Hoteleiros - dinheiro novoSegundo o governo federal, R$ 44 bilhões serão liberados aos trabalhadores

A economia custa a andar, mas o governo Jair Bolsonaro vem tentando acelerar esse passo. Ontem (16), a administração federal confirmou que, nos próximos dias, anunciará regras para a liberação do dinheiro das contas ativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). A medida, similar à implementada por Michel Temer em 2017, visa estimular a economia. A expectativa é que a iniciativa libere R$ 42 bilhões para os trabalhadores. 

Há dois anos, cerca de R$ 44 bilhões foram liberados para os trabalhadores. Estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) aponta que os saques nas contas inativas do FGTS (veja como saber seu saldo) injetaram R$ 10,8 bilhões somente no varejo. Embora a conta da entidade não inclua o turismo, Mariane Hanson, economista da confederação, acha bastante razoável que parte desses recursos tenha sido direcionada para viagens.

“E certamente isso pode ocorrer novamente”, avalia Mariane. Ela reconhece, contudo, que normalmente o brasileiro utiliza a renda extra para quitar dívidas. “É preciso saber como serão as regras dos saques. Acredito que o impacto será pequeno no setor de viagens, mas ele vai acontecer. Em 2017, estudos apontaram que o consumidor destinou um quarto dos recursos para consumo, o que inclui viagens”, acrescenta a economista.

Em evento na capital argentina, ontem, Paulo Guedes, ministro da Economia, disse que a tendência é que até 35% do saldo das contas ativas do FGTS sejam liberadas. Ele acrescentou também que os recursos do FGTS poderão ser sacados no mês de aniversário dos que tiverem o benefício disponível. Além disso, outros R$ 21 bilhões em recursos adicionais via Pis/Pasep também devem estar à disposição dos trabalhadores.

Mariane aponta os segmentos ligados à renda, como vestuário e alimentação, entre os que mais devem se beneficiar. Ainda assim, ela faz um alerta. “Medidas como essa têm efeito direto, como maior consumo, e indireto, que é a maior confiança do consumidor, já que melhora o perfil da dívida. Além disso, em geral, brasileiro não tem cultura de poupança e tende a trocar uma débito por outra”, afirma.

Hoteleiros - turismo rodoviárioNo setor de viagens, turismo rodoviário deve ser mais beneficiado

Hotelaria e turismo rodoviário

Com o câmbio desfavorável e o crescimento recente nos preços das tarifas aéreas em função da crise da Avianca, a medida deve favorecer o turismo rodoviário. “É mais provável que as famílias aproveitem parte dessa renda para uma viagem mais curta, de carro ou de ônibus, a poucas horas da sua cidade”, Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo). Para ela, assim como para a economista da CNC, o impacto tende a ser pequeno no turismo, mas não pode ser desprezado.

“Turismo de lazer é um gasto supérfluo nos gastos das famílias, que estão endividadas. Ainda assim, para aumentar receita, o hoteleiro deve monitorar todos os tipos de sinais”, recomenda. “O uso dessa inteligência de mercado pode se revelar uma estratégia saudável para os hotéis. Inclua benefícios extras, flexibilize a tarifa e melhore as condições de pagamento, porque brasileiro ama promoções”, completa.

Projetando 2020, Mariana faz um alerta aos hoteleiros. “Como se trata de uma medida não-estrutural e pontual, o turismo não deve se animar muito”, avalia. “Se, até outubro, com a primeira parcela do 13º em mãos, a economia continuar em ritmo lento, é bem possível que os brasileiros ajustem suas vidas para 2020, o que inclui da escola das crianças às viagens familiares. Vale lembrar que o desemprego ainda continua elevado”, finaliza. 

(*) Crédito da capa: joelfotos/Pixabay

(**) Crédito da foto: MichaelGaida/Pixabay