No Norte, hoteleiros buscam apoio das autoridades municipais e estaduais e destacam a necessidade de retomada da malha aérea. No Amazonas, o impacto foi imenso, segundo Roberto Bubol, presidente da ABIH-AM. “Temos cerca de 13 mil leitos cadastrados pela ABIH e estão sendo usados apenas cerca de 600 deles. O setor de eventos está parado. Se não houver algum tipo de incentivo, as demissões aumentarão. O acesso à região complica ainda mais a situação. Houve diminuição de voos e mesmo através dos rios, transporte típico da região, as viagens estão praticamente paralisadas”, comentou.

Entre os hoteleiros do Pará não há grandes expectativas para a retomada nos próximos dois meses. Roraima também vem sofrendo com a diminuição de cerca de 80% de voos para a capital Boa Vista. No Acre, o panorama é semelhante, segundo o presidente da ABIH-AC, Carlos Alberto Simão. Ele destaca que apesar de solicitado, as prefeituras e o governo estadual não estão dando nenhum incentivo ou abatimento nos impostos nesse período.

Finalizando o levantamento, Rondônia não houve obrigatoriedade de fechamento para os hotéis, mas o movimento tem sido muito baixo, segundo o presidente da ABIH-RO, Alberto Ivair Rogoski Horny “Em Porto Velho desde o início da pandemia, o movimento caiu 90% e alguns hotéis – entre 30 e 40% – fecharam. A expectativa, principalmente na capital, é que a partir de julho possamos começar a retomar a normalidade”, declarou.

(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian/Hotelier News